“Mas eu
lhes digo: Amem os seus inimigos e orem por aqueles que os perseguem, para que vocês venham a ser filhos
de seu Pai que está nos céus. Porque ele faz raiar o seu sol sobre maus e bons
e derrama chuva sobre justos e injustos. Se vocês amarem aqueles que os
amam, que recompensa receberão? Até os publicanos fazem isso! E se vocês
saudarem apenas os seus irmãos, o que estarão fazendo de mais? Até os pagãos
fazem isso! Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai
celestial de vocês". (Mt 5, 44-48)
O comentário que trago
hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é
muito concreto e atual. Tem como
pano de fundo o texto bíblico Mt 5, 38-48 (Jesus exorta:“Amem os seus inimigos e orem por aqueles que
os perseguem”).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnog
IHU - Adital
17 fevereiro 2017.
Uma chamada escandalosa
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho segundo Mateus 5, 38-48, que corresponde ao Sétimo
Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
A chamada ao amor é sempre atrativa. Seguramente, muitos acolhiam com
agrado a chamada de Jesus a amar a Deus e ao próximo. Era a melhor síntese da
Lei. Mas o que não podiam imaginar é que um dia lhes falará de amar os
inimigos. No entanto, Jesus o fez. Sem a proteção da tradição bíblica,
distanciando-se dos salmos da vingança que alimentavam a oração do seu povo,
enfrentando-se ao espírito geral que se respirava à sua volta, de ódio para com
os inimigos, proclamou com claridade absoluta sua chamada: «Eu, pelo
contrário, vos digo: amai a vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem».
Sua linguagem é escandalosa e
surpreendente, mas totalmente coerente com sua experiência de Deus. O Pai não é violento: ama inclusive seus
inimigos, não procura a destruição de ninguém. Sua grandeza não consiste em
vingar-se, mas sim em amar incondicionalmente a todos. Quem se sinta filho de
Deus não deve introduzir no mundo ódio nem destruição de ninguém.
O amor ao inimigo não é um
ensinamento secundário de Jesus dirigido a pessoas chamadas a uma perfeição
heroica. A sua chamada quer introduzir na
história uma atitude nova ante o inimigo, porque quer eliminar do mundo o ódio
e a violência destruidora. Quem se pareça a Deus não alimentará o ódio contra
ninguém, procurará o bem de todos, inclusive o dos Seus inimigos.
Quando Jesus fala do amor ao inimigo
não está a pedir que alimentemos em nós sentimentos de afeto, simpatia ou carinho
para quem nos faça mal. O inimigo continua sendo alguém de quem podemos
esperar dano, e dificilmente podem mudar os sentimentos do nosso coração.
Amar o inimigo significa, antes de
tudo, não lhe fazer mal, não procurar nem desejar fazer-lhe mal. Não temos de estranhar se não sentimos amor ou
afeto para com ele. É natural que nos sintamos feridos ou humilhados. Temos de
nos preocupar quando continuamos a alimentar ódio e sede de vingança.
Mas não se trata só de não lhe fazer
mal. Podemos dar mais passos até estarmos inclusive dispostos a fazer-lhe bem
se o encontramos necessitado. Não temos de esquecer que somos mais
humanos quando perdoamos que quando nos vingamos. Podemos inclusive
devolver-lhe bem por mal.
O perdão sincero ao inimigo não é
fácil. Em algumas circunstâncias, para uma pessoa pode-se tornar praticamente
impossível libertar-se logo da rejeição, do ódio ou da sede de vingança. Não
temos de julgar ninguém a partir de fora. Só Deus nos compreende e perdoa
de forma incondicional, inclusive quando não somos capazes de perdoar.
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