Hoje trago para o blog Ingagações-Zapytania
mais uma matéria que fala sobre Teilhard de Chardin. É a reportagem de Daniele Metelli, publicada em agosto de
2015 por Tierras
de America e, posteriormente,
também no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU). Para os interessados no assunto é sempre bom poder relembrar os fatos da vida, as
ideias e o pensamento desse grande teólogo e cientista católico Teilhard de
Chardin.
Vale a pena ler para
recordar e refletir!
WCejnóg
IHU
- Notícias
Quarta, 26 de agosto de
2015
A ultrafísica de Teilhard de
Chardin
Uma reflexão que não
passa despercebida quando o autor é o poeta, escritor e acadêmico mexicano Hugo
Gutiérrez Vega: “Neste momento de revisão de muitos aspectos do homem e da
cultura, convém retornar a um pensador que, com sua sensatez, sinceridade e
rigor científico, nos brinda uma visão equilibrada do fenômeno humano”. Diretor
de Jornada Semanal, suplemento cultural do jornal mexicano La
Jornada, apresenta o amplo artigo de Sergio A. López Rivera sobre
a pertinência do pensamento de Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955),
falecido em Nova York na mais completa solidão humana e
intelectual durante a noite da Páscoa de 60 anos atrás.
A reportagem é de Daniele Metelli e
publicada por Tierras de America,
24-08-2015. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/1NHGiSZ
Reportagem
Geólogo e paleontólogo
francês, aos 18 anos Pierre entrou no noviciado da Companhia de
Jesus, mas no começo do século viu-se obrigado a abandonar a França.
Devido às leis anti-religiosas promulgadas pelo governo de Waldeck-Rousseau (1899-1902)
para pôr um fim às desordens que explodiram em decorrência do affaire Dreyfus,
os jesuítas foram expulsos do país junto com outras congregações religiosas.
Estudou no Egito e na Grã-Bretanha, onde foi ordenado
sacerdote em 1911. Durante o primeiro conflito mundial prestou serviço no front como
caminhoneiro. Lia e gostava de Dante.
Voltou à sua pátria e
começou a trabalhar no Instituto Católico de Paris, mas logo foi
afastado por seus superiores devido às suas ideias científicas pouco conformes
com a ortodoxia católica. Durante 20 anos viveu e trabalhou na China,
participando de numerosas expedições científicas, entre elas a que descobriu o sinantropus
(homem de Pequim). Ao terminar a Segunda Guerra Mundial voltou
novamente para Paris e foi nomeado diretor do Centro
Nacional de Pesquisa Científica. Uma vez mais os superiores o convidaram
para deixar a França e em 1951 partiu para os Estados
Unidos, onde permaneceu até o final da sua vida.
Do pensamento de Teilhard
de Chardin se desprende uma concepção integralmente evolucionista. No
opúsculo A vida cósmica, publicado em 1916, o autor sustenta
que o mundo é regulado pela lei da concorrência e que a matéria é constituída
por uma série incessante de agregações cada vez mais complexas. Em base à
especulação filosófica de Henri Bergson e Édouard Le
Roy, que afirmam a dimensão temporal da realidade, Teilhard intui
que o universo mesmo é uma “história”.
Desde a aurora dos
tempos o cosmos participa de um constante movimento progressivo. O processo
evolutivo une todos os fenômenos de transformação da matéria a partir de um
átomo primigênio até chegar ao homem, síntese da cosmogênese, biogênese e
antropogênese. Em virtude desta complexidade a matéria chega a ser capaz de receber
a vida e a vida humana chega a ser capaz de receber o pensamento.
Por outro lado, a
evolução não termina com o fenômeno humano, em contínua ascensão, mas avança
para uma “noogênese” que dirige a humanidade para um fim – o Ponto Ômega –, em
virtude do qual são solidários todos os destinos do cosmos. Na reflexão do
paleontólogo francês não há lugar para nenhuma forma de determinismo. Cristo
mediador é princípio, fim e condição de todo o processo evolutivo. Somente
graças à iniciativa divina, vontade perfeita que guia e orienta, o homem avança
em sua contínua tensão para o destino.
A ideia de que o homem
se encontra dentro de um processo não concluído, mas de uma cosmogênese mais
ampla, sustenta toda a arquitetura teórica da reflexão de Teilhard de
Chardin, que pretende ser científica e ultrafísica, mas nunca metafísica.
Todo o sentido da evolução deve ser buscado no princípio da cosmogênese, que
postula o universo como fenômeno temporal in fieri. A originalidade
do seu trabalho científico consiste em afirmar que a simples leitura científica
do fenômeno evolutivo é por si só uma busca de sentido, do significado profundo
da criação, do tempo e da existência humana.
A pretensão de
interpretar os fatos observados e de buscar um sentido alimenta o grande debate
sobre o seu trabalho desde as primeiras publicações. A originalidade e a
profundidade do seu enfoque, a seriedade e a profundidade de observação e de
análise dos fenômenos, junto com um impecável rigor lógico, constituem motivos
válidos para provocar discussões em diferentes níveis de conhecimento. Um
extraordinário esforço de visão unitária que pode ser resumido em um parágrafo
de rara intensidade: “A humanidade em sua marcha, está parada, porque os
espíritos vacilam em reconhecer que há uma orientação precisa e um eixo
específico de evolução”. Talvez essa expressão “parada” que o cientista
assinala foi o que impediu os seus contemporâneos de captar a novidade e a
profundidade do seu pensamento.
Fustigado pelas
autoridades da Igreja católica, abandonado pela comunidade científica, nos
últimos anos de sua vida denunciava a impossibilidade de citar sequer um
escritor ou um autor que compartilhasse com ele a diafaneidade de um cosmos
transfigurado. Inclusive Eugenio Montale, um dos maiores poetas
italianos do século XX, dedicou-lhe versos pouco elogiosos em A um
jesuíta moderno (Satura, 1962-1970): “Se queres nos convencer / de
que uma chispa nossa se desprende da crosta / daqui para baixo, menos crosta
que mingau, / para depois alojar-se na noosfera / (...) te direi que a pele se
eriça / quando te escuto”.
Suas principais obras,
como O fenômeno humano (1955)
e O futuro do homem (1959) foram publicadas postumamente.
Uma Cassandra dos tempos modernos, uma voz que foi ouvida e
reabilitada apenas pelo Concílio Vaticano II. Uma vez mais, é
evidente que o tempo da história humana é inexoravelmente mais lento do que o
tempo do universo, que viaja – tal como viajava Teilhard de Chardin –
na velocidade da luz.
Fonte: IHU-Notícias
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