“Então Jesus disse aos seus discípulos: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me". (Mt 16,24)
Hoje temos uma boa reflexão, muito esclarecedora, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mateus 16,21-27 (Como seguir Jesus?). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
30 Agosto 2023
A CRUZ É OUTRA COISA
É difícil não ficar confuso e chateado ao ouvir mais uma vez as palavras de Jesus: “Quem quiser vir comigo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. Compreendemos muito bem a reação de Pedro, que, ao ouvir Jesus falar de rejeição e sofrimento, “o chama à parte e começa a repreendê-lo”. O teólogo martirizado Dietrich Bonhoeffer afirma que esta reação de Pedro “prova que, desde o início, a Igreja se escandalizou com o Cristo sofredor. Ela não quer que seu Senhor lhe imponha a lei do sofrimento.
Este escândalo pode tornar-se hoje insuportável para aqueles de nós que vivemos no que Leszek Kołakowski chama de “a cultura dos analgésicos”, aquela sociedade obcecada em eliminar o sofrimento e o desconforto através de todos os tipos de drogas, narcóticos e evasões.
Se quisermos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que compreender bem em que consiste a cruz para o cristão, porque pode acontecer que a coloquemos onde Jesus nunca a colocou.
Facilmente chamamos de “cruz” tudo o que nos faz sofrer, mesmo aquele sofrimento que aparece em nossas vidas gerado pelo nosso próprio pecado ou pelo nosso modo errado de viver. Mas não devemos confundir a cruz com qualquer infortúnio, decepção ou desconforto que ocorra na vida.
A cruz é outra coisa. Jesus chama os seus discípulos a seguir-lhe com fidelidade e a colocar-se ao serviço de um mundo mais humano: o reino de Deus. Este é o primeiro lado. A cruz nada mais é do que o sofrimento que nos sobrevirá como consequência deste seguimento; o doloroso destino que teremos que partilhar com Cristo se realmente seguirmos os seus passos. É por isso que não devemos confundir “carregar a cruz” com posturas masoquistas, uma falsa mortificação ou o que P. Evdokimov chama de “ascetismo barato” e individualismo.
Por outro lado, devemos compreender corretamente a “negação de si mesmo”. “Recusar” não significa de forma alguma mortificar, punir e, muito menos, anular ou autodestruir-se. “Negar-se” não é viver consciente de si mesmo, ferindo o próprio “ego”, para construir a existência sobre Jesus Cristo, mas significa libertar-nos de nós mesmos para aderir radicalmente a ele. Por outras palavras, “carregar a cruz” quer dizer seguir Jesus disposto a aceitar a insegurança, ou o conflito, a rejeição ou a perseguição que o próprio Crucificado tem de sofrer.
Mas nós, crentes, não vivemos a cruz como derrotados, mas como portadores de uma esperança final. Todos aqueles que perdem a vida por Jesus Cristo a encontrarão. O Deus que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará para uma vida plena.
22 Tempo Comum – A
(Mateus 16,21-27)
3 de setembro
José Antonio Pagola
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Fonte: Facebook
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