“O anjo, porém,
disse aos pastores: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que o
será para todo o povo: Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador,
que é o Cristo Senhor. Isto vos servirá de sinal: Encontrareis um recém-nascido
envolvido em faixas e deitado numa manjedoura”.
E, de repente, juntou-se ao anjo uma multidão da corte celeste.
Cantavam louvores a Deus, dizendo: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz
na terra aos homens por ele amados”. (Lc 2, 10-14)
NATAL
A
reflexão
que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José
Antônio Pagola, é muito atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 2, 1-14 (Anjos anunciam aos pastores que
nasceu Jesus).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Muito
boa. Vale a pena ler e refletir.
WCejnóg
IHU – ADITAL
20 dezembro 2018
Diante do mistério do menino
A leitura que a Igreja propõe para celebrar esta Noite
do Natal é o Evangelho segundo Lucas 2,1-14, ciclo C, do Ano
Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Os homens acabam por se habituar a quase tudo.
Frequentemente, o hábito e a rotina vão esvaziando de vida a nossa existência.
Dizia Ch. Péguy que «há algo pior do que ter uma alma perversa, é ter
uma alma habituada a quase tudo». É por isso que não podemos nos surpreender
que a celebração do Natal, envolta em superficialidade e consumismo louco,
dificilmente diga algo novo ou alegre para tantos homens e mulheres de «alma
acostumada».
Estamos acostumados a ouvir que «Deus nasceu
num portal de Belém». Já não nos surpreende nem comove um Deus que se oferece
como uma criança. A. Saint-Exupéry diz no prólogo de seu delicioso
Principezinho: «Todas as pessoas crescidas foram crianças antes. Mas poucos se
lembram». Esquecemos o que é ser criança. E esquecemos que o primeiro olhar de
Deus ao se aproximar do mundo foi o olhar de uma criança.
Mas essa é precisamente a grande novidade do
Natal. Deus é e continua sendo Mistério. Mas agora sabemos que não é um ser
tenebroso, inquietante e temível, mas alguém que nos é próximo, indefeso,
afetuoso, a partir da ternura e da transparência de uma criança.
E esta é a mensagem do Natal. Há que sair ao
encontro desse Deus, devemos mudar o coração, tornar-nos crianças, nascer de
novo, recuperar a transparência do coração, abrir-nos com confiança à graça
e ao perdão.
Apesar da nossa terrível superficialidade, do nosso
ceticismo e desencanto, e acima de tudo, o nosso inconfessável egoísmo e
mesquinhez de «adulto», sempre há nos nossos corações um recanto íntimo
onde ainda não deixamos de ser crianças.
Atrevamo-nos por uma vez
a olhar-nos com simplicidade e sem reservas. Façamos um pouco de silêncio ao
nosso redor. Apaguemos a televisão. Esqueçamos a nossa pressa, os
nervosismos, as compras e os compromissos.
Escutemos dentro de nós esse «coração de criança»
que ainda não se fechou à possibilidade de uma vida mais sincera, bondosa e
confiante em Deus. É possível que começássemos a ver a nossa vida de outra
forma. «Não se vê bem senão com o coração. O essencial é invisível aos olhos»
(A. Saint-Exupéry).
E, acima de tudo, é possível que escutemos uma
chamada para renascer para uma nova fé. Uma fé que não seja estagnada, mas
rejuvenesça; que não nos encerre em nós mesmos, mas nos abra; que não separe
mas una; que não tem medo, mas que confia; que não entristeça, mas que ilumine;
que não tema mas que ame.
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