“Quando Isabel ouviu a saudação de Maria,
o bebê agitou-se em seu ventre, e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. Em alta voz exclamou: ‘Bendita é você entre as
mulheres, e bendito é o filho que você dará à luz! Mas por que sou tão agraciada, ao ponto de me
visitar a mãe do meu Senhor? Logo que a sua saudação chegou aos meus ouvidos, o
bebê que está em meu ventre agitou-se de alegria. Feliz é aquela que creu que
se cumprirá aquilo que o Senhor lhe disse!’. ” (Lc 1, 41-45)
A
reflexão que
trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José
Antônio Pagola, é muito concreta e atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 1, 39-45 (Maria visita a sua prima Isabel).
Foi
publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Muito
bom. Vale a pena ler.
WCejnóg
IHU – ADITAL
20 Dezembro 2018.
Mulheres crentes
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas 1,39-45 que corresponde ao 4°
Domingo de Advento, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Depois de receber a chamada de Deus, anunciando que
ela será a mãe do Messias, Maria põe-se a caminho sozinha. Começa para ela
uma nova vida, ao serviço do Seu Filho Jesus. Marcha “rápido”, com decisão.
Ela sente a necessidade de partilhar a sua alegria com a sua prima Isabel e de
pôr-se ao seu serviço o quanto antes nos últimos meses de gravidez.
O encontro entre as duas mães é uma cena incomum.
Não estão presentes os homens. Apenas duas mulheres simples, sem qualquer
título ou relevância na religião judaica. Maria, que carrega Jesus com ela para
todos os lugares, e Isabel, que, cheia de espírito profético ousa abençoar a
sua prima em nome de Deus.
Maria entra na casa de Zacarias, mas não se
dirige a ele. Vai diretamente saudar Isabel. Nada sabemos do conteúdo da
sua saudação. Apenas aquela saudação enche a casa com uma alegria
transbordante. É a alegria que Maria vive desde que ouviu a saudação do Anjo: “Alegra-te
cheia de graça”.
Isabel não pode conter a sua surpresa e sua
alegria. Quando ouve a saudação de Maria, sente os movimentos da criança que
carrega em seu ventre e interpreta-os maternalmente como “saltos de alegria”.
Imediatamente abençoa Maria “com a voz em grito” dizendo: “Bem-aventurada és
tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”.
Em nenhum momento chama Maria pelo seu nome.
Contempla-a totalmente identificada com a sua missão: é a mãe do seu Senhor.
Vê-a como uma mulher crente, na qual se irão cumprindo os desígnios de Deus: “Abençoada
porque acreditaste”.
O que mais a surpreende é a atuação de Maria. Não
veio para mostrar sua dignidade de mãe do Messias. Não está ali para ser
servida, mas para servir. Isabel não sai do seu assombro. “Quem sou eu para que
me visite a mãe do meu Senhor?” Há muitas mulheres que não vivem
pacificamente dentro da Igreja. Em algumas cresce o desafeto e o mal-estar.
Sofrem quando percebem que, apesar de serem as primeiras colaboradoras em
muitos campos, dificilmente são levadas em conta para pensar, decidir e
promover a marcha da Igreja. Essa situação está a fazer mal a todos.
O peso de uma história multissecular, controlada e
dominada pelos homens, impede-nos de tomar consciência do empobrecimento que
significa para a Igreja prescindir de uma presença mais efetiva das mulheres.
Nós não as escutamos, mas Deus pode despertar mulheres crentes, cheias de
espírito profético, que nos podem dar alegria e dar à Igreja uma face mais
humana. Serão uma bênção. Elas nos ensinarão a seguir Jesus com mais paixão
e fidelidade.
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