(...) “Não é este o carpinteiro, filho de Maria e irmão de Tiago, José, Judas e
Simão? Não estão aqui conosco as suas irmãs? " E ficavam escandalizados
por causa dele. Jesus lhes disse:
"Só em sua própria terra, entre seus parentes e em sua própria casa, é que
um profeta não tem honra". (Mc 6, 3-4)
Hoje, uma
excelente reflexão, muito atual, concreta e importante. Como pano de fundo tem o texto bíblico Mc 6, 1-6 (Jesus não é bem recebido em sua própria terra - em Nazaré). É de
autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e meditar sobre
esse assunto.
WCejnóg
IHU - ADITAL
06 Julho 2018.
Rejeitado entre os seus
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 6,1-6 que corresponde
ao 14° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus não é um sacerdote do Templo, ocupado em
cuidar e promover a religião. Tampouco alguém o confunde com um Mestre da Lei,
dedicado a defender a Torá de Moisés. Os camponeses da Galileia veem nos Seus
gestos de cura e nas Suas palavras de fogo a atuação de um profeta
movido pelo Espírito de Deus.
Jesus sabe que lhe espera uma vida difícil e
conflituosa. Os dirigentes religiosos irão enfrentá-Lo. É o destino de todo
profeta. Não suspeita, todavia, que será rejeitado precisamente entre
os seus, os que melhor o conhecem desde criança.
Ao que parece, a rejeição de Jesus a Seu povo de
Nazaré era muito comentada entre os primeiros cristãos. Três evangelistas
recolhem o episódio com todos os detalhes. Segundo Marcos, Jesus chega a Nazaré
acompanhado de discípulos e com fama de profeta curador. Os Seus vizinhos não
sabem o que pensar.
Ao chegar sábado, Jesus entra na pequena sinagoga
da povoação e «começa a ensinar». Seus vizinhos e familiares apenas
o escutam. Entre eles nasce todo tipo de perguntas. Conhecem Jesus desde
criança: é um vizinho a mais. Onde aprendeu essa mensagem surpreendente do
reino de Deus? De quem recebeu essa força para curar? Marcos diz que
Jesus «deixava-os desconcertados». Por quê?
Aqueles camponeses acreditam que sabem tudo de
Jesus. Fizeram uma ideia Dele desde criança. Em lugar de acolhê-lo tal como se
apresenta diante deles, ficam bloqueados pela imagem que têm Dele.
Essa imagem impede-os de se abrirem ao mistério que se encerra em Jesus.
Resistem a descobrir Nele a proximidade salvadora de Deus.
Mas há algo mais. Acolhê-Lo como profeta significa
estar dispostos a escutar a mensagem que lhes dirige em nome de Deus. E isso
pode trazer-lhes problemas. Eles têm a sua sinagoga, os seus livros sagrados e
as suas tradições. Vivem com paz a sua religião. A presença profética de
Jesus pode romper a tranquilidade da aldeia.
Os cristãos, temos imagens bastante diferentes de
Jesus. Nem todas coincidem com a que tinham os que o conheceram de perto e o
seguiram. Cada um de nós faz a sua ideia dele. Esta imagem condiciona a nossa
forma de viver a fé. Se a nossa imagem de Jesus é pobre, parcial ou distorcida,
a nossa fé será pobre, parcial ou alterada.
Por que nos esforçamos tão pouco em conhecer Jesus?
Por que nos escandaliza recordar os Seus traços
humanos? Por que resistimos a confessar que Deus se encarnou num profeta? Intuímos
talvez que a Sua vida profética nos obrigaria a transformar profundamente as
nossas comunidades e a nossa vida?
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