"Então,
da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!”. E, enquanto
ainda ressoava esta voz, achou-se Jesus sozinho. Os discípulos calaram-se e a
ninguém disseram naqueles dias coisa alguma do que tinham visto.” (Lc 9,35-36)
Hoje, uma
excelente reflexão, muito concreta e atual. Como pano de fundo tem o texto bíblico Lc 9, 28-36 (Transfiguração de Jesus). O texto é de autoria do padre e teólogo espanhol
José Antonio Pagola. Foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos
(IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
15 Março 2019
A Transfiguração: escutar Jesus
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Lc 9,28-36 que corresponde ao 2° Domingo
de Quaresma, ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola
comenta o texto.
Eis o texto
Os cristãos de todos os tempos foram atraídos pela
cena tradicionalmente chamada “a transfiguração do Senhor”. No entanto,
para os que pertencemos à cultura moderna, não é fácil penetrarmos no
significado de uma história, escrita com imagens e recursos literários, típicos
de uma “teofania” ou revelação de Deus.
No entanto, o evangelista Lucas introduziu detalhes
que nos permitem descobrir com mais realismo a mensagem de um episódio que
muitos hoje acham estranho e inverossímil. Desde o início indica que Jesus
sobe com seus discípulos mais próximos ao topo de uma montanha simplesmente
“para rezar”, não para contemplar uma transfiguração.
Tudo acontece durante a oração de Jesus: “Enquanto
ele estava a orar, a aparência de seu rosto mudou”. Jesus, profundamente recolhido,
acolhe a presença de seu Pai e seu rosto muda. Os discípulos percebem algo da
Sua identidade mais profunda e oculta. Algo que eles não conseguem entender na
vida cotidiana de cada dia.
Na vida dos seguidores de Jesus não faltam momentos
de clareza e certeza, de alegria e de luz. Ignoramos o que aconteceu no topo
daquela montanha, mas sabemos que na oração e no silêncio é possível
vislumbrar, a partir da fé, algo da identidade oculta de Jesus. Essa oração
é fonte de um conhecimento que não é possível obter dos livros.
Lucas diz que os discípulos mal entenderam, pois
“caíam de sono” e só “quando acordaram” captaram algo. Pedro só sabe que ali
se está muito bem e que essa experiência nunca deveria terminar. Lucas diz
que “não sabia o que dizia”.
Por isso a cena culmina com uma voz e um mandato
solene. Os discípulos estão envoltos numa nuvem. Assustam-se, pois tudo aquilo
os supera. No entanto, dessa nuvem sai uma voz: “Este é o meu Filho, o
escolhido. Escutai-O”. Ouvir deverá ser a primeira atitude dos discípulos.
Os cristãos de hoje precisam urgentemente
“interiorizar” a nossa religião se quisermos reavivar a nossa fé. Não basta ouvir o Evangelho de forma distraída, rotineira e gasta, sem
qualquer desejo de escutar. Não basta tampouco ouvir de forma inteligente,
apenas preocupado em entender.
Precisamos ouvir Jesus vivo no mais íntimo do nosso
ser. Todos, pregadores e pessoas fiéis, teólogos e
leitores, precisamos escutar sua Boa Nova de Deus, não desde fora, mas desde
dentro. Deixe que suas palavras desçam das nossas cabeças até ao coração. A
nossa fé seria mais forte, mais alegre, mais contagiante.
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