“Ninguém pode servir a dois
senhores; pois, ou odiará um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o
outro. Vós não podeis servir a Deus e ao dinheiro.." (Mt 6, 24)
O comentário que trago hoje para o blog
Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito bom. Tem como pano de fundo o texto
bíblico Mt
6, 24-34 (Jesus ensina: “buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo mais vos será dado
por acréscimo...”). Foi publicado no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler e refletir.
WCejnog
IHU - Adital
24 fev 2017.
Não à idolatria do dinheiro
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho segundo Mateus 6, 24-34, que corresponde ao Oitavo Domingo do Tempo
Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
O dinheiro, convertido em ídolo absoluto, é para
Jesus o maior inimigo para construir esse mundo mais digno, justo e solidário
que quer Deus. Faz já vinte séculos que o Profeta da Galileia
denunciou de forma rotunda que o culto ao dinheiro será sempre o maior
obstáculo que encontrará a humanidade para progredir para uma convivência mais
humana.
A lógica de Jesus é esmagadora: “Não
podeis servir a Deus e ao dinheiro”. Deus não pode reinar no mundo
e ser Pai de todos sem reclamar justiça para os que são excluídos de uma vida
digna. Por isso não podem trabalhar por esse mundo mais humano pretendido por
Deus os que, dominados pela ânsia de acumular riqueza, promovem uma economia
que exclui os mais débeis e os abandona à fome e à miséria.
É surpreendente o que está a suceder com o Papa
Francisco. Enquanto os meios de comunicação e as redes sociais que circulam pela
internet nos informam, com todo o tipo de detalhes, dos gestos menores da sua
personalidade admirável, se oculta de forma vergonhosa o seu grito mais urgente
a toda a humanidade: “Não a uma economia da exclusão e da iniquidade.
Essa economia mata.”
Francisco não necessita de grandes argumentações
nem profundas análises para expor o seu pensamento. Sabe resumir a sua
indignação em palavras claras e expressivas que poderiam abrir a informação de
qualquer telejornal ou ser título da imprensa em qualquer país. Só alguns
exemplos.
“Não pode ser que não seja notícia que morre de
frio um idoso no meio da rua e que o seja a queda de dois pontos na bolsa. Isso
é exclusão. Não se pode tolerar que se deite comida fora quando há pessoas que
passam fome. Isso é iniquidade.”
Vivemos na ditadura de uma economia sem rosto e sem
um objetivo verdadeiramente humano. Como
consequência, “enquanto os ganhos de uns poucos crescem exponencialmente, os da
maioria ficam cada vez mais longe do bem-estar dessa minoria feliz”.
“A cultura do bem-estar anestesia-nos, e perdemos a calma se o mercado oferece algo que todavia não
compramos, enquanto todas essas vidas truncadas por falta de possibilidades nos
parecem um espetáculo que de nenhuma maneira nos altera.”
Quando o acusaram de comunista, o Papa respondeu de
forma rotunda: “Esta mensagem não é marxismo, mas sim Evangelho puro”. Uma
mensagem que tem de ter eco permanente nas nossas comunidades cristãs. O
contrário poderia ser sinal do que diz o Papa: “Estamos a tornar-nos incapazes de
nos compadecermos com os clamores dos outros e já não choramos ante o drama dos
outros”.
Fonte: IHU – Comentário aoEvangelho