"E disse ao povo: Acautelai-vos e guardai-vos de toda espécie de cobiça; porque a vida do homem não consiste na abundância das coisas que possui". (Lc 12,15)
Abaixo, uma excelente reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Lucas 12,13-21 (A parábola do homem rico). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
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Por José Antonio Pagola
LUCIDEZ DE JESUS
Um dos traços mais marcantes na pregação de Jesus é a lucidez com que ele soube desmascarar o poder alienante e desumanizador que se fecha nas riquezas.
A visão de Jesus não é a de um moralista que se preocupa em saber como adquirimos nossos bens e como os usamos. O risco de quem vive desfrutando das suas riquezas é esquecer a sua condição de filho de um Deus Pai e irmão de todos.
Daí o seu grito de alerta: "Não podeis servir a Deus e ao dinheiro". Não podemos ser fiéis a um Deus Pai que busca justiça, solidariedade e fraternidade para todos, e ao mesmo tempo viver pendentes de nossos bens e riquezas.
Dinheiro pode dar poder, fama, prestígio, segurança, bem-estar... mas, na medida em que escraviza a pessoa, fecha-a a Deus Pai, faz-a esquecer a sua condição de irmão e leva-a a quebrar a solidariedade com os outros. Deus não pode reinar na vida de quem é dominado pelo dinheiro.
A raiz profunda é que as riquezas despertam em nós o desejo insaciável de ter sempre mais. E então cresce na pessoa a necessidade de acumular, capitalizar e possuir sempre mais e mais. Jesus considera como uma verdadeira loucura a vida daqueles proprietários da Palestina, obcecados em armazenar suas colheitas em celeiros cada vez maiores. É uma loucura consagrar as melhores energias e esforços para adquirir e acumular riquezas.
Quando, no final, Deus se aproxima do rico para recolher a sua vida, torna-se evidente que ele a desperdiçou. Sua vida não tem conteúdo e valor. «Idiota... ». «Assim é aquele que amassa riquezas para si e não é rico perante Deus».
Um dia, o pensamento cristão descobrirá com uma lucidez que hoje não temos a profunda contradição que existe entre o espírito que anima o capitalismo e o que anima o projeto de vida amado por Jesus. Esta contradição não se resolve nem com a profissão de fé daqueles que vivem com espírito capitalista nem com toda a caridade que possam fazer com os seus ganhos.
18 Tempo comum – C
(Lucas 12,13-21)
31 de julho
Fonte: Facebook