Hoje, para quem estiver interessado em entender melhor o texto bíblico Lucas
2,41-52 (O menino Jesus no Templo
de Jerusalém), trago para o blog Indagações – Zapytania uma boa reflexão de Ana
Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado. O texto
foi publicado no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler e refletir!
WCejnog
IHU – ADITAL
21 Dezembro 2018
“Os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém,
para a festa da Páscoa. Quando o menino completou doze anos, subiram para a
festa, como de costume. Passados os dias da Páscoa, voltaram, mas o menino
Jesus ficou em Jerusalém, sem que seus pais o notassem. Pensando que o menino
estivesse na caravana, caminharam um dia inteiro. Depois começaram a procurá-lo
entre parentes e conhecidos. Não o tendo encontrado, voltaram a Jerusalém à
procura dele.
Três dias depois, encontraram o menino no Templo.
Estava sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. Todos os
que ouviam o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas respostas.
Ao vê-lo, seus pais ficaram emocionados. Sua mãe lhe disse: «Meu filho, por que
você fez isso conosco? Olhe que seu pai e eu estávamos angustiados, à sua
procura.» Jesus respondeu: «Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar
na casa do meu Pai?» Mas eles não compreenderam o que o menino acabava de lhes
dizer.
Jesus desceu então com seus pais para Nazaré, e permaneceu
obediente a eles. E sua mãe conservava no coração todas essas coisas. E Jesus
crescia em sabedoria, em estatura e graça, diante de Deus e dos homens.”
O texto do Evangelho de Lucas 2,41-52 (Correspondente
à Festa da Sagrada Família, ciclo C do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti,
Missionária de Cristo Ressuscitado.
Uma família
diferente
No domingo seguinte ao Natal, a Igreja nos convida
a celebrar a Festa da Sagrada Família. Por quê?
Esta festa é a prolongação da festa do Natal,
celebrada na semana passada. Quando o Filho de Deus se fez homem, nasceu como
filho de Maria, se fez irmão de toda a humanidade.
Ao contemplar hoje a Sagrada Família, podemos
"incluir" nela todos os homens, todas as mulheres de todos os tempos,
raças e línguas. Como disse Enzo Bianchi: "Jesus nascera de uma
família comum: um pai artesão e uma mãe dona de casa como todas as mulheres da
época. A sua família tinha irmãos e irmãs, isto é, parentes, primos, uma
família numerosa e ligada por fortes laços de sangue, como ocorria no
Oriente".
É a festa da família humana que pela
encarnação, vida, morte e ressurreição de Jesus é adotada como família de Deus.
Ao olhar hoje o menino Jesus, rodeado por Maria e
José, somos convidados a sentir-nos filhos e filhas do Pai e da Mãe celestes e
irmãos e irmãs uns dos outros.
A família de Nazaré nos desafia a viver o
mandamento do amor, que leva a exercitar valores essenciais que foram
esquecidos ou abafados na lógica do mercado que vigora em nosso tempo, como os
valores da hospitalidade, da acolhida, da solidariedade, da cortesia e do
respeito à alteridade.
Olhando agora para a nossa família, a nossa
comunidade, perguntamo-nos em que precisamos crescer para nos assemelharmos à
família de Nazaré.
O evangelho de hoje nos revela, em primeiro lugar,
a simplicidade e a historicidade da família de Nazaré, que vivia sua
religiosidade como toda a família judia daquele tempo.
Como disse Enzo Bianchi, "Sim, Jesus era um homem como os outros, apresentava-se sem
traços extraordinários, parecia frágil como todo ser humano. Tão cotidiano, tão
modesto, sem qualquer coisa que, na sua forma humana, proclamasse a sua glória
e a sua singularidade, sem um “cerimonial” composto de pessoas que o acompanhassem
e o tornassem solene e munido de poder ao aparecer no meio dos outros. Não,
demasiadamente humano! Mas se não há nada de “extraordinário” nele, por que
acolher a sua mensagem? (Texto completo: Jesus, demasiadamente
humano)
No evangelho lemos que: "Os pais de Jesus
iam todos os anos a Jerusalém, para a festa da Páscoa".
Essa Páscoa é especial porque Jesus tem doze anos.
Então seguindo a lei de Moisés é a idade para realizar a cerimônia bar
mitzvah. Por meio desse rito, o menino entra no mundo adulto. Alcançou sua
maturidade religiosa e civil.
O evangelista situa Jesus no início da sua
maturidade no templo, falando com os doutores da lei, e "todos que ouviam
o menino estavam maravilhados com a inteligência de suas respostas".
No final da vida de Jesus encontramos uma cena
semelhante: "Ao amanhecer, os anciãos do povo, os chefes dos sacerdotes
e os doutores da Lei se reuniram em conselho e levaram Jesus para o
Sinédrio" (Lc 22,66).
Mas a admiração inicial já não existe na maioria
dos ouvintes, ao contrário, as palavras que pronuncia Jesus, em consonância com
sua vida, são as que o condenam à morte.
Enquanto isso, Maria e José buscam
angustiados seu Filho, até que, depois de três dias de incessante busca, o
acham no templo.
A resposta serena que dá Jesus à pergunta de sua
mãe: "Por que me procuravam? Não sabiam que eu devo estar na casa do
meu Pai?", nos transporta ao dia da sua Ressurreição, "por que
vocês estão procurando entre os mortos aquele que está vivo?" (Lc 24,
5b).
Pelo qual as primeiras palavras que Lucas coloca na
boca de Jesus já revelam o sentido e o fim de sua vida e missão, estar no Pai,
viver para Ele e suas coisas.
A maturidade dos 12 anos deste menino judeu
continuará crescendo ao longo de sua vida, atingindo seu auge em outra Páscoa,
a de sua morte e ressurreição!
Dessa maneira, Jesus revela a toda a família humana
o caminho para viver e crescer na casa do Pai e Mãe comum, até chegar aos seus
firmes e ternos braços.
Na entrevista Jesus: um apaixonado por Deus e
pelas pessoas, concedida à revista IHU On-Line nº
336, o teólogo biblista Francisco Orofino disse que "temos que
entender que a formação de Jesus começa em casa, e sob forte influência
materna. Jesus viveu muito tempo neste ambiente familiar e comunitário".
Vivendo deste jeito estaremos contribuindo com a
recriação permanente da família humana e divina!
Oração pela
família
“Ó Deus Trindade, comunhão perfeita no amor. Nossas
famílias vos louvam e agradecem, por serem chamadas a realizar as maravilhas do
vosso amor, no aconchego de seus lares.
Que nelas aconteça a desejada paz e a constante
reconciliação, mesmo em meio a tantos limites humanos.
Vos pedimos, Trindade Santíssima, que a família
seja reconhecida como patrimônio da humanidade, um dos tesouros mais
preciosos dos nossos povos, lugar e escola de comunhão, fonte de valores
humanos e cívicos, lar onde a vida humana nasce e se acolhe, generosa e
responsavelmente.
Torne-se escola de fé, fazendo dos pais os
primeiros catequistas de seus filhos, começando em casa o processo da iniciação
à vida cristã.
Possa a família ser considerada santuário da vida e
Igreja doméstica.
Livrai a família do egoísmo, que fere de morte o amor e o compromisso com a vida, destruindo o lar
e causando consequências indeléveis para os filhos.
Ó Deus Trindade, por intercessão da Família de
Nazaré, santuário da vida divina, abençoai cada lar para que possa
tornar-se, à vossa imagem, novo sacrário de amor. Amém”.
Dom Aloísio A. Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul