“Depois de lhes ter falado, o Senhor Jesus foi elevado ao céu e
assentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos saíram e pregaram por toda
parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os sinais
que a acompanhavam.” (Mc 16, 19-20)
Abaixo, uma excelente reflexão, muito concreta e atual, que tem como
pano de fundo o texto bíblico Mc 16, 15-20
(Jesus se despede dos discípulos, deixando claro, que confiará neles e continuará
estando presente, de modo diferente, junto com eles), do padre
e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
11 Maio 2018
Novo começo
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 16, 15-20, que corresponde
a Festa da Ascensão do Senhor, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Os evangelistas descrevem com diferentes linguagens
a missão que Jesus confia aos Seus seguidores. Segundo Mateus eles devem «fazer
discípulos» que aprendam a viver como Ele lhes ensinou. Segundo Lucas, hão de
ser «testemunhas» do que viveram junto Dele. Marcos resume tudo dizendo
que hão de «proclamar o Evangelho a toda a criação».
Quem se aproxima hoje de uma comunidade cristã não
se encontra diretamente com o Evangelho. O que se apercebe é do funcionamento
de uma religião envelhecida, com graves sinais de crise. Não podem
identificar com clareza no interior dessa religião a Boa Nova proveniente do
impacto provocado por Jesus há vinte séculos.
Por outro lado, muitos cristãos não
conhecem diretamente o Evangelho. Tudo o que sabem de Jesus e da Sua
mensagem é o que podem reconstruir de forma parcial e fragmentada, recordando o
que escutaram de catequistas e predicadores. Vivem a sua religião privados do
contato pessoal com o Evangelho.
Como o poderão proclamar se não o conhecem nas suas
próprias comunidades? O Concílio Vaticano II recordou algo demasiado esquecido
nestes momentos: «O Evangelho é, em todos os tempos, o princípio de toda a sua
vida para a Igreja». Chegou o momento de entender e configurar a comunidade
cristã como um lugar onde o primeiro é acolher o Evangelho de Jesus.
Nada pode regenerar o tecido em crise das nossas
comunidades como a força do Evangelho. Só a experiência direta e imediata do
Evangelho pode revitalizar a Igreja. Dentro de uns anos, quando a crise nos
obrigue a centrar-nos só no essencial, veremos com clareza que nada é mais
importante hoje para os cristãos que nos reunirmos a ler, escutar e
partilhar juntos os relatos evangélicos.
O primeiro é acreditar na força
regeneradora do Evangelho. Os relatos evangélicos ensinam a viver a fé não
por obrigação, mas por atração. Fazem viver a vida cristã não como dever, mas
como irradiação e contágio. É possível introduzir nas paróquias uma dinâmica
nova. Reunidos em pequenos grupos, em contato com o Evangelho, iremos
recuperando a nossa verdadeira identidade de seguidores de Jesus.
Havemos de voltar ao Evangelho como novo começo. Já não serve qualquer programa ou estratégia pastoral. Dentro de uns
anos, escutar juntos o Evangelho de Jesus não será uma atividade mais entre
outras, mas a matriz de onde começará a regeneração da fé cristã nas pequenas
comunidades dispersas no meio de uma sociedade secularizada.
Tem razão o papa Francisco quando nos diz que o
princípio e motor da renovação da Igreja nestes tempos temos de encontrá-lo
em «voltar à fonte e recuperar a frescura original do Evangelho».
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