“Então o pai lhe disse: <Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado>”. (Lucas 15,31-32)
Abaixo, uma boa reflexão, muito interessante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lucas 15,1-3.11-3 (Parábola do Pai Misericordioso). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
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WCejnóg
Por José Antonio Pagola
25 Março 2021
A TRAGÉDIA DE UM PAI BOM
Exegetas contemporâneos abriram uma nova via de leitura da parábola tradicionalmente chamada de «filho pródigo», para descobrir nela a tragédia de um pai que, apesar do seu amor «incrível» pelos seus filhos, não consegue construir uma família unida. Essa seria, segundo Jesus, a tragédia de Deus.
A atuação do filho mais novo é "imperdoável". Ele deixa seu pai como morto e pede a parte de sua herança. Dessa forma, quebra a solidariedade do lar, estraga a honra da família e põe em perigo o seu futuro forçando a partilha das terras. Os ouvintes devem ter ficado escandalizados ao ver que o pai, respeitando a falha do seu filho, colocava em risco a sua própria honra e autoridade. Que tipo de pai é esse?
Quando o jovem, destruído pela fome e humilhação, volta para casa, o pai volta a surpreender a todos. «Comovido» corre ao seu encontro e beija-o efusivamente diante de todos. Esquece a sua própria dignidade, oferece-lhe perdão antes que se declare culpado, restabelece-o em sua honra de filho, protege-o da rejeição dos vizinhos e organiza uma festa para todos. Finalmente poderão viver em família de forma digna e feliz.
Infelizmente falta o filho mais velho, um homem de vida correta e ordenada, mas de coração duro e ressentido. Ao chegar em casa humilha publicamente seu pai, tenta destruir seu irmão e se exclui da festa. De qualquer forma, festejaria algo «com os seus amigos», não com o seu pai e o seu irmão.
O pai também sai ao seu encontro e revela-lhe o desejo mais profundo do seu coração de pai: ver seus filhos sentados à mesma mesa, compartilhando amigável um banquete festivo, acima de confrontos, ódios e condenações.
Povos confrontados pela guerra, terrorismos cegos, políticas insolidárias, religiões de coração endurecido, países afundados na fome... Nunca partilharemos a Terra de forma digna e feliz se não olharmos um para o outro com o amor compassivo de Deus. Este novo olhar é a coisa mais importante que podemos apresentar no mundo hoje os seguidores de Jesus.
4 Quaresma - C
Lucas 15,1-3.11-3
27 de março de 2022
Fonte: IHU – Comentário do Evangelho