Temas diversos. Observar, pensar, sentir, fazer crítica construtiva e refletir sobre tudo que o mundo e a própria vida nos traz - é o meu propósito. Um pequeno espaço para uma visão subjetiva, talvez impregnada de utopia, mas, certamente, repleta de perguntas, questionamentos, dúvidas e buscas, que norteiam a vida de muitas pessoas nos dias de hoje.

As perguntas sobre a existência e a vida humana, sobre a fé, a Bíblia, a religião, a Igreja (sobretudo a Igreja Católica) e sobre a sociedade em que vivemos – me ajudam a buscar uma compreensão melhor desses assuntos, com a qual eu me identifico. Nessa busca, encontrando as melhores interpretações, análises e colocações – faço questão para compartilhá-las com os visitantes desta página.

Dedico este Blog de modo especial a todos os adolescentes e jovens cuja vida está cheia de indagações.
"Navegar em mar aberto, vivendo em graça ou não, inteiramente no poder de Deus..." (Soren Kierkegaard)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Sermão da montanha: a "revolução" de Jesus. - Comentário bíblico de Asun Gutiérrez Cabriada.

 

O comentário bíblico de M. Asun Gutiérrez Cabriada sobre o texto Mt 5, 17-37 (faz parte do sermão da montanha) é  muito interessante e esclarecedor. Vale a  pena aproveitar a oportunidade  e fazer uma proveitosa reflexão.
Não deixe de ler.
 WCejnog

[Obs.: Os interessados podem  ler esse texto em apresentação de PPS, acessando o  site das Monjas Beneditinas de Montsserrat. benedictinescat.com . Trabalho muito bonito!]


O Sermão  da Montanha não é Lei mas sim Evangelho.
O Evangelho não é uma nova Lei, outros preceitos mais refinados,outra experiência mais elevada.
O Evangelho é Boa Notícia, convite.
Esta é a diferença entre a Lei e o Evangelho:
a Lei deixa o sujeito à mercê das suas próprias forças, impõe-lhe preceitos que tem de se esforçar em cumprir, ameaça-o, premeia-o, exige-lhe esforçar-se...;
O Evangelho coloca o ser humano perante o dom de Deus, fá-lo conhecer o Pai,
converte-o em filho, transforma-o por dentro...
E já não tem que dar-lhe ordens.
Disse-se aos antigos que Deus era juiz severo.
Jesus mostra o coração de Deus:  como uma mãe.
É a revolução de Jesus.
Tão forte que talvez ainda não tenhamos entrado nela.

José Enrique Ruiz de Galarreta.



No tempo de Jesus era enorme o número de leis  e tradições. Qualquer pessoa podia ser legalmente acusada e condenada.
As leis tinham-se convertido em motivos de inquietação e tortura moral e, muitas vezes, em instrumento de escravidão, tirania e fanatismo.
Tinham encoberto, suplantado e desfigurado o verdadeiro rosto do Deus do amor.

O texto evangélico, que pertence ao sermão da montanha, está situado nesse contexto.  Para entender o texto, segundo Mateus, é necessário ter em conta a pluralidade da comunidade à qual se dirige,comunidade formada por pessoas cristãs de origem judaica e pessoas de origem pagã.

COMENTÁRIO

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos:
 “Não penseis que vim revogar a Lei ou os Profetas;
 não vim revogar, mas completar.
 Em verdade vos digo. Antes que passem
o céu e a terra, não passará da Lei
a mais pequena letra ou o mais pequeno sinal,
sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém transgredir um só destes
mandamentos, por mais pequenos que sejam,
e ensinar assim aos homens, será
o menor no reino dos Céus.
Mas aquele que os praticar e ensinar
será grande no reino dos Céus.

Jesus não se apresenta como mais um legislador, que propõe umas leis mais perfeitas. O que faz é proclamar uma nova forma de atuar, baseada no Evangelho, nas bem-aventuranças. Trata-se de atuar segundo a mensagem evangélica, mais além da mera prática da lei. 
Jesus supera a Lei antiga numa linha de maior profundidade e autenticidade.
Propõe viver a lei de modo diferente, a partir do seu espírito e não da letra.
Coloca-se a relação entre evangelho e lei. Debate que voltará a colocar-se com frequência ao longo da história.

Porque Eu vos digo: se a vossa justiça
não superar a dos escribas e fariseus,
não entrareis no reino dos Céus.

A difícil missão de Jesus foi denunciar a hipocrisia do legalismo e tirar o véu que impedia conhecer, ver e amar a Deus e ao próximo. Denunciou a escravidão da letra da lei; proclamou e viveu o ar fresco da liberdade do Espírito.
Continuam a existir leis e normas que, em vez de ajudar a crescer como pessoas e como cristãos, acabam por asfixiar e afastar as pessoas de si mesmas, dos outros e de Deus. Hoje, como então, Jesus desperta-nos para nos fazer cair na conta de que o que importa é a pessoa, que toda a lei deve estar ao serviço dela e do evangelho e que, se oculta ou desvirtua o seu espírito, deve ser mudada ou abolida.
Sempre foi e continua a ser perigoso confundir evangelho e lei.

