Um excelente texto para a reflexão. Foi
publicado pelo autor no seu blog
(leonardoBOFF.com) em setembro deste ano (2016).
Vale a pena ler, analisar e refltir.
WCejnóg
Blog leonardoBOFF.com
23/09/2016
O Cristo cósmico:uma espiritualidade do universo
Uma das buscas mais persistentes entre os cientistas que vem geralmente
das ciências da Terra e da vida
Entretanto, pesquisando as partículas sub-atômicas, mais de cem, e as energias
primordiais, chegou-se a perceber que todas elas remetem àquilo que se chamou
de “vácuo quântico” que de vácuo não possui nada porque é a plenitude de todas
as potencialiades. Desse Fundo sem fundo surgiram todos os seres e o inteiro
universo. É representado como um vasto oceano sem margens, de energia e de
virtualidades. Outros o chamam de “Fonte Originária dos Seres” ou o “Abismo
alimentador de Tudo”.
Curiosamente, cosmólogos como um dos maiores deles, Brian Swimme, denomina-o
de o Inefável e o Misterioso (The Hidden Heart of the Cosmos, 1996).
Ora, estas são carcaterísticas que as religiões atribuem à Última Realidade que
vem chamada por mil nomes, Tao, Javé, Alá, Olorum, Deus. O Vácuo pregnante de
Energia se não é Deus (Deus é sempre maior) é a sua melhor metáfora e
representação.
O fundamental não é a matéria mas esse vácuo pregnante. Ela é uma das
emergências desta Fonte Originária. Thomas Berry, o grande ecólogo/cosmólogo
norte-americano, escreveu: “Precisamos sentir que somos carregados pela mesma
energia que fez surgir a Terra, as estrelas e as galaxias; essa mesma energia
fez emergir todas as formas de vida e a consciência reflexa dos humanos; é ela
que inspira os poetas, os pensadores e os artistas de todos os tempos; estamos
imersos num oceano de energia que vai além da nossa compreensão. Mas essa
energia, em última instância, nos pertence, não pela dominação mas pela
invocação”(The Great Work,1999, 175), quer dizer, abrindo-nos a ela.
Se assim é tudo o que existe é uma emergência desta energia fontal: as
culturas, as religiões, o próprio cristianismo e mesmo as figuras como Jesus,
Moisés, Buda e cada um de nós. Tudo vinha sendo gestado dentro do processo
cosmogênico na medida em que surgiam ordens mais complexas, cada vez
interiorizadas e interconectadas com todos os seres. Quando acontece
determinado nível de acumulação dessa energia de fundo, então ocorre a
emergência dos fatos históricos e de cada pessoa singular.
Quem viu esta gestação de Cristo no cosmos foi o paleontólogo e místico
Teilhard de Chardin (+1955), aquele que reconciliou a fé cristã com a ideia da
evolução ampliada e com a nova cosmologia. Ele distingue o “crístico” do
“cristão”. O crístico comparece como um dado objetivo dentro do processo da
evolução. Seria aquele elo que une tudo com tudo. Porque estava lá dentro pôde
irromper, um dia na história, na figura de Jesus de Nazaré, aquele por quem
todas as coisas têm sua existência e consistência, no dizer de São Paulo.
Portanto, quando este crístico é reconhecido subjetivamente, se
transforma em conteúdo da consciência de um grupo, ele se trasnforma em
“cristão”. Então surge o cristianismo histórico, fundado em Jesus, o Cristo,
encarnação do crístico. Daí se deriva que suas raízes derradeiras não se
encontram na Palestina do primeiro século, mas dentro do processo da evolução
cósmica.
Santo Agostinho escrevendo a um filósofo pagão (Epistola 102) intuíu
esta verdade: ”Aquela que agora recebe o nome de religião cristã sempre existia
anteriormente e não esteve ausente na origem do gênero humano, até que Cristo
veio na carne; foi então que a veradeira religião que já existia, começou a ser
chamada de cristã.”
No budismo se faz semelhante raciocínio. Existe a budeidade (a capaciade
de iluminação) que vem se forjando ao longo do processo da evolução, até que
ela irrompeu em Sidarta Gautama que virou Buda. Este só pôde se manifestar na
pessoa de Gautama porque antes, a budeidade, estava lá no processo
evolucionáro. Então virou o Buda, como Jesus virou o Cristo.
Quando esta comprensão vem internalizada a ponto de transformar nossa
percepção das coisas, da natureza, da Terra e no Universo, então abre-se o
caminho para uma experiência espiritual cósmica, de comunhão com tudo e com
todos. Realizamos por esta via espiritual o que os cientistas buscavam pela via
da ciência: um elo que tudo unifica e atrái para frente.
Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu O Evangelho do Cristo cósmico, Record 2010.
Fonte: leonardoBOFF.com
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