“No mesmo instante, Jesus percebeu que dele havia saído poder, virou-se para a multidão e perguntou: Quem tocou em meu manto?”. (Mc 5,30)
Hoje temos uma ótima reflexão, baseada no texto bíblico Marcos 5,21-43 (Duas mulheres sem nome, sem dignidade e excluidas). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.
Vale a pena ler!
WCejnóg
Por José Antonio Pagola
26 Junho 2004
UM ESPAÇO SEM DOMINAÇÃO MASCULINA
Uma mulher envergonhada e com medo aproxima-se secretamente de Jesus, confiante de que será curada de uma doença que há muito a humilha. Arruinada pelos médicos, sozinha e sem futuro, ela chega a Jesus com muita fé. Basta buscar uma vida mais digna e saudável.
No fundo da história podemos ver um problema sério. A mulher sofre perda de sangue: uma doença que a obriga a viver num estado de impureza ritual e de discriminação. As leis religiosas obrigam-na a evitar o contacto com Jesus, mas é precisamente esse contacto que poderá curá-la.
A cura ocorre quando aquela mulher, educada em categorias religiosas que a condenam à discriminação, consegue libertar-se da lei para confiar em Jesus. Naquele profeta, enviado por Deus, há uma força capaz de salvá-la. Ela “notou que o corpo dele estava curado”; Jesus “notou o poder salvador que dele saía”.
Este episódio, aparentemente insignificante, é mais um expoente daquilo que está constantemente registado nas fontes evangélicas: a ação salvífica de Jesus, sempre empenhada em libertar as mulheres da exclusão social, da opressão dos homens na família patriarcal. e dominação religiosa dentro do povo de Deus.
Seria anacrônico apresentar Jesus como uma feminista moderna, empenhada na luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens. A sua mensagem é mais radical: a superioridade dos homens e a submissão das mulheres não vêm de Deus. É por isso que entre os seus seguidores eles têm que desaparecer. Jesus concebe seu movimento como um espaço sem dominação masculina.
A relação entre homens e mulheres continua doente, mesmo dentro da Igreja. As mulheres não conseguem perceber de forma transparente “a força salvadora” que vem de Jesus. É um dos nossos grandes pecados. O caminho para a cura é claro: suprimir as leis, costumes, estruturas e práticas que geram discriminação contra as mulheres, para fazer da Igreja um espaço sem dominação masculina.
13 Tempo Comum – B
(Marcos 5,21-43)
30 de junho
José Antonio Pagola
Fonte: Facebook