Hoje trago para o blog Ingagações-Zapytania
mais um artigo que fala da pessoa de Teilhard de Chardin e da importância de sua
obra. É de autoria de Luciano
Mazzoni Benoni – estudioso de antropologia religiosa, publicista e
escritor.
O texto foi publicado no
início deste mês (abril de 2015) na Itália, e, posteriormente, também no
site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Teilhard de Chardin
morreu há exatamente 60 anos atrás, em 1955. Portanto, esta não deixa de ser uma
justa homenagem a esse grande teólogo.
Realmente, vale a pena
ler!
WCejnóg
IHU
- NOTÍCIAS
Sexta, 10 de abril de
2015
Teilhard de Chardin, místico
da matéria
Inúmeras seriam as
razões para celebrar as intuições do jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, antecipador sobre
várias questões por ao menos uma geração: do nexo entre fé e ciência à possível
leitura cristã da evolução; da reconciliação entre Matéria e Espírito à reabilitação
do corpo e das suas dinâmicas.
A opinião é de Luciano
Mazzoni Benoni, vice-presidente da Associação Italiana Teilhard de
Chardin, animador das meditações cristocósmicas
(www.armoniecosmiche.it). O
artigo foi publicado no sítio da associação Viandanti, 07-04-2015.
A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto
Com este título ousado,
defendido por Dom Loris Capovilla (é
seu o posfácio, com uma relato inédito de um curioso encontro entre Leopold
Senghor e João XXIII), a editora Velar-LDC se atreveu a
publicar, em 2012 [1], o primeiro fascículo destinado ao povo dos fiéis, que,
em grande parte, nunca conheceu a obra de Pierre Teilhard de Chardin.
Justamente porque aquele que foi definido como o "jesuíta proibido"
não podia cruzar o limiar nem dos seminários muito menos dos fiéis leigos.
A damnatio
memoriae
Hoje, ainda, consuma-se
essa silenciosa remoção, como foi no passado com outros gigantes da fé, basta
pensar em Antonio Rosmini (por mais de um século) ou no mais
recente Óscar Romero (quase meio
século).
Contudo, desse modo,
poder-se-á tornar verdade a previsão do próprio padre Teilhard:
"Serei entendido quando for superado". Na verdade, é possível
entrever uma certa "analogia" entre a figura de Thomas Merton
(assinalada por Christian Albini no sítio Viandanti
no dia 31 de janeiro deste ano, no centenário do nascimento) e a de Teilhard
de Chardin, do qual se completa o 60º aniversário do seu nascimento no céu.
Era o dia de Páscoa,
quando, no domingo, 10 de abril de 1955, na sua última residência de exílio em Nova
York, parou o coração de Teilhard (cumprindo, assim, o
último dos seus desejos).
Sem forçações, parece
aplicável também ao jesuíta francês a conclusão daquela bela recordação:
"Homens como Thomas Merton estão fora dos
esquemas em que nos encalhamos, são os raros homens que encontraram e reabriram
o olho que os ciclopes perderam". Como não reconhecer, de fato, também ao
padre Teilhard, essas características de corajosa profecia e de
constante obra contracorrente?
Vanguarda da Igreja
Inúmeras seriam as
razões para celebrar a sua formidável intuição que, como reconheceu Henri
de Lubac, viu-o avançar como antecipador sobre várias questões por ao menos
uma geração. Os terremos que ele foi capaz de lavrar como vanguarda da Igreja
não são poucos: do nexo entre fé e ciência à possível leitura cristã da
evolução; da reconciliação entre Matéria e Espírito à reabilitação do corpo e
das suas dinâmicas; do encontro entre as religiões ao debate virtuoso Oriente-Ocidente;
da revisão da tradicional doutrina do pecado original à releitura do conceito
de castidade; da proposta pastoral de evangelização na modernidade à
recuperação da escatologia, não de acordo com uma chave de distorcida
"apocalíptica".
Todos temas que, depois,
viram se mover, com igual atraso, o Magistério da Igreja e a pesquisa
teológica: começando pela virada do Concílio Vaticano II, que,
especialmente na constituição pastoral Gaudium et spes, traz
o seu inconfundível eco (como amplamente reconhecido e atestado pelas atas dos
trabalhos conciliares).
Mas não façamos dele um
"fóssil": seria o pior serviço que prestaríamos justamente a ele que,
embora paleontólogo (e, portanto, explorador do passado distante), tornou-se
apaixonado estudioso do futuro, até ser reconhecido como consultor da Unesco justamente
nesse campo.
