“E, levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá;
isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se
desfez, e falava perfeitamente.” (Mc 7, 34-35)
A reflexão que trago hoje
para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio
Pagola, é muito concreta e atual. Tem como pano de fundo o
texto bíblico Mc 7, 31-37 (Jesus
cura um homem que era surdo e mudo).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Muito bom. Não deixe de ler.
WCejnóg
IHU - ADITAL
8 Setembro 2018
Curar a surdez
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7,31-37 que corresponde ao 23° Domingo
do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A cura de um surdo na região pagã
de Sidônia está narrada por Marcos com uma intenção claramente pedagógica. É um
doente muito especial. Não ouve nem fala. Vive encerrado em si mesmo, sem se
comunicar com ninguém. Não sabe que Jesus vai passar próximo dele. São outros
os que o levam até o Profeta.
Também a atuação de Jesus é especial. Não impõe as
Suas mãos sobre ele como lhe pediram, mas leva-o para um lugar afastado das
pessoas. Ali trabalha intensamente, primeiro os seus ouvidos e depois a sua língua. Quer que o doente sinta o seu contato de
cura. Apenas um encontro profundo com Jesus poderá curá-lo de uma surdez tão
tenaz.
Ao que parece, não é suficiente todo aquele
esforço. A surdez resiste. Então Jesus apela ao Pai, fonte de toda a salvação:
olhando o céu, suspira e grita ao doente uma só palavra: Effetá, que
quer dizer, «Abre-te». Esta é a única palavra que pronuncia Jesus em todo o
relato. Não está dirigida aos ouvidos do surdo, mas ao seu coração.
Sem dúvida, Marcos quer que esta palavra de Jesus
ressoe com força nas comunidades cristãs que irão ler o seu relato. Conhece bem
o quão fácil é viver surdo à Palavra de Deus. Também hoje há cristãos
que não se abrem à Boa Nova de Jesus nem falam a ninguém da sua fé.
Comunidades surdas e mudas que escutam pouco o Evangelho e o comunicam mal.
Talvez um dos pecados mais graves dos cristãos de
hoje seja esta surdez. Não paramos para escutar o Evangelho de Jesus.
Não vivemos com o coração aberto para acolher as suas palavras. Por isso não
sabemos escutar com paciência e compaixão a tantos que sofrem sem receber o
carinho nem a atenção de ninguém.
Às vezes poderia dizer-se que a Igreja, nascida de
Jesus para anunciar a Sua Boa Nova, vai fazendo o seu próprio caminho,
esquecendo, com frequência, da vida concreta das preocupações, medos, trabalhos
e esperanças das pessoas. Se não escutamos bem as chamadas de Jesus,
não colocamos palavras de esperança na vida dos que sofrem.
Há algo paradoxal em alguns discursos da Igreja.
Dizem-se grandes verdades, mas não tocam o coração das pessoas. Algo disto está a suceder nestes tempos de crise. A sociedade não
está à espera de «doutrina religiosa» dos especialistas, mas escuta com atenção
uma palavra clarividente, inspirada no Evangelho de Jesus quando é pronunciada
por uma Igreja sensível ao sofrimento das vítimas, e que sabe sair
instintivamente em defesa convidando todos a estar próximos de quem mais ajuda
necessita para viver com dignidade.
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