“Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois
todos vivem para ele”.(Lc 20,38)
Abaixo, uma bonita reflexão que
tem como pano de fundo o texto bíblico Lc
20, 27-38 (Jesus fala sobre a vida após
a ressurreição). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio
Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnog
IHU
04 de novembro de 2016.
Para
Deus, seus filhos não morrem
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 20, 27-38, que corresponde ao
32° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
Jesus foi sempre muito
sóbrio ao falar da nova vida depois da ressurreição.
No entanto, quando um grupo de aristocratas saduceus procura ridiculizar a fé
na ressurreição dos mortos, Jesus reage elevando a questão ao seu verdadeiro
nível e fazendo duas afirmações básicas.
Antes de tudo, Jesus
recusa a ideia pueril dos saduceus que imaginam a vida dos ressuscitados como
prolongamento desta vida que agora conhecemos. É um erro representarmos a vida
ressuscitada por Deus a partir das nossas experiências atuais.
Há uma diferença
radical entre a nossa vida terrestre e essa vida plena, sustentada diretamente pelo
amor de Deus depois da morte. Essa Vida é absolutamente “nova”.
Por isso, podemos esperá-la, mas nunca descrevê-la ou explicá-la.
As primeiras gerações
cristãs mantiveram essa atitude humilde e honesta ante o mistério da “vida
eterna”. Paulo diz aos crentes de Corinto que se trata de algo que “a vista nunca viu nem o ouvido ouviu nem homem algum
imaginou, algo que Deus preparou aos que o amam”.
Estas palavras
servem-nos de advertência sã e de orientação gozosa. Por uma parte, o céu é uma
“novidade” que está mais para lá do que qualquer experiência terrestre, mas,
por outra, é uma vida “preparada” por Deus para o cumprimento pleno das nossas
aspirações mais profundas. O próprio da fé não é satisfazer
ingenuamente a curiosidade, mas alimentar o desejo, a expectativa
e a esperança colocada em Deus.
Isto é, precisamente,
o que procura Jesus apelando com toda a simplicidade a um fato aceito pelos
saduceus: segundo a tradição bíblica, Deus é chamado: “Deus de Abraão, Isaac e Jacob”.
Apesar de estes
patriarcas terem morrido, Deus continua sendo o seu Deus, o seu protetor, o seu
amigo. A morte não pode destruir o amor e a fidelidade de Deus para com eles.
Jesus tira a sua
própria conclusão fazendo uma afirmação decisiva para a nossa fé: “Deus não é um Deus de mortos, mas
de vivos; porque para Ele todos estão vivos”. Deus é fonte inesgotável de vida. A
morte não vai deixando Deus sem seus filhos queridos. Quando nós os choramos
porque os perdemos nesta terra, Deus contempla-os cheios de vida porque os
acolheu no seu amor de Pai.
Segundo Jesus, a união de Deus com os Seus filhos não pode ser destruída
pela morte. O Seu amor é mais forte que a nossa extinção
biológica. Por isso, com fé humilde nos atrevemos a invocá-Lo: “Em
Ti confio meu Deus”. “Que eu não fique envergonhado” (Salmo 25,1-2).
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