“ Respondeu-lhe Jesus: Se conhecesses o dom de Deus, e quem é que
te diz: Dá-me de beber, certamente lhe pedirias tu mesma e ele te daria uma
água viva..” (Jo 4,10)
Hoje, mais
uma bonita reflexão, muito atual e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Jo 4, 5-42 (Jesus e a
mulher samaritana). É de
autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir!
WCejnóg
IHU – Adital
17 março 2017.
Confortável com Deus
A leitura que a Igreja propõe neste
domingo é o Evangelho segundo João 4, 5-42 que corresponde ao Terceiro Domingo
de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o
texto
A cena é cativante. Cansado do
caminho, Jesus senta-se junto ao manancial de Jacob. De imediato chega uma
mulher para tirar água. Pertence a um povoado semipagão, desprezado pelos
judeus. Com muita espontaneidade, Jesus inicia o diálogo com ela. Não sabe olhar
para ninguém com desprezo, mas sim com grande ternura. «Mulher, dá-me
de beber».
A mulher fica surpreendida. Como se
atreve a entrar em contato com uma samaritana? Como se rebaixa a falar com
uma mulher desconhecida? As palavras de Jesus surpreendem-na ainda
mais: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te pede de beber, sem
dúvida tu mesma me pedirias a mim, e Eu te daria água viva».
São muitas as pessoas que, ao longo
destes anos, afastaram-se de Deus sem dar atenção ao que realmente estava a
ocorrer no seu interior. Hoje Deus é-lhes um «ser estranho». Tudo o
que está relacionado com Ele parece-lhes vazio e sem sentido: um mundo infantil
cada vez mais longínquo.
Entendo-os. Sei o que podem sentir.
Também eu me fui afastando pouco a pouco daquele «Deus da minha infância» que
despertava dentro de mim medos, desgosto e mal-estar. Provavelmente, sem Jesus
nunca me teria encontrado com um Deus que hoje é para mim um Mistério de
bondade: uma presença amigável e acolhedora em quem posso confiar sempre.
Nunca me atraiu a tarefa de verificar
a minha fé com provas científicas: creio que é um erro tratar o mistério de
Deus como se fosse um objeto de laboratório. Tampouco os dogmas religiosos me
ajudaram a encontrar-me com Deus. Com simplicidade deixei-me conduzir
por uma confiança em Jesus que foi crescendo com os anos.
Não saberia dizer exatamente como se
sustenta a minha fé no meio de uma crise religiosa que me sacode também a mim
como a todos. Apenas, diria que Jesus me trouxe a viver a fé em Deus de forma
simples desde o fundo do meu ser. Se eu escuto, Deus não se cala. Se eu me
abro, Ele não se fecha. Se eu me confio, Ele me acolhe. Se eu me entrego, Ele
me sustenta. Se eu me afundo, Ele me levanta.
Creio que a experiência primeira e
mais importante é nos encontrarmos bem com Deus porque o
percebemos como uma «presença salvadora». Quando uma pessoa sabe o que
significa viver bem com Deus, porque, apesar da nossa mediocridade, os nossos
erros e egoísmos, Ele nos acolhe tal como somos, e nos impulsiona a
enfrentarmos a vida com paz, dificilmente abandonará a fé.
Muitas pessoas estão hoje abandonando
Deus antes de tê-lo conhecido. Se conhecessem a experiência de Deus que
Jesus contagia, iriam procurá-Lo. Se, acolhendo na sua vida Jesus,
conheceriam o dom de Deus, não o abandonariam. Iriam sentir-se bem com Ele.
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