O comentário que trago
hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola, é
muito bom. Tem como
pano de fundo o texto bíblico Lc 12,49-53 (Jesus disse: ”Vim
trazer fogo à terra, e como gostaria que já estivesse aceso!”).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnóg
IHU – Notícias
Sexta, 12 de agosto de
2016
Em
chamas
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 12,49-53 que corresponde ao 20° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
São muitos os cristãos
que, profundamente arraigados numa situação de bem-estar, tendem a considerar o
cristianismo como uma religião que, invariavelmente, deve preocupar-se em manter a lei e a ordem
estabelecida.
Por isso, resulta tão
estranho escutar da boca de Jesus expressões que convidam não ao imobilismo e
conservadorismo, mas à transformação
profunda e radical da sociedade: «Vim trazer fogo ao mundo e oxalá
estivesse já a arder...”. Pensais que vim trazer ao mundo paz? “Não, mas sim
divisão”.
Não nos resulta fácil
ver Jesus como alguém que traz um fogo
destinado a destruir tanta mentira, violência e injustiça. Um
Espírito capaz de transformar o mundo, de forma radical, mesmo à custa de
enfrentar e dividir as pessoas.
O crente em Jesus não é
uma pessoa fatalista que se resigna ante a situação, procurando, acima de tudo,
tranquilidade e falsa paz. Não é um imobilista que justifica a atual ordem das
coisas, sem trabalhar com ânimo criador e solidário por um mundo melhor.
Tampouco é um rebelde que, movido pelo ressentimento, deita abaixo tudo para
assumir ele mesmo o lugar daqueles que derrubou.
O que entendeu Jesus
atua movido pela paixão e aspiração de colaborar numa mudança total. O verdadeiro cristão leva a
«revolução» no seu coração. Uma revolução que não é «golpe de estado», mudança
qualquer de governo, insurreição ou relevo político, mas sim busca de uma
sociedade mais justa.
A ordem que, com
frequência, defendemos, é ainda uma desordem. Porque não conseguimos dar de
comer a todos os esfomeados, nem garantir os seus direitos a todas as pessoas,
nem sequer eliminar as guerras ou destruir as armas nucleares.
Necessitamos de uma revolução mais profunda que as revoluções econômicas. Uma
revolução que transforme as consciências dos homens e dos povos. H. Marcuse
escrevia que necessitamos de um mundo «em que a competição, a luta dos
indivíduos uns contra os outros, o engano, a crueldade e o massacre já não têm
razão de ser».
Quem segue Jesus, vive
procurando ardentemente que o fogo aceso por Ele arda cada vez mais neste
mundo. Mas, antes de mais nada, exige-se a si mesmo uma transformação radical:
«só se pede aos cristãos que sejam autênticos. Esta é verdadeiramente a
revolução» (E. Mounier).
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