Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

O clamor dos que sofrem. – Reflexão de José Antonio Pagola. Muito atual!



“Faze-me justiça contra o meu adversário”. (Lc 18,3)

Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 18,1-8 (Parabola da viúva que enfrenta o juiz injusto). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) - Adital.
Não deixe de  ler!
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IHU - Adital
14 de outubro de 2016.

O clamor dos  que sofrem


A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 18,1-8 que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.


Eis o texto

A parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, como tantos outros, um relato aberto que pode suscitar nos ouvintes diferentes ressonâncias. Segundo Lucas, é uma chamada para orar sem desanimar-se, mas é também um convite para confiar que Deus fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Que ressonância pode ter hoje em nós este relato dramático que nos recorda tantas vítimas abandonadas injustamente à sua sorte?

Na tradição bíblica a viúva é símbolo por excelência da pessoa que vive só e desamparada. Esta mulher não tem marido nem filhos que a defendam. Não conta com apoios nem recomendações. Só tem adversários que abusam dela, e um juiz sem religião nem consciência a quem não importa o sofrimento de ninguém.

O que pede a mulher não é um capricho. Só reclama justiça. Este é o seu protesto repetido com firmeza ante o juiz: “Faça-me justiça”. A sua petição é a de todos os oprimidos injustamente. Um grito que está na linha do que dizia Jesus aos seus: "Buscai o reino de Deus e a sua justiça".

É certo que Deus tem a última palavra e fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Esta é a esperança que acendeu em nós Cristo, ressuscitado pelo Pai de uma morte injusta. Mas, enquanto chega essa hora, o clamor de quem vive gritando sem que ninguém escute o seu grito, não cessa.

Para uma grande maioria da humanidade a vida é uma interminável noite de espera. As religiões predicam Salvação. O cristianismo proclama a vitória do Amor de Deus encarnado em Jesus crucificado. Entretanto, milhões de seres humanos só experimentam a dureza dos irmãos e irmãs e o silêncio de Deus. E, muitas vezes, somos os mesmos crentes que ocultamos seu rosto de Pai velando-o com o nosso egoísmo religioso.

Por que é que a nossa comunicação com Deus não nos faz escutar por fim o clamor dos que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: «Fazei-nos justiça»? Se, ao rezar, nos encontramos de verdade com Deus, como não somos capazes de escutar com mais força as exigências de justiça que chegam até ao seu coração de Pai?

A parábola interpela-nos a todos os crentes.
Seguiremos alimentando as nossas devoções privadas esquecendo quem vive no sofrimento?
Continuaremos rezando a Deus para colocá-lo a serviço dos nossos interesses, sem que nos importem muito as injustiças que há no mundo?
E se rezar fosse se esquecer de cada um e procurar do lado de Deus um mundo mais justo para todos?




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