Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

sábado, 29 de junho de 2024

“Um espaço sem dominação masculina”. – Reflexão de José Antônio Pagola.

 

No mesmo instante, Jesus percebeu que dele havia saído poder, virou-se para a multidão e perguntou: Quem tocou em meu manto?”.  (Mc 5,30)

 

Hoje temos uma ótima reflexão, baseada no texto bíblico Marcos 5,21-43 (Duas mulheres sem nome, sem dignidade e excluidas). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnóg


Por José Antonio Pagola

26 Junho 2004

UM ESPAÇO SEM DOMINAÇÃO MASCULINA

Uma mulher envergonhada e com medo aproxima-se secretamente de Jesus, confiante de que será curada de uma doença que há muito a humilha. Arruinada pelos médicos, sozinha e sem futuro, ela chega a Jesus com muita fé. Basta buscar uma vida mais digna e saudável.

No fundo da história podemos ver um problema sério. A mulher sofre perda de sangue: uma doença que a obriga a viver num estado de impureza ritual e de discriminação. As leis religiosas obrigam-na a evitar o contacto com Jesus, mas é precisamente esse contacto que poderá curá-la.

A cura ocorre quando aquela mulher, educada em categorias religiosas que a condenam à discriminação, consegue libertar-se da lei para confiar em Jesus. Naquele profeta, enviado por Deus, há uma força capaz de salvá-la. Ela “notou que o corpo dele estava curado”; Jesus “notou o poder salvador que dele saía”.

Este episódio, aparentemente insignificante, é mais um expoente daquilo que está constantemente registado nas fontes evangélicas: a ação salvífica de Jesus, sempre empenhada em libertar as mulheres da exclusão social, da opressão dos homens na família patriarcal. e dominação religiosa dentro do povo de Deus.

Seria anacrônico apresentar Jesus como uma feminista moderna, empenhada na luta pela igualdade de direitos entre mulheres e homens. A sua mensagem é mais radical: a superioridade dos homens e a submissão das mulheres não vêm de Deus. É por isso que entre os seus seguidores eles têm que desaparecer. Jesus concebe seu movimento como um espaço sem dominação masculina.

A relação entre homens e mulheres continua doente, mesmo dentro da Igreja. As mulheres não conseguem perceber de forma transparente “a força salvadora” que vem de Jesus. É um dos nossos grandes pecados. O caminho para a cura é claro: suprimir as leis, costumes, estruturas e práticas que geram discriminação contra as mulheres, para fazer da Igreja um espaço sem dominação masculina.

13 Tempo Comum – B

(Marcos 5,21-43)

30 de junho

José Antonio Pagola

goodnews@ppc-editorial.com

Fonte: Facebook

sexta-feira, 21 de junho de 2024

“Mêdo de acreditar”. – Reflexão de José Antonio Pagola

 

“E ele, despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Silêncio! Cala-te!. E cessou o vento e seguiu-se grande bonança.

Ele disse-lhes: Como sois medrosos! Ainda não tendes fé?.  (Mc 4, 39-40)

Hoje temos uma boa reflexão, baseada no texto bíblico Mc 4,35-40 (Jesus acalma a tempestade). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.

O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnóg

 

José Antonio Pagola

20 Junho 2024

MÊDO DE ACREDITAR

Os homens quase sempre preferem o que é fácil e passamos a vida tentando evitar o que exige risco e sacrifício reais. Recuamos ou nos trancamos na passividade quando descobrimos as demandas e lutas que acompanham a vida com certa profundidade.

Temos medo de levar a nossa vida a sério, assumindo a nossa própria existência com total responsabilidade. É mais fácil “instalar-se” e “continuar”, sem ousar enfrentar o sentido último da nossa vida cotidiana.

Quantos homens e mulheres vivem sem saber como, porquê ou onde. Eles estão ali. A vida continua, mas, por enquanto, não deixamos ninguém nos incomodar. Estamos ocupados com o trabalho, o programa de televisão nos espera à noite, as férias se aproximam. O que mais há para procurar?

Vivemos tempos difíceis e de alguma forma temos que nos defender. E então cada um de nós procura, com maior ou menor esforço, o tranquilizante que mais lhe convém, embora se abra dentro de nós um vazio cada vez mais imenso de falta de sentido e de covardia para viver a nossa existência em toda a sua profundidade.

Portanto, aqueles de nós que facilmente se dizem crentes devem ouvir sinceramente as palavras de Jesus: “Por que vocês são tão covardes?

