Páscoa
Hoje temos uma boa reflexão para o Domingo da Páscoa. É de autoria de José Luis Sicre Diaz, biblista jesuita espanhol.
O texto foi publicado pelo autor no seu blog no Facebook.
WCejnóg
Por JOSÉ LUIS SICRE DIAZ
17 Abril 2025
O túmulo vazio
As duas frases mais repetidas pela igreja este domingo são: “Cristo ressuscitou” e “Deus ressuscitou Jesus”. Resumem as declarações mais frequentes no Novo Testamento sobre este tema.
Entretanto, como Evangelho para este domingo, foi escolhido um Evangelho que não apresenta Deus nem Cristo, nem confessa a sua ressurreição. Os três protagonistas que temos aqui são puramente humanos: Maria Madalena, Simão Pedro e o discípulo amado. Não existe sequer um anjo. A história do Evangelho de João centra-se nas reações destas personagens muito diferentes.
No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao túmulo de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu a pedra retirada do túmulo. Ela correu e foi ter com Simão Pedro e o outro discípulo, que Jesus amava, e disse-lhes:
“― Tiraram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde o puseram.
Pedro e o outro discípulo saíram para irem ao sepulcro. Os dois correram juntos, mas o outro discípulo correu mais depressa do que Pedro, foi adiante e chegou primeiro ao túmulo; e, olhando para fora, viu as ligaduras no chão; mas ele não entrou. Chegou também Simão Pedro, seguindo-o, e entrou no sepulcro. Viu os lençóis de linho atirados para o chão, e o lenço que envolvera a cabeça de Jesus não estava no chão com os lençóis de linho, mas enrolado num lugar à parte. Então o outro discípulo, que tinha chegado primeiro ao túmulo, também entrou, viu e acreditou. Pois até então não tinham compreendido a Escritura, que dizia que Ele devia ressuscitar dos mortos.”
Maria reage precipitadamente: basta ver que a laje foi retirada do túmulo para concluir que alguém levou o corpo; ressurreição nem lhe passa pela cabeça.
Simão Pedro comporta-se como um diligente inspector de polícia: corre para o túmulo e não se limita, como Maria, a ver a pedra revolvida; Entra e repara, que as ligaduras estão no chão, mas o sudário está enrolado num lugar separado. Algo muito estranho. Mas não tira nenhuma conclusão.
O discípulo amado também corre, ainda mais do que Simão Pedro, mas depois espera-o pacientemente. E vê a mesma coisa que Pedro, mas conclui que Jesus ressuscitou.
O Evangelho de São João, que nos causa tanto sofrimento ao longo do ano com os seus discursos complicados, oferece hoje uma mensagem esplêndida: perante a ressurreição de Jesus, podemos pensar que ele é uma fraude (Maria), não saber o que pensar (Pedro) ou dar o misterioso salto de fé (discípulo amado).
Porque é que o discípulo amado espera por Pedro?
É comum interpretar este fato da seguinte forma. O discípulo amado (seja João ou outro qualquer) fundou uma comunidade cristã bastante peculiar, que corria o risco de se considerar superior às outras igrejas e acabar separada delas. De fato, o Quarto Evangelho deixa clara a enorme intuição religiosa do fundador, superior à de Pedro: ele só precisa de ver para crer, tal como mais tarde, quando Jesus aparece no mar da Galileia, sabe imediatamente que “é o Senhor”. Contudo, a sua intuição especial não o coloca acima de Pedro, a quem espera à entrada do túmulo em sinal de respeito. A comunidade do discípulo amado, imitando o seu fundador, deve sentir-se unida a toda a Igreja, da qual Pedro é responsável.
As outras duas leituras: benefícios e compromissos.
Ao contrário do Evangelho, as outras duas leituras deste domingo (Atos e Colossenses) afirmam taxativamente a ressurreição de Jesus. Embora sejam muito diferentes, há algo que os une:
a) ambos mencionam os benefícios da ressurreição de Jesus para nós: o perdão dos pecados (Atos) e a glória futura (Colossenses);
b) ambos afirmam que a ressurreição de Jesus implica um compromisso para os cristãos: pregar e testemunhar, como os Apóstolos (Atos), e aspirar aos bens do alto, onde está Cristo, não aos da terra (Colossenses).
Fonte:Facebook
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