"Mas, quando der um banquete, convide os pobres, os aleijados, os mancos e os cegos. Feliz será você, porque estes não têm como retribuir. A sua recompensa virá na ressurreição dos justos". (Lc 14, 13-14)
O comentário que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito interessante e, sobretudo, bem atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 14,7-14 (Jesus fala da humildade).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
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IHU - Notícias
26 de agosto de 2016.
Sem esperar nada em troca
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus segundo Lucas 14,7-14 que corresponde ao
22° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus está convidado a comer por um dos principais
fariseus da região. Lucas nos indica que os fariseus não deixam de espiá-Lo.
Jesus, no entanto, sente-se livre para
criticar os convidados que procuram os primeiros lugares e, inclusive, para
sugerir ao que o convidou a quem deve colocar à frente.
É esta interpelação ao anfitrião que nos deixa
desconcertados. Com palavras claras e simples, Jesus indica-lhes como devem
atuar: “Não convides os teus amigos nem os teus irmãos nem os teus parentes nem
os vizinhos ricos”. Mas, há algo mais legítimo e natural que estreitar laços
com as pessoas que nos querem bem? Não fez Jesus o mesmo com Lázaro, Marta e
Maria, seus amigos de Betânia?
Ao mesmo tempo, Jesus assinala em quem se
deve pensar: “Convida os pobres, aleijados, mancos e cegoss”. Os pobres não
têm meios para corresponder ao convite. Dos aleijados, coxos e cegos, nada se
pode esperar. Por isso, ninguém os convida. Não é isto algo normal e
inevitável?
Jesus não rejeita o amor familiar nem as relações
amistosas. O que não aceita é que elas sejam sempre as
relações prioritárias, privilegiadas e exclusivas. Aos que entram na
dinâmica do reino de Deus procurando um mundo mais humano e fraterno, Jesus
recorda-lhes que o acolhimento aos pobres e desamparados deve ser anterior às
relações de interesse e aos convencionalismos sociais.
É possível viver de forma desinteressada?
Pode-se amar sem esperar nada em troca? Estamos tão afastados do Espírito de
Jesus que, por vezes, até a amizade e o amor familiar estão mediatizados pelo
interesse. Não temos de nos enganar. O caminho da gratidão é
quase sempre duro e difícil. É necessário aprender coisas como estas: dar sem
esperar muito, perdoar sem exigir, ser mais paciente com as pessoas pouco
agradáveis, ajudar pensando apenas no bem do outro.
Sempre é possível reduzir um pouco os nossos
interesses, renunciar de vez em quando a pequenas vantagens, colocar alegria na
vida do que vive necessitado, oferecer um pouco do nosso tempo sem reservá-lo
sempre para nós, colaborar em pequenos serviços gratuitos.
Jesus atreve-se a dizer ao fariseu que o convidou:
“Feliz de ti se não te podem retriubir”. Esta bem-aventurança ficou tão
esquecida que muitos cristãos nunca ouviram falar dela. No entanto, contém uma
mensagem muito querida para Jesus: “Felizes
os que vivem para o próximo sem receber recompensa. O Pai do céu os
recompensará”.