“Faze-me justiça contra o meu adversário”. (Lc 18,3)
Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano
de fundo o texto bíblico Lc 18,1-8 (Parabola
da viúva que enfrenta o juiz injusto). É de autoria do padre e teólogo
espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) -
Adital.
Não deixe de ler!
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IHU
- Adital
14
de outubro de 2016.
O
clamor dos que sofrem
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 18,1-8
que corresponde ao 29° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O
teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A
parábola da viúva e do juiz sem escrúpulos é, como tantos outros, um relato
aberto que pode suscitar nos ouvintes diferentes ressonâncias. Segundo Lucas, é
uma chamada para orar sem desanimar-se, mas é também um convite para confiar
que Deus fará justiça a quem lhe grita dia e noite. Que ressonância pode ter
hoje em nós este relato dramático que nos recorda tantas vítimas abandonadas
injustamente à sua sorte?
Na
tradição bíblica a viúva é símbolo por excelência da pessoa que vive só e
desamparada. Esta mulher não tem marido nem
filhos que a defendam. Não conta com apoios nem recomendações. Só tem adversários
que abusam dela, e um juiz sem religião nem consciência a quem não importa o
sofrimento de ninguém.
É
certo que Deus tem a última palavra e fará justiça a quem lhe grita dia e
noite. Esta é a esperança que acendeu em nós Cristo, ressuscitado pelo Pai de
uma morte injusta. Mas, enquanto chega essa hora, o clamor de quem vive
gritando sem que ninguém escute o seu grito, não cessa.
Para
uma grande maioria da humanidade a vida é uma interminável noite de espera. As
religiões predicam Salvação. O cristianismo proclama a vitória do Amor de Deus
encarnado em Jesus crucificado. Entretanto, milhões de seres humanos só
experimentam a dureza dos irmãos e irmãs e o silêncio de Deus. E, muitas
vezes, somos os mesmos crentes que ocultamos seu rosto de Pai velando-o com o
nosso egoísmo religioso.
Por
que é que a nossa comunicação com Deus não nos faz escutar por fim o clamor dos
que sofrem injustamente e nos gritam de mil formas: «Fazei-nos justiça»? Se, ao
rezar, nos encontramos de verdade com Deus, como não somos capazes de escutar
com mais força as exigências de justiça que chegam até ao seu coração de Pai?
A
parábola interpela-nos a todos os crentes.
Seguiremos
alimentando as nossas devoções privadas esquecendo quem vive no sofrimento?
Continuaremos
rezando a Deus para colocá-lo a serviço dos nossos interesses, sem que nos
importem muito as injustiças que há no mundo?
E
se rezar fosse se esquecer de cada um e procurar do lado de Deus um mundo mais
justo para todos?
Fonte: IHU – Adital
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