Acho
muito interessante o artigo de Christian Albini sobre os conceitos e as buscas que o homem de hoje realiza em relação a pessoa
de Jesus Cristo. São muitas as concepções, e de todo tipo. O autor compartilha
com o leitor as suas buscas, inquietudes, descobertas e conclusões nesse campo. O
que realmente está em jogo – na minha opinião - é a mesma pergunta que um dia Jesus dirigiu a seus discípulos: ‘E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20).
O
texto, abaixo, pode ser muito útil para
quem procura refletir um pouco mais sobre o papel e a importância de Jesus
Cristo para a sua própria vida, convidando-o para uma reflexão proveitosa.
Ajuda também a avançar mais na busca pelas respostas às inúmeras
indagações, que sempre existem no fundo
do coração de cada ser humano.
Artigo
foi publicado pelo autor no seu blog Sperare per Tutti, em janeiro de 2015, e
posteriormente, no site do Instituto Humaniotas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– Notícias.
Segunda, 02 de fevereiro
de 2015
Jesus, fascínio e mistério de
um homem. Artigo de Christian Albini.
"É necessário
conhecer mais sobre a humanidade de Jesus e se interrogar
sobre ela, pô-la em confronto com a nossa humanidade. Estas páginas são uma
expressão da minha busca, em que tento ir ao encontro da necessidade de
autenticidade, que pertence também a mim, indicando um possível trajeto rumo a
Jesus."
Publicamos aqui um
trecho do novo e-book de Christian Albini, intitulado L'umanità di Gesù.
Tra storia e fede [A humanidade de Jesus. Entre história e
fé], disponível aqui.
Albini é
um teólogo leigo italiano, coordenador do Centro de Espiritualidade da
diocese de Crema, na Itália, e sócio-fundador da Associação
Viandanti.
O artigo foi publicado
no seu blog Sperare per Tutti, 21-01-2015. A tradução é de Moisés
Sbardelotto.
Eis o texto.
A figura de Jesus exerce
um grande fascínio que ultrapassa as fronteiras da fé cristã e das Igrejas.
Gandhi disse
dele: "Jesus chegou o mais perto possível da perfeição",
em sintonia com Fiódor Dostoiévski, para o ele qual uma pessoa infinita
e ilimitadamente bela.
Segundo o Dalai
Lama, a imagem de Jesus na cruz (o fato de tomar sobre si
o sofrimento de todos os homens) é um exemplo perfeito daquilo que os budistas
poderiam definir como "o ideal do bodhisattva", isto é,
de um iluminado que faz o voto de ajudar todos os seres a alcançarem a
libertação, antes de entrar no nirvana.
Alguns anos atrás, pude
fazer uma pergunta sobre Jesus ao mestre zen vietnamita Thich
Hanh Nhath, que me disse as mesmas coisas e o definiu como completamente aberto,
livre de dogmas, dotado de grande sabedoria e grande compaixão.
Mesmo junto a muitos
ateus, o homem de Nazaré goza de grande consideração. Por
exemplo, o filósofo marxistaErnst Bloch captou nele o representante
eminente de uma humanidade que se inclina contra a dominação e a injustiça:
"No rebelde Jesus, herege por excelência, [...] não foi
pregado na cruz um fanático inofensivo, mas o advento de um homem que inverte o
valor do mundo presente, o grande exemplar de outro mundo sem opressões e sem deus
dos senhores".
O slogan "Jesus
sim, Igreja não" pertence ao clima cultural contestador dos anos
1970, mas também expressa com eficácia o "crer sem pertencer", que é
um fenômeno característico da religião contemporânea. Há atração pelo homem
Jesus, mas repulsão por tantos aspectos da instituição eclesial. Essa
desconfiança em relação à Igreja também se reflete sobre as suas doutrinas
sobre o Nazareno.
Pode-se realmente crer
que um carpinteiro da Galileia era o Filho de Deus? Ou: o que
a tradição cristã ensina há dois mil anos sobre ele é só uma invenção funcional
ao poder e à relevância da instituição religiosa?
Ao longo dos séculos da
cristandade, a identidade de Jesus foi uma certeza indubitável, enquanto, hoje,
tornou-se um mistério. É como se tivesse voltado à atualidade a pergunta que
ele fez aos discípulos: "Mas vós, quem dizeis que eu sou?". (Mt 16,
15; Mc 8, 29; Lc 9, 20).
Não por acaso, nestes
anos, tiveram um notável sucesso romances e ensaios que indagaram a figura
de Jesus, hipotetizando uma verdade histórica bastante diferente
das narrativas tradicionais; além disso, há quem duvide da coerência entre a
pregação de Jesus e a posterior mensagem cristã.
