Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 8 de setembro de 2018

“Curar a surdez” – Reflexão de José Antonio Pagola. Excelente!



“E, levantando os olhos ao céu, suspirou, e disse: Efatá; isto é, Abre-te. E logo se abriram os seus ouvidos, e a prisão da língua se desfez, e falava perfeitamente.” (Mc 7, 34-35)

A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico  Mc 7, 31-37 (Jesus cura um homem que era surdo e mudo).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

Muito bom. Não deixe de ler.
WCejnóg


IHU - ADITAL
8 Setembro 2018

Curar a surdez

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 7,31-37 que corresponde ao 23° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto. 

Eis o texto

A cura de um surdo na região pagã de Sidônia está narrada por Marcos com uma intenção claramente pedagógica. É um doente muito especial. Não ouve nem fala. Vive encerrado em si mesmo, sem se comunicar com ninguém. Não sabe que Jesus vai passar próximo dele. São outros os que o levam até o Profeta.

Também a atuação de Jesus é especial. Não impõe as Suas mãos sobre ele como lhe pediram, mas leva-o para um lugar afastado das pessoas. Ali trabalha intensamente, primeiro os seus ouvidos e depois a sua língua.    Quer que o doente sinta o seu contato de cura. Apenas um encontro profundo com Jesus poderá curá-lo de uma surdez tão tenaz.

Ao que parece, não é suficiente todo aquele esforço. A surdez resiste. Então Jesus apela ao Pai, fonte de toda a salvação: olhando o céu, suspira e grita ao doente uma só palavra: Effetá, que quer dizer, «Abre-te». Esta é a única palavra que pronuncia Jesus em todo o relato. Não está dirigida aos ouvidos do surdo, mas ao seu coração.

Sem dúvida, Marcos quer que esta palavra de Jesus ressoe com força nas comunidades cristãs que irão ler o seu relato. Conhece bem o quão fácil é viver surdo à Palavra de Deus. Também hoje há cristãos que não se abrem à Boa Nova de Jesus nem falam a ninguém da sua fé. Comunidades surdas e mudas que escutam pouco o Evangelho e o comunicam mal.

Talvez um dos pecados mais graves dos cristãos de hoje seja esta surdez. Não paramos para escutar o Evangelho de Jesus. Não vivemos com o coração aberto para acolher as suas palavras. Por isso não sabemos escutar com paciência e compaixão a tantos que sofrem sem receber o carinho nem a atenção de ninguém.

Às vezes poderia dizer-se que a Igreja, nascida de Jesus para anunciar a Sua Boa Nova, vai fazendo o seu próprio caminho, esquecendo, com frequência, da vida concreta das preocupações, medos, trabalhos e esperanças das pessoas. Se não escutamos bem as chamadas de Jesus, não colocamos palavras de esperança na vida dos que sofrem.

Há algo paradoxal em alguns discursos da Igreja. Dizem-se grandes verdades, mas não tocam o coração das pessoas. Algo disto está a suceder nestes tempos de crise. A sociedade não está à espera de «doutrina religiosa» dos especialistas, mas escuta com atenção uma palavra clarividente, inspirada no Evangelho de Jesus quando é pronunciada por uma Igreja sensível ao sofrimento das vítimas, e que sabe sair instintivamente em defesa convidando todos a estar próximos de quem mais ajuda necessita para viver com dignidade.



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