“Ao falar da ressurreição falamos
de um fato transcendente. E o transcendente, por sua própria definição, é real
(para quem crê na transcendência), mas não é, nem pode ser, histórico. Já sei
que tudo isso é uma reflexão elementar. Mas também é verdade que só quando
temos claro o elementar, poderemos falar sobre as outras coisas. Neste caso, da
ressurreição de Jesus, o Senhor.”
(José María Castillo)
(José María Castillo)
Abaixo,
um artigo muito interessante e esclarecedor do teólogo espanhol José María Castillo, sobre a questão da ressurreição de
Jesus. Penso, que uma leitura deste texto pode ser muito útil para todos
aqueles que procuram entender, ‘purificar’ e abraçar com convicção a sua fé
cristã.
Muitos
fiéis e religiosos cristãos, apoiados nos relatos dos Evangelhos e, sobretudo,
na ‘certeza da fé’, defendem a tese de que a ressurreição de Jesus Cristo é um
fato histórico e ninguém pode e/ou deve questionar isso. Mas, também, para
muitas outras pessoas, principalmente entre os estudiosos em teologia e
filosofia que sabem separ radicalmente o real do transcendental, neste caso, o
fato da ressurreição de Cristo não pode ser considerado um fato histórico. Portanto, às vezes, isso se torna causa de conflitos e desentendimentos.
Quem
tem razão? Como entender essa questão? Isso implica ou não com a nossa fé em Jesus Cristo ressuscitado?–
podemos indagar.
O
artigo, que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania, certamente pode ajudar
a esclarecer pelo menos algumas dúvidas.
A
matéria foi publicada neste mês (abril de 2015) no Religión Digital, e posteriormente, também, no site do instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnog.
IHU
– Notícias
Quinta, 09 de abril de
2015
A ressurreição de Cristo, um
fato histórico?
“Ao falar da
ressurreição falamos de um fato transcendente. E o transcendente, por sua
própria definição, é real (para quem crê na transcendência), mas não é, nem
pode ser, histórico”, escreve o teólogo espanhol José María Castillo,
em artigo publicado por Religión Digital, 08-04-20915. A tradução é
de André Langer.
Eis o artigo.
O bispo Munilla [José
Ignacio Munilla Aguirre, bispo da diocese de San Sebastián, na
Espanha] anda nervoso porque alguns se atreveram a dizer que a ressurreição de
Cristo não é um fato histórico. Os entendidos em historiografia discutem o que
se deve entender quando falamos de um “fato histórico”. Independente da postura
que cada um adotar nessa discussão, o que parece que se pode afirmar com
segurança é que um fato pode ser considerado como histórico quando esse fato
acontece na história. O que acontece (ou pode acontecer) a um ser humano depois
da sua morte, isso já não está, nem pode estar, na história, mas além da
história. Em tal caso, já não estamos falando do “histórico”, mas do
“meta-histórico”.
Evidentemente, pode
haver pessoas (e elas existem em abundância) que, por suas crenças (religiosas,
filosóficas ou de outra índole), estão persuadidas de que um morto vive, seja
no céu, junto de Deus, na eternidade ou em alguma outra modalidade que os
humanos podem imaginar ou idealizar. Mas, quando isso acontece, já não estamos
falando da história, mas do que transcende a história. Com outras palavras, uma
coisa é “o histórico” e outra coisa é “o transcendente”. Que pode ser “real”,
mas não é “histórico”.
Dito isso, para um
historiador, o histórico de um sujeito acaba com a morte do sujeito. O que não
quer dizer que com a morte se acabe a realidade desse sujeito. Pode haver
pessoas que, por suas crenças, estão persuadidas de que o morto vive em “outra
vida”, que já não está na história, mas além da história. Mas nunca digamos que
o que acontece depois da morte é “histórico”.
Então, o que dizemos das
aparições do Ressuscitado que são relatadas nos Evangelhos? Esses relatos
testemunham que houve crentes (alguns discípulos, algumas mulheres...) que
tiveram, sentiram e viram experiências segundo as quais a eles constava que
Jesus vivia, porque havia sido ressuscitado por Deus. Isso é histórico: que
aquelas mulheres e aqueles homens asseguraram que eles o viram, o sentiram...
Mas também é certo que, ao relatar as experiências que viveram, contaram-nas de
maneira que não concordam umas com as outras em dados e detalhes importantes.
Por exemplo, para Mateus e Marcos, as aparições
ocorreram na Galileia, ao passo que para Lucas e João aconteceram
em Jerusalém. Também foi uma experiência o que o apóstolo Paulo viu
e sentiu no caminho de Damasco.
Eu me pergunto que
cristologia terá estudado o bispo Munilla. Seja qual for a
cristologia que estudou, demonstra sua boa vontade em afirmar a todo custo que
Jesus, o Senhor, não passou à história, mas que é Vivo, no qual os cristãos
creem. Isto é de elogiar. Mas, com todo o respeito e com a liberdade que o
assunto exige, é aconselhável (e exigível) que um bispo tenha alguma ideia de
coisas muito básicas, que se encontram no comum das boas cristologias que vêm
sendo publicadas já há várias décadas. Ao falar da ressurreição falamos de um
fato transcendente. E o transcendente, por sua própria definição, é real (para
quem crê na transcendência), mas não é, nem pode ser, histórico. Já sei que
tudo isso é uma reflexão elementar. Mas também é verdade que só quando temos
claro o elementar, poderemos falar sobre as outras coisas. Neste caso, da
ressurreição de Jesus, o Senhor.
Fonte: IHU - Notícias
Nenhum comentário:
Postar um comentário