“E (Jesus) disse também a quem o tinha convidado: “Quando tu
deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem
teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te
e isto já seria a tua recompensa. Pelo contrário, quando deres uma festa,
convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás feliz!
Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição
dos justos”.” (Lc 14,
12-14)
Hoje, uma boa reflexão, muito atual e necessária. Como pano de fundo tem o texto bíblico Lc 14, 1.7-14 (os
convidados para o banquete do reino). É de autoria do padre e teólogo espanhol
José Antonio Pagola.
O texto foi publicada na no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
30
Agosto 2019
Sem
excluir
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 14,1.7-14, que corresponde
ao 22° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus participa num banquete convidado por um dos principais fariseus da região. É uma refeição
especial de sábado, preparada desde a véspera com todo cuidado. Como habitual, os
convidados são amigos do anfitrião, fariseus de grande prestígio, doutores
da lei, modelo de vida religiosa para todo o povo.
Aparentemente, Jesus não se sente cômodo. Sente
a falta dos seus amigos, os pobres. Aquelas pessoas que encontra mendigando
nas estradas. Os que nunca são convidados por ninguém. Os que não contam:
excluídos da convivência, esquecidos pela religião, desprezados por quase
todos.
Antes de se despedir, Jesus dirige-se ao que o
convidou. Não para agradecer o banquete, mas para sacudir a sua consciência
e convidá-lo a viver com um estilo de vida menos convencional e mais humano:
«não convides os teus amigos nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os
teus vizinhos ricos, porque eles corresponderão convidando-te... Convida os
pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; feliz tu porque não te podem pagar;
pagarão quando ressuscitem os justos».
Mais uma vez, Jesus esforça-se por humanizar a
vida, quebrando, se necessário, esquemas e critérios de atuação que nos
podem parecer muito respeitáveis, mas que, no fundo, mostram a nossa
resistência em construir esse mundo mais humano e fraterno, querido por Deus.
Normalmente, vivemos instalados num círculo de
relações familiares, sociais, políticas ou religiosas com as quais nos ajudamos
mutuamente a cuidar dos nossos interesses, deixando de fora aqueles que não nos
podem dar nada. Convidamos aqueles que, por sua vez, nos podem convidar.
Escravos de relações interesseiras, não somos
conscientes de que o nosso bem-estar só é sustentado pela exclusão
daqueles que mais precisam da nossa solidariedade gratuita para poder viver.
Temos de escutar os gritos evangélicos do papa Francisco na pequena ilha
de Lampedusa: «A cultura do bem-estar torna-nos insensíveis aos gritos dos
outros». «Caímos na globalização da indiferença». «Perdemos o sentido de
responsabilidade».
Os seguidores de Jesus têm de recordar-se que abrir
caminhos para o reino de Deus não consiste em construir uma sociedade mais
religiosa ou promover um sistema político alternativo a outros, mas acima de
tudo, em gerar e desenvolver relações mais humanas que tornem possível condições
de vida que sejam dignas para todos, começando pelos últimos.