“Pessoas virão do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e ocuparão os seus lugares à mesa no Reino de Deus. De fato, há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos". (Lc 13, 29-30)
Hoje temos uma boa reflexão, baseada no texto bíblico Lucas 13,22-30 (Para Deus a religião não é o mais importante). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Muito bom!
WCejnóg
Por José António Pagola
20 de agosto de 2025
QUE TOLERÂNCIA?
A tolerância ocupa hoje um lugar de destaque entre as virtudes mais valorizadas no Ocidente. Todas as sondagens o confirmam. Ser tolerante é um valor social cada vez mais generalizado nos dias de hoje. As gerações mais jovens não podem tolerar mais a intolerância ou o desrespeito pelo próximo.
Devemos celebrar este novo clima social após séculos de intolerância e violência, muitas vezes perpetradas em nome da religião ou do dogma. Como estremece hoje a nossa consciência ao ler obras como o excelente romance "O Herege", de Miguel Delibes, e que alegria experimentam os nossos corações com o seu apaixonado hino à tolerância e à liberdade de pensamento.
Tudo isto não nos impede de criticar um tipo de "tolerância" que, mais do que uma virtude ou um ideal humano, é um desinteresse pelos valores e uma indiferença pelo sentido de qualquer projecto humano: cada um pode pensar o que quiser e fazer o que quiser, pois pouco importa o que uma pessoa faz com a sua vida. Esta "tolerância" surge quando faltam princípios claros para distinguir o bem do mal, ou quando as exigências morais são diluídas ou reduzidas ao mínimo.
A verdadeira tolerância não é "niilismo moral", nem cinismo ou indiferença pela actual erosão dos valores. É o respeito pela consciência alheia, a abertura a todos os valores humanos e o interesse por aquilo que torna os seres humanos mais dignos desse nome. A tolerância é um grande valor não porque não exista uma verdade objetiva ou moral, mas porque a melhor forma de a abordar é através do diálogo e da abertura mútua.
Quando isso não acontece, é logo desmascarada. A tolerância é presumida, mas são reproduzidas novas exclusões e discriminações; afirma-se o respeito por todos, mas aqueles que causam problemas são desqualificados e ridicularizados. Como explicar que, numa sociedade que se proclama tolerante, a xenofobia ressurja ou se fomente o escárnio religioso?
No cerne da verdadeira tolerância está o desejo de procurar sempre o melhor para a humanidade. Ser tolerante é dialogar, procurar em conjunto, construir um futuro melhor sem desconsiderar ou excluir ninguém, mas não é irresponsabilidade, abandono de valores ou negligência de exigências morais. O chamamento de Jesus para entrar pela "porta estreita" nada tem a ver com um rigorismo tenso e estéril. É um apelo a viver sem esquecer as exigências, por vezes urgentes, de qualquer vida digna de ser humano.
21º Tempo Comum – C
(Lucas 13,22-30)
24 de agosto
José António Pagola
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Fonte: Facebook
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