"Contudo,
Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida.
Então, quem ficará com o que você preparou? ’
Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com
Deus". (Lc, 20-21)
Abaixo, uma boa reflexão, bem concreta e muito atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 12, 13-21 (Não acumular os bens. O Reino de Deus em primeiro lugar!). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
HU – ADITAL
02 Agosto 2019
Contra a insensatez
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
segundo Lucas 12,13-21, que corresponde ao 18° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Cada vez conhecemos melhor a situação social e
econômica que Jesus conheceu na Galileia dos anos trinta. Enquanto nas cidades
de Séforis e Tiberíades crescia a riqueza, nas aldeias aumentava a fome e a
miséria. Enquanto os camponeses ficavam sem terras, os latifundiários
construíram silos e celeiros cada vez maiores.
Numa pequena história, preservada por Lucas, Jesus
revela o que pensa dessa situação tão contrária ao projeto desejado por Deus,
de um mundo mais humano para todos. Não narra essa parábola apenas para
denunciar os abusos e atropelos cometidos pelos latifundiários, mas para
desmascarar a insensatez em que vivem.
Um rico proprietário de terras é surpreendido por
uma grande colheita. Não sabe como administrar tanta abundância. “Que farei?”.
O seu monólogo revela-nos a lógica tola dos poderosos que só vivem para
acumular riqueza e bem-estar, excluindo os necessitados do seu horizonte.
O homem rico da parábola planeja a sua vida e toma
decisões. Destruirá os antigos celeiros e construirá outros maiores. Armazenará
ali toda a sua colheita. Pode acumular bens para muitos anos. De agora em diante,
só viverá para desfrutar: “Deita-te, come, bebe e tem uma boa vida”. De forma
inesperada, Deus interrompe os seus projetos: “Insensato, esta mesma noite vão
exigir a tua vida. O que acumulaste, de quem será?”.
Este homem rico reduz sua existência a desfrutar da
abundância dos seus bens. No centro da sua vida, está ele sozinho e seu
bem-estar. Deus está ausente. Os trabalhadores que trabalham as suas
terras não existem. As famílias das aldeias que lutam contra a fome não contam.
O julgamento de Deus é retumbante: esta vida é apenas tolice e insensatez.
Neste momento, praticamente em todo o mundo aumenta
de forma alarmante a desigualdade. Este é o fato mais sombrio e inumano: «os
ricos, especialmente os mais ricos, estão se tornando muito mais ricos, enquanto
os pobres, especialmente os mais pobres, estão se tornando muito mais pobres» (Zygmunt
Bauman).
Este acontecimento não é normal. É, simplesmente, a
última consequência da insensatez mais grave que os humanos estão cometendo:
substituir a cooperação amistosa, a solidariedade e a busca do bem comum
de toda a Humanidade pela competição, rivalidade e a acumulação de bens nas
mãos dos homens mais poderosos do planeta.
Desde a Igreja de Jesus, presente em toda a Terra,
deveria escutar-se o clamor dos seus seguidores contra tanta insensatez e a
reação contra o modelo que guia hoje a história humana. Assim o está fazendo,
repetidamente, o papa Francisco.
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