“Ele, porém, respondendo,
disse: Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que
sai da boca de Deus.” (Mt 4,4)
Hoje, uma
belíssima reflexão muito atual e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Mt 4, 1-11 (As tentações de
Jesus). É de
autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar sobre
esse assunto.
WCejnóg
IHU - Adital
03 março 2017.
A nossa grnade tentação
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho segundo Mateus 4, 1-11, que corresponde ao Primeiro
Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
O episódio das “tentações de
Jesus” é um relato que não devemos interpretar com rapidez. As
tentações que se nos descrevem não são propriamente de natureza moral. O relato
adverte-nos de que podemos arruinar a nossa vida sem nos desviarmos do caminho
que segue Jesus.
A primeira tentação é de importância
decisiva, pois pode perverter e corromper a nossa vida desde a raiz.
Aparentemente, a Jesus se lhe oferece algo inocente e bom: colocar Deus a
serviço da sua fome. “Se és Filho de Deus, ordena que estas pedras se convertam
em pães”.
No entanto, Jesus reage de forma
rápida e surpreendente: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a
palavra que sai da boca de Deus”. Não fará do seu próprio pão, um
absoluto. Não colocará Deus a serviço do seu próprio interesse, esquecendo o
projeto do Pai. Sempre procurará primeiro o reino de Deus e a Sua justiça. Em
todo o momento escutará a Sua Palavra.
As nossas necessidades não ficam
satisfeitas só com ter assegurado o nosso pão material. O ser humano
necessita e deseja muito mais. Inclusive, para resgatar da fome e da
miséria a quem não tem pão, temos de escutar a Deus, nosso Pai, e despertar na
nossa consciência a fome de justiça, a compaixão e a solidariedade.
A nossa grande tentação é hoje converter tudo em pão. Reduzir
cada vez mais o horizonte da nossa vida à satisfação dos nossos desejos; viver
obcecados por um bem-estar sempre maior ou fazer do consumismo indiscriminado e
sem limites o ideal quase único das nossas vidas.
Enganamo-nos se pensamos que esse é o
caminho que se tem de seguir para o progresso e a libertação. Não estamos vendo que uma sociedade que arrasta
as pessoas para o consumismo sem limites e para a autossatisfação não faz senão
gerar vazio e falta de sentido nas pessoas, e egoísmo, ausência de
solidariedade e irresponsabilidade na convivência?
Por que estremecemos quando vemos
aumentar de forma trágica o número de pessoas que se suicidam a cada dia? Por
que continuamos fechados no nosso falso bem-estar, levantando barreiras cada
vez mais inumanas para que os famintos não entrem nos nossos países, não
cheguem até nossas residências nem chamem à nossa porta?
A chamada de Jesus pode-nos ajudar a
tomar mais consciência de que não só de bem-estar vive o ser humano. Também
os homens e mulheres de hoje necessitamos cultivar o espírito, conhecer o
amor e a amizade, desenvolver a solidariedade com os que sofrem, escutar a
nossa consciência com responsabilidade, abrir-nos ao Mistério último da vida
com esperança.
Fonte: IHU - Comentário do Evangelho
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