Impulsos de atualidade
Portanto, convirá, ao
contrário, percorrer brevemente em resenha quais são os impulsos de atualidade
do seu pensamento hoje, não por acaso expressados e/ou relançados por estudos
recém-publicados:
Em termos de ética
planetária: a urgência de dotar este mundo em conflito mundial de destinos
convergentes é mais do que nunca premente; durante a Expo de Milão (30
de maio), as perspectivas delineadas por Teilhard (a Noosfera)
e por Panikkar (a Ecosofia)
serão propostas conjuntamente para oferecer sólidas margens para aqueles que
pretendem trabalhar para recompor a humanidade no terceiro milênio.
No plano existencial: a
fratura provocada pelos dualismos do Ocidente (antigo e
moderno) não deixam de reconduzir as dinâmicas vitais ao coração, verdadeiro
centro da aventura humana – investigado por Teilhard dentro de
uma recompreensão unificada da dimensão corpórea e da centrologia cósmica: por
uma vida a gastar e viver em plenitude, aqui e agora.
No campo do debate,
sempre aberto, entre fé e ciência: comentando O futuro do homem de Pierre
Teilhard de Chardin, Roberto Guerra (Futurismo per
la nuova umanità. Dopo Marinetti, Ed. Armando, 2012) escreve: "Einstein já
sonhava com uma nova religiosidade cósmica, para além das ambiguidades literais
e históricas de todo Credo, certamente necessidade legítima de devoção, mas
depois da Ciência: mais recentemente, figuras como C. G. Jung, N.
Wiener (Dio & Golem...), E. Fromm, M.
McLuhan, J. Guitton, F. Capra, muitos cientistas e
os próprios físicos (em relação ao Big Bang, as perguntas
"metafísicas" parecem "fatais"), na Itália, o
próprio A. Zichichi, até mesmo teólogos, assinalam perspectivas de
reflexão (senão, talvez, até de insuspeitas explorações científicas) no sentido
de uma possível metassíntese entre Ciência e Deus (...)
Para a atual geração da
internet e na era da informática, talvez a figura histórica mais célebre – em
debates em curso constantemente – seja precisamente o filósofo paleontólogo
jesuíta Pierre Teilhard de Chardin, considerado praticamente um
precursor, até mesmo desconcertante, da Rede. A chamada Netsfera é
muitas vezes comparada à Noosfera prevista pelo grande cientista místico. E
especificamente: paradoxalmente, no século XX, o mais genial voo poético no
futuro, síntese extraordinária entre a tradição cristã e o futurismo
modernista, talvez tenha o nome do padre Pierre Teilhard de Chardin, cientista e
jesuíta (...)
As mais recentes
descobertas científicas (sobretudo em física e matemática, mas também na
genética e na tecnologia, além das viagens espaciais e da internet (...) a Rede
por ele adivinhada como Noosfera) evidenciam atualmente as intuições sensacionais
de Teilhard, quase como – também – uma espécie de obras-primas da arte sacra
renascentista ou tardo-medieval em versão científica ou computadorizada! (...)
Em suma, a obra de Teilhard parece ser maravilhosa no seu impulso futurista de
longo prazo, também pela sua formação aparentemente conservadora, religiosa:
Teilhard praticamente traduziu em chave científica – em nome de Jesus e,
portanto, do Ocidente – o celebérrimo poema místico-cósmico do Cântico
dos Cânticos"!
No plano espiritual: por
uma percepção da plenitude da vida cósmica, como ambiente da Encarnação, na
companhia do "Cristo evoluidor e interveniente [evolutore e veniente]"
(Ilia Delio, Il Cristo emergente: il senso cattolico di un
universo in continua evoluzione, Ed. San Paolo 2014).
No plano eclesial, por
fim: por uma nova compreensão da comunhão como dinâmica de energias
convergentes (finalmente inclusiva das femininas), para além das fronteiras
visíveis da Igreja, eixo central da evolução.
* * *
Não é por acaso,
portanto, que, no Sínodo sobre a nova evangelização, um bispo austríaco
repropôs as suas intuições pastorais (datadas de 1919) como maduras para hoje;
ou que inúmeros teólogos sul-americanos (começando por Leonardo Boff), abrindo
o tema da libertação ao horizonte ecológico, sejam levados a uma nova narrativa
cosmológica que retoma dele a inspiração cosmocêntrica; ou ainda que, cada vez
mais frequentemente, vemos cientistas da "nova física" – embora como
"não crentes" – cruzarem com as suas ousadas pesquisas.
Talvez seja um sinal
que, justamente nestes dias, foi publicado um livro (Antonio Galati, Teilhard
de Chardin, La chiesa nell’evoluzione dell’Universo, Ed. Paoline 2015) que
relê a vida da Igreja a partir da sua cosmovisão evolutiva: acontecimento já
previsto pelo teólogo Joseph Ratzinger. Uma boa oportunidade para
reabrir as páginas e obter delas novas sugestões...
Nota:
Fonte: IHU - Notícias