«Vigiai, pois,
porque não sabeis a que hora há de vir o vosso Senhor». (Mt 24,42)
Abaixo, uma bonita reflexão, muito concreta e
atual, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 24, 37-44 (Jesus fala
da necessidade de estar desperto e vigiando). É de autoria do
padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto
Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de
ler!
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IHU - Adital
25 Novembro 2016
Com os olhos abertos
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus
Cristo segundo Mateus 24, 37-44 que corresponde ao Primeiro Domingo de Advento,
ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
As primeiras comunidades cristãs viveram anos muito difíceis. Perdidos
no vasto Império de Roma, no meio de conflitos e perseguições, aqueles cristãos
procuravam força e alento esperando a pronta vinda de Jesus e recordando as
suas palavras: “Vigiai. Vivei despertos. Tende os olhos abertos. Estai
alerta.” Significarão, todavia, algo para nós estas
chamadas de Jesus para viver despertos?
Que é hoje para os cristãos colocar nossa esperança em Deus vivendo com
os olhos abertos? Deixaremos que se esgote definitivamente no nosso mundo
secular a esperança numa última justiça de Deus para essa imensa maioria de
vítimas inocentes que sofrem sem culpa alguma?
Precisamente, a forma mais fácil de falsear a esperança cristã é esperar
de Deus a nossa própria salvação eterna enquanto viramos as costas ao
sofrimento que há agora mesmo no mundo. Um dia teremos que reconhecer
nossa cegueira ante Cristo Juiz: quando te vimos faminto ou sedento,
estrangeiro ou nu, doente ou na prisão, e não te assistimos? Este será o nosso
diálogo final com Ele se vivemos com os olhos fechados.
Temos que despertar e abrir bem os olhos. Viver vigilantes para ver por
cima dos nossos pequenos interesses e preocupações. A esperança do
Cristão não é una atitude cega, pois não esquece os que sofrem. A
espiritualidade cristã não consiste só num olhar para o interior, pois o seu
coração está atento a quem vive abandonado à sua sorte.
Nas comunidades cristãs temos que cuidar cada vez mais que nosso modo de
viver a esperança não nos leve à indiferença e ao esquecimento dos
pobres. Não podemos isolar-nos na religião para não ouvir o clamor dos
que morrem diariamente de fome. Não nos está permitido alimentar a
nossa ilusão de inocência para defender nossa tranquilidade.
Uma esperança em Deus que se esquece dos que vivem nesta terra sem poder
esperar nada, não poderá ser considerada como uma versão religiosa do otimismo
a todo o custo, vivido sem lucidez nem responsabilidade? Uma busca da própria
salvação eterna de costas aos que sofrem, não poderá ser acusada de ser um
sutil «egoísmo estendido para o além»?
Provavelmente, a pouca sensibilidade ao sofrimento imenso que há no
mundo seja um dos sintomas mais graves do envelhecimento do cristianismo atual.
Quando o Papa Francisco reclama «uma Igreja mais pobre
e dos pobres», está gritando-nos sua mensagem mais importante e
interpeladora aos cristãos dos países do bem-estar.
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