“João andava vestido de pêlo de camelo e trazia um cinto de couro em volta dos rins, e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre. Ele pôs-se a proclamar: <Depois de mim vem outro mais poderoso do que eu, ante o qual não sou digno de me prostrar para desatar-lhe a correia do calçado. Eu vos batizei com água; ele, porém, vos batizará no Espírito Santo>”. (Mc 1,6-8)
Abaixo, uma excelente reflexão, que tem como pano de fundo o texto bíblico Marcos 1,1-8 (Jesus é a Boa Nova para nós). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
06 Dezembro 2023
RENOVAÇÃO INTERIOR
Para sermos humanos, a nossa vida carece de uma dimensão essencial: a interioridade. Somos obrigados a viver rápido, sem parar por nada nem por ninguém, e a felicidade não tem tempo de penetrar em nossos corações. Passamos por tudo rapidamente e quase sempre ficamos na superfície. Estamos nos esquecendo de ouvir a vida com um pouco mais de profundidade.
O silêncio poderia nos curar, mas não conseguimos mais encontrá-lo em meio às nossas mil ocupações. Há cada vez menos espaço para o espírito em nossa vida diária. Por outro lado, quem vai cuidar de coisas tão pouco apreciadas hoje como a vida interior, a meditação ou a busca de Deus?
Privados de nutrição interior, sobrevivemos fechando os olhos, esquecendo a alma, cobrindo-nos com camadas e mais camadas de projetos, ocupações e ilusões. Já aprendemos a viver “como coisas no meio das coisas” (Jean Onimus). Mas o triste é observar que, muitas vezes, a religião também não é capaz de dar calor e vida interior às pessoas. Num mundo que optou pelo “exterior”, Deus é um “objeto” demasiado distante e, para dizer a verdade, de pouco interesse para a vida cotidiana.
Por isso, não é estranho ver que muitos homens e mulheres não reparam mais em Deus, ignoram-no, não sabem do que se trata, conseguem viver sem precisar d’Ele. Talvez exista, mas a verdade é que não o “usam” em suas vidas.
Os evangelistas apresentam Jesus como aquele que vem “batizar com o Espírito Santo”, isto é, como alguém que pode limpar a nossa existência e curá-la com o poder do Espírito. E talvez a primeira tarefa da Igreja atual seja precisamente oferecer aquele «batismo do Espírito Santo» aos homens e às mulheres do nosso tempo.
Precisamos desse Espírito para ele nos ensinar a passar do puramente externo ao que há de mais íntimo no ser humano, no mundo e na vida. Um Espírito que nos ensina a acolher aquele Deus que vive dentro da nossa vida e no centro da nossa existência.
Não basta que o evangelho seja pregado. Nossos ouvidos estão muito acostumados e não ouvem mais a mensagem das palavras. Só a experiência real, viva e concreta de uma alegria interior nova e diferente pode nos convencer.
Homens e mulheres transformados em feixes de nervos excitados, seres movidos por uma agitação exterior e vazia, já cansados de quase tudo e quase sem alegria interior, será que podemos fazer algo melhor do que parar um pouco a nossa vida, invocando humildemente um Deus no qual ainda acreditamos e nos abrirmos com confiança ao Espírito que pode transformar a nossa existência? Poderiam as nossas comunidades cristãs ser um espaço onde é possível viver acolhendo o Espírito de Deus encarnado em Jesus?
2 Advento – B
(Marcos 1,1-8)
10 de dezembro
José Antonio Pagola
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Fonte: Facebook
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