Hoje, uma
reflexão muito atual e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Jo 6,1-15 (Jesus e a fome do povo). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
27 Julho 2018
O gesto de um jovem
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
de Jesus Cristo João 6,1-15 que corresponde ao 17° Domingo do Tempo
Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
De todos os atos realizados por Jesus durante sua
atividade profética, o mais recordado pelas primeiras comunidades cristãs foi
seguramente o da comida massiva organizada por Ele no meio do
campo, nas cercanias do lago de Galileia. É o único episódio recolhido em todos
os evangelhos.
O conteúdo do relato é de uma grande riqueza.
Seguindo seu costume, o evangelho de João não lhe chama “milagre”, mas
“sinal”. Com isso convida-nos a não ficarmos nos atos que se
narram, mas a descobrir desde a fé um sentido mais profundo.
Jesus ocupa o lugar central. Ninguém pede que intervenha. É
Ele mesmo quem intui a fome daquela gente e coloca a necessidade de alimentá-la.
É comovedor saber que Jesus não só alimentava as pessoas com a Boa Nova de
Deus, mas que lhe preocupava também a fome dos seus filhos.
Como alimentar no meio do campo uma multidão? Os discípulos não encontram nenhuma solução. Felipe diz que não se
pode pensar em comprar pão, pois não têm dinheiro. André pensa que se poderia
partilhar o que há, mas apenas um rapaz tem cinco pães e um par de peixes. Que
é isso para tantos?
Para Jesus é suficiente. Esse jovem sem
nome nem rosto vai tornar possível o que parece impossível. Sua
disponibilidade para partilhar tudo o que tem é o caminho para alimentar
aquelas pessoas. Jesus fará o resto. Toma em suas mãos os pães do
jovem, dá graças a Deus e começa a “distribuí-los” entre todos.
A cena é fascinante. Uma multidão, sentada sobre a
relva verde do campo, partilhando uma comida gratuita num dia de
primavera. Não é um banquete de ricos. Não há vinho nem carne. É a
comida simples das pessoas que vivem junto ao lago: pão de cevada e peixe
salgado. Uma comida fraterna servida por Jesus a todos graças ao gesto
generoso de um jovem.
Esta comida partilhada era para os primeiros
cristãos um símbolo atrativo da comunidade nascida de Jesus para construir uma
humanidade nova e fraterna. Evocava-lhes ao mesmo tempo a eucaristia que
celebrava o dia do Senhor para alimentar-se do espírito e da força de Jesus: o
Pão vivo vindo de Deus.
Mas nunca esqueceram o gesto do jovem. Se
há fome no mundo, não é por escassez de alimentos, mas por falta de
solidariedade. Há pão para todos, falta generosidade para o partilhar. Temos
deixado o andar do mundo nas mãos de um poder econômico inumano, dá-nos medo
partilhar o que temos, e as pessoas morrem de fome pelo nosso egoísmo
irracional.