"Olhando para os seus discípulos, ele disse: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”. (Lc 6, 20)
Abaixo, uma excelente reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lucas 6,17. 20-26 (As bem-aventuranças). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
12 Fevereiro 2025
LEVANDO OS POBRES A SÉRIO
Habituados a ouvir as "bem-aventuranças" tal como aparecem no Evangelho de Mateus, é difícil para os cristãos dos países ricos, ler o texto que Lucas nos oferece. Aparentemente, este evangelista – e não poucos dos seus leitores – pertenciam a uma classe abastada. Contudo, longe de suavizar a mensagem de Jesus, Lucas apresenta-a de uma forma mais provocadora.
Juntamente com as “bem-aventuranças” para os pobres, o evangelista recorda as “desventuras” para os ricos: “Bem-aventurados os pobres... vós que agora tendes fome... vós que agora chorais”. Mas, "ai de vós, que sois ricos... vós que agora estais satisfeitos... vós que agora estais a rir." O Evangelho não pode ser ouvido da mesma forma por todos. Enquanto para os pobres é uma Boa Nova que os convida à esperança, para os ricos é uma ameaça que os chama à conversão. Como podemos ouvir esta mensagem nas nossas comunidades cristãs?
Em primeiro lugar, Jesus coloca-nos perante a realidade mais dolorosa do mundo, aquela que mais o faz sofrer, aquela que mais toca o coração de Deus, aquela que está mais presente diante dos seus olhos. Uma realidade que nós, e principalmente nos países ricos, tentamos ignorar, encobrindo de mil maneiras as mais cruéis injustiças, de que somos em grande parte cúmplices.
Queremos continuar a alimentar o autoengano ou abrir os olhos para a realidade dos pobres? Será que temos mesmo vontade? Será que algum dia levaremos a sério a grande maioria dos que vivem subnutridos e sem dignidade, os que não têm voz nem poder, os que não contam na nossa marcha para o bem-estar?
Nós, cristãos, ainda não descobrimos a importância que os pobres podem ter na história do cristianismo. Dão-nos mais luz do que ninguém para nos vermos na nossa própria verdade, abalam a nossa consciência e convidam-nos à conversão. Podem ajudar-nos a moldar a Igreja do futuro de uma forma mais evangélica. Podem tornar-nos mais humanos: mais capazes de austeridade, solidariedade e generosidade.
A diferença entre ricos e pobres continua a crescer implacavelmente. No futuro será cada vez mais difícil apresentarmo-nos ao mundo como a Igreja de Jesus e ignorar os mais fracos e indefesos da Terra. Ou levamos os pobres a sério ou esquecemos o Evangelho. Nos países ricos será cada vez mais difícil ouvirmos o aviso de Jesus: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro". Isso tornar-se-á insuportável para nós.
6 Tempo normal – C
(Lucas 6,17.20-26)
16 de fevereiro
José António Pagola
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Fonte: Facebook
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