“Porque este é o anunciado pelo profeta Isaías, que disse: ‘Voz do
que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, Endireitai as suas veredas’." (Mt 3,3)
O comentário que trago
hoje para o blog Indagações, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é
muito concreto e atual. Tem como
pano de fundo o texto bíblico Mt 3, 1-12 (João Batista chama o povo à
conversão).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não
deixe de ler.
WCejnog
IHU – Adital
02 dezembro 2016
Percorrer caminhos novos
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 3,1-12 que corresponde ao Segundo
Primeiro Domingo de Advento, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Pelos anos 27 ou 28 apareceu no deserto próximo do
Jordão um profeta original e independente que provocou um
forte impacto no povo judeu: as primeiras gerações cristãs viram-no sempre como
o homem que preparou o caminho a Jesus.
Toda a sua mensagem se pode concentrar num grito: “Preparem
o caminho do Senhor, endireitem suas estradas!”. Depois de vinte séculos, o
Papa Francisco grita-nos a mesma mensagem aos cristãos: abri caminhos a Deus,
voltai a Jesus, acolhei o Evangelho.
Seu propósito é claro: «Procuremos ser uma Igreja
que encontra caminhos novos». Não será fácil. Nos últimos anos vivemos
paralisados pelo medo. O Papa não se surpreende: “A novidade dá-nos sempre
um pouco de medo porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle,
se somos nós os que construímos, programamos e planejamos a nossa vida». E
faz-nos uma pergunta a que temos de responder: «Estamos decididos a percorrer
os caminhos novos que a novidade de Deus nos apresenta ou nos entrincheiramos
em estruturas caducas que perderam a capacidade de resposta?».
Alguns espaços da Igreja pedem ao Papa que efetive
o mais pronto possível diferentes reformas que se consideram urgentes. No
entanto, Francisco manifestou sua postura de forma clara: «Alguns
esperam e pedem-me reformas na Igreja, e deve ocorrer”. “Mas antes é
necessária uma alteração de atitudes”.
Parece-me admirável a clarividência evangélica do
Papa. O prioritário não é assinar decretos reformistas.
Previamente é necessário colocar as comunidades cristãs em estado de conversão
e recuperar no interior da Igreja as atitudes evangélicas mais básicas. Só
nesse clima será possível concretizar de forma eficaz e com espírito evangélico
as reformas que a Igreja necessita com urgência.
O próprio Francisco indica-nos todos os dias as
mudanças de atitude de que necessitamos. Assinalarei algumas de grande
importância.
Colocar Jesus no centro da Igreja: «Uma Igreja que não leva a Jesus é uma Igreja morta».
Não viver numa Igreja fechada e autorreferencial:
«Uma Igreja que se encerra no passado e atraiçoa a sua própria identidade».
Atuar sempre movido pela misericórdia de Deus para com todos seus filhos: não cultivar “um cristianismo
restauracionista e legalista que quer tudo claro e seguro, e não encontra
nada”.
Procurar uma Igreja pobre e dos pobres. Ancorar nossa vida na esperança, não “nas nossas regras, nos
nossos comportamentos eclesiásticos, nos nossos clericalismos”.
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