A esse respeito, fala-se
de uma deturpação operada – dependendo dos pontos de vista – por Paulo
de Tarso, pela hierarquia eclesial, pelo encontro com o pensamento grego ou
até por uma verdadeira traição de Jesus, que teria afastado dele as Igrejas que
levam o seu nome.
Mesmo a partir de uma
perspectiva intracatólica, uma biblista de fama como Marie-Emile
Boismard, ao sintetizar as conclusões da sua pesquisa de muitas décadas,
defendeu que um dos erros em que exegetas e teólogos incorrem ao interpretar os
textos da Bíblia é o de supor a priori que os seus autores compartilhassem tal e qual a fé atual, engrandecendo o seu
sentido. Os dogmas cristãos não nasceram da noite para o dia, mas foram se
formando progressivamente.
A "distância"
que existe entre a pessoa de Jesus, os textos do Novo
Testamento (cuja escrita abrange a segunda metade do século I) e os
dogmas cristológicos da Igreja (definidos pelos concílios dos primeiros sete
séculos) é o espaço em que o mistério e a suspeita cresceram. É um processo que
se desenvolveu ao longo do arco da modernidade, com a afirmação do primado da
razão no conhecimento da verdade, que, pouco a pouco, relegou para segundo
plano a confiança em uma revelação e submeteu à crítica a sua autenticidade.
A fé cristã é posta
diante de um desafio radical. O Papa Bento XVI também se deu
conta disso, quando quis dedicar o tempo livre que lhe foi deixado pelo seu
ministério para a escrita de um livro sobre Jesus que reafirmasse as
certezas de sempre.
Há algum tempo,
aconteceu-me de dialogar com Vito Mancuso, em uma apresentação do seu livro sobre
Deus, em um teatro cheio de pessoas atentas e interessadas. É o sujeito, dizia
ele, que deve identificar um princípio universal que justifique a fé em Deus,
porque a autoridade da Igreja e da Bíblia não são suficientes, não resistem a
uma séria crítica.
Certamente, argumentava
eu, a fé passa pela consciência e pela escolha pessoal; porém, para não ser uma
projeção da nossa mente, precisa de um fundamento externo, de uma revelação da
fisionomia de Deus que, pessoalmente, eu só consigo perceber em Jesus.
Não pretendo, aqui,
discutir as teses de Mancuso, mas considero que o grande sucesso
das suas obras responde a exigência difusa, uma necessidade de autenticidade e
de "boas razões" que não se contenta com fórmulas prontas e não
aceita às cegas os ensinamentos da autoridade religiosa.
A minha fé também é
difícil, combatida. Sou filho do meu tempo. Jesus é o verdadeiro motivo do meu
caminho de fé, do meu ser cristão. Busco o seu rosto, que às vezes me parece
muito próximo e, em outras, opaco e indecifrável. Todos os dias, perscruto as
Escrituras que, há séculos, movem os corações de gerações de homens e mulheres,
explorando os caminhos da oração, tentando, com os meus limites, ser seu
discípulo. Ele lhes disse: "Vinde e vede" (Jo 1, 39). Não posso
deixar de me fazer perguntas, assim como não posso ignorar as dúvidas de tantas
pessoas.
Convenci-me de que a
chave é a humanidade de Jesus: a sua história, a sua personalidade,
o seu "estilo" de vida e de entrar em relação com os outros. Para
usar a linguagem dos Evangelhos, refiro-me a Jesus filho do
homem. Quem era esse "judeu marginal", e ele realmente revelou Deus?
É um tema importante
também para a Igreja italiana, que, em 2015, celebrará em Florença o
seu 5º Congresso Eclesial Nacional, "Em Jesus
Cristo, um novo humanismo".
Há um caminho de
crescimento na humanidade, rumo a uma autêntica realização pessoal e
intensidade de vida (cfr.Papa Francisco, Evangelii gaudium,
n. 10), que nos é indicado pelo homem de Nazaré. O autenticamente
humano se revela no ser-homem de Jesus, lê-se no material para o Congresso:
como diz o Concílio Vaticano II, quem segueCristo também
se torna mais homem (cfr. Gaudium et spes, n. 41); Jesus
revelador do homem, além de Deus.
Torna-se, então,
necessário conhecer mais sobre a humanidade de Jesus e se
interrogar sobre ela, pô-la em confronto com a nossa humanidade.
Estas páginas são uma
expressão da minha busca, em que tento ir ao encontro da necessidade de
autenticidade, que pertence também a mim, indicando um possível trajeto rumo
a Jesus.
Fonte: IHU - Notícias
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