Ouvistes que foi dito aos antigos:
‘Não matarás; quem matar será
submetido a julgamento’.
Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que se irar contra seu irmão
será submetido a julgamento.
Quem chamar imbecil a seu irmão
será submetido ao Sinédrio,
e quem lhe chamar louco
será submetido à geena do fogo.

Jesus fala-nos de potenciar a vida, à qual se opõe a injustiça, a pobreza, a opressão.
A pobreza é um atentado contra a vida. “Alimenta o que morre de fome, porque, se não o alimentas, estás a matá-lo” (G.S. 69).
Também o insulto, a ofensa, a injúria, a perseguição, a desqualificação, a falta de respeito, o desprezo, vão matando pouco a pouco as pessoas.
Para não matar, há que amar.

Portanto, se fores apresentar a tua
oferta sobre o altar e ali te recordares
que o teu irmão tem alguma coisa contra ti,
deixa lá a tua oferta diante do altar,
vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão
 e vem depois apresentar a tua oferta.
 Reconcilia-te com o teu adversário,
enquanto vais com ele a caminho,
não seja o caso que te entregue ao juiz,
o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão.
Em verdade te digo: Não sairás de lá,
enquanto não pagares o último cêntimo.

É mais fácil e menos evangélico cumprir normas que comprometer-se e partilhar.
O que Jesus pede não se consegue com a mera observação de leis e ritos, mas com a boa relação com os outros.
”Se te lembrares que o teu irmão tem algo contra ti”. A referência são os outros.
Para Jesus, as pessoas e as suas necessidades são mais importantes que o sábado (Mc 2, 27) e a paz, o acolhimento, a harmonia, a solidariedade com os outros têm prioridade sobre todo o ato de culto.
Não se trata de não se vingar, mas de perdoar. Não é questão de não odiar, mas de amar a todos. O espírito do sermão da montanha é sempre mais e melhor.

Ouvistes que foi dito:
 ‘Não cometerás adultério?.
 Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que olhar para uma mulher desejando-a,
já cometeu adultério com ela no seu coração.
Se o teu olho é para ti ocasião de pecado,
 arranca-o e lança-o para longe de ti,
pois é melhor perder-se um dos teus
membros do que todo o teu corpo ser
lançado na geena.
E se a tua mão direita é para ti ocasião
 de pecado, corta-a e lança-a para longe de ti,
porque é melhor que se perca
um só dos teus membros
do que todo o corpo ser lançado na geena.
Também foi dito: ‘Quem repudiar sua mulher
dê-lhe certidão de repúdio’.
Eu, porém, digo-vos: Todo aquele
que repudiar a sua mulher,
salvo em caso de união ilegal,
fá-la cometer adultério.

O ideal a que se aspira é viver, desfrutar, testemunhar... um projeto de amor crescente, incondicional, profundo, enriquecedor, para toda a vida.
E compreender as pessoas que, por muitos motivos, não podem levá-lo a cabo. Recordando que não nos corresponde, em nenhum caso, julgar nem condenar a ninguém.

Ouvistes ainda que foi dito aos antigos:
 ‘Não faltarás ao que tiveres jurado,
mas cumprirás os teus juramentos
para com o Senhor’. 
Eu, porém, digo-vos que não jureis
em caso algum: nem pelo Céu,
que é o trono de Deus;  nem pela terra
que é o escabelo de seus pés; nem por Jerusalém,
que é a cidade do grande Rei.
Também não jures pela tua cabeça,
 porque não pode fazer branco ou preto
 um só cabelo.
A vossa linguagem deve ser:
 ‘Sim, sim; não, não’.
O que passa disto vem do Maligno.

As palavras de Jesus são sempre novas e libertadoras.
O critério, para os cristãos, não é o que dizem ou fazem os outros, nem o que é costume social, mas o que Jesus faz e diz, convidando-nos à verdade, à transparência, à sinceridade, no nosso trato conosco mesmos e com os outros.

Utilizo palavras, reflexo do meu sentimento, sinceras, construtivas, positivas, conciliadoras, de ânimo, de apoio, de bênção com as pessoas com quem me relaciono?


Em vez de...

Escolhe amar em vez de odiar,
criar em vez de destruir,
louvar em vez de criticar,
curar em vez de ferir,
atuar em vez de adiar,
crescer em vez de conservar,
partilhar em vez de armazenar,
semear em vez de colher,
viver em vez de morrer...
E saberás por que é que a minha palavra
é palavra de vida
e o meu Evangelho é Boa Notícia;
porque de nada serve, mesmo que se esforce,
pôr num vestido velho um remendo de pano novo
e vinho novo em odres velhos.
Pára já de sonhar em saldos,
e não tentes comprar o Reino!
O cristão não se arrasta sob o peso da lei;
corre livremente impulsionado pelo amor.


Ulibarri Fl.


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