«Jesus perguntou: "Não foram purificados todos os dez?
Onde estão os outros nove? Não se achou nenhum que voltasse e desse
louvor a Deus, a não ser este estrangeiro?" Então ele lhe disse: "Levante-se e vá; a
sua fé o salvou".» (Lc 17,17-19)
Abaixo, uma excelente reflexão, concreta
e atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 17,11-19 (Jesus cura dez leprosos). É de autoria do teólogo
espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU - Adital
7
de Outubro de 2016.
Cura
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho segundo Lucas 17,11-19 que corresponde ào 28° Domingo do
Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
O episódio é conhecido. Jesus cura dez leprosos enviando-os aos sacerdotes para que os autorizem a
voltar sãos para as suas famílias. O relato podia ter terminado aqui. Ao
evangelista, no entanto, interessa-lhe destacar a reação de um deles.
Uma vez curados, os leprosos
desaparecem de cena. Nada sabemos deles. Parece como se nada tivesse acontecido
nas suas vidas. No entanto, um deles “percebe que está curado” e compreende que algo grande lhe foi
presenteado: Deus está na origem daquela cura.
Entusiasmado, volta “louvando a Deus a grandes gritos” e “dando graças a
Jesus”.
Em geral, os comentaristas
interpretam a sua reação sob a forma de agradecimento: os nove são
desagradecidos; só o que voltou sabe agradecer. Certamente é o que parece
sugerir o relato. No
entanto, Jesus não fala de agradecimento.
Diz que o samaritano voltou “para dar glória a Deus”. E dar glória a Deus é
muito mais do que dizer obrigado.
Dentro da pequena história de cada
pessoa, provada por doenças, enfermidades e aflições, a cura é uma experiência
privilegiada para dar glória a Deus como Salvador da nossa vida. Assim diz uma
célebre fórmula de São Irineu de Leão: “O que a Deus lhe dá glória é um homem
cheio de vida”. Esse corpo do leproso curado é um
corpo que canta a glória de Deus.
Acreditamos saber tudo sobre o
funcionamento do nosso organismo, mas a cura de uma grave doença não deixa de nos
surpreender. Sempre é um “mistério” experimentar
em nós como se recupera a vida, como se reafirmam as nossas forças e como
cresce a nossa confiança e a nossa liberdade.
Poucas
experiências se podem viver tão radicais e básicas como a cura, para experimentar a vitória frente ao mal e ao
triunfo da vida sobre a ameaça da morte. Por isso, ao nos curarmos, oferece-se
a possibilidade de acolher de forma renovada Deus que vem a nós como fundamento
do nosso ser e fonte de vida nova.
A medicina moderna permite hoje a
muitas pessoas viver o processo de cura com mais frequência que em tempos
passados. Temos de agradecer a quem nos cura, mas a cura pode ser, além disso, ocasião e
estímulo para iniciar uma nova relação com Deus. Podemos passar da indiferença
à fé, da rejeição ao acolhimento, da dúvida à confiança, do temor ao amor.
Este acolhimento saudável de Deus pode curar-nos de
medos, vazios e feridas que nos fazem mal.
Pode-nos enraizar à vida de forma mais saudável e liberta. Pode-nos sanar
integralmente.
Fonte: IHU – Comentários ao Evangelho
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