Vocês ainda não tem fé?” Talvez o nosso maior pecado contra a fé, o que bloqueia mais seriamente a nossa aceitação do evangelho, seja a covardia. Vamos dizer isso honestamente. Não ousamos levar a sério tudo o que o evangelho significa. Temos medo de ouvir os chamados de Jesus.

Muitas vezes é uma covardia oculta, quase inconsciente. Alguém falou da “heresia disfarçada” (Maurice Bellet) daqueles que defendem o cristianismo até de forma agressiva, mas nunca se abrem às exigências mais fundamentais do Evangelho.

Então o Cristianismo corre o risco de se tornar apenas mais um tranquilizante. Um conglomerado de coisas que devem ser acreditadas, coisas que devem ser praticadas e defendidas. Coisas que, “tomadas na sua medida”, fazem bem e ajudam a viver.

Mas então tudo pode ser falsificado. Pode-se viver a “própria religião tranquilizadora”, não muito distante do paganismo vulgar, que se alimenta de conforto, dinheiro e sexo, evitando de mil maneiras o “perigo supremo” de encontrar o Deus vivo de Jesus, que nos chama à justiça, fraternidade e proximidade com os pobres.

12 Tempo Comum – B

(Marcos 4:35-40)

23 de junho

José Antonio Pagola

goodnews@ppc-editorial.com

 

Fonte: Facebook

domingo, 16 de junho de 2024

“ A vida como presente”. – Reflexão de José Antonio Pagola.

E dizia: A que assemelhare-mos o reino de Deus? Ou com que parábola o representaremos? É como um grão de mostarda, que, quando se semeia na terra, é a menor de todas as sementes que há na terra; Mas, tendo sido semeado, cresce; e faz-se a maior de todas as hortaliças, e cria grandes ramos, de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se debaixo da sua sombra”  (Mc 14, 30-32)

 

Abaixo, uma excelente reflexão, que tem como base o texto bíblico Marcos 4,26-34  (Parábola da semente de mostada). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. O texto foi publicado pelo autor na sua página no Facebook.

Vale a pena ler!

WCejnog

Por José Antonio Pagola.

12 Junho 2024

A VIDA COMO PRESENTE

Quase tudo hoje nos convida a viver sob o signo da atividade, da programação e da performance. Tem havido poucas diferenças nisso entre o capitalismo e o socialismo. Ao avaliar uma pessoa, acabamos sempre medindo-a pela sua capacidade de produção.

Pode-se dizer que a sociedade moderna atingiu a convicção prática de que, para dar à vida o seu verdadeiro sentido e o seu conteúdo pleno, a única coisa importante é obter o máximo desempenho através do esforço e da atividade.


É por isso que nos parece tão estranha e embaraçosa esta pequena parábola, recolhida pelo evangelista Marcos, na qual Jesus compara o “reino de Deus” a uma semente que cresce sozinha, sem que o agricultor lhe dê forças para germinar e crescer. Sem dúvida o trabalho de semeadura realizado pelo agricultor é importante, mas na semente há algo que ele não colocou: uma força vital que não se deve ao seu esforço.

Viver a vida como um dom é provavelmente uma das coisas que pode fazer com que nós, homens e mulheres de hoje, vivamos de uma maneira nova, mais atentos não só ao que conseguimos com o nosso trabalho, mas também ao que recebemos de graça.

Embora talvez não percebamos assim, a nossa maior “infelicidade” é viver apenas do nosso esforço, sem nos deixarmos ser agraciados e abençoados por Deus, e sem usufruir daquilo que nos é constantemente dado. Passar pela vida sem se surpreender com a “novidade” de cada dia.

Hoje todos precisamos aprender a viver de forma mais aberta e acolhedora, numa atitude mais contemplativa e grata. Alguém disse que há problemas que não se “resolvem” com esforço, mas que se “dissolvem” quando sabemos acolher em nós a graça de Deus. Esquecemos que, em última análise, como disse Georges Bernanos, “tudo é graça”, porque tudo, absolutamente tudo, é sustentado e penetrado pelo mistério daquele Deus que é graça, perdão e acolhimento para todas as suas criaturas. É assim que Jesus nos revela isso.

11 Tempo Comum – B

(Marcos 4,26-34)

16 de junho

José Antonio Pagola

goodnews@ppc-editorial.com

 

Fonte: Facebook