Por
considerar muito interessante e bem acertado o artigo Parte do Brasil seria composta de “burros trágicos”, de
Leonardo Boff, que o autor publicou
recentemente no seu blog, quero compartilhá-lo também aqui, neste espaço, e com
isso ajudar um pouco na sua divulgação. Parabéns Leonardo Boff por todas as sábias palavras que você escreve!
Penso
que tornou-se urgente e necessário a sociedade Brasileira em sua maioria passar
a enxergar com mais clareza o que realmente aconteceu e está acontecendo neste país.
Não
deixe de ler!
WCejnóg
Blog: leonardoBOFF.com
18/03/2019
Parte do Brasil seria composta de
“burros trágicos”
Em um dos seus escritos perguntava F. Nietzsche: ”Pode
um burro ser trágico? Pode na medida em que sucumbe ao peso de uma carga que
não pode carregar, nem pode livrar-se dela”.
Há uma boa parte de nossa população que seria de
“burros trágicos” num duplo sentido da palavra:
Num primeiro sentido, “burro trágico” é aquele que
facilmente se deixa enganar por candidatos que suscitam falsas promessas, com
slogans apelativos meramente propagandísticos, como “Deus acima de tudo e o
Brasil acima de todos” (lema nazista-“Deutschland über alles“), “fora
PT”, “combate à corrupção”, “resgate dos valores tradicionais”, “escola sem
partido”, contra ”a ideologia de gênero“, “combate ao comunismo”, “contra “a cultura
marxista”. Estas duas últimas bandeiras são de uma “burrice trágica” e palmar,
num tempo que nem mais existe comunismo e que ninguém sabe o que significa
exatamente “cultura marxista”.
Estes que gritam estas consignas e que se proclamam
“gente de bem”, são os mesmos que mentem descaradamente a começar pelo atual
capitão-Presidente, por sua “famiglia”, por aqueles que disseminam
conscientemente fake news, ódios, raivas fenomenais, injúrias de todo
tipo, palavrões que nem seus familiares poderiam ouvir e que mandam para o
inferno, com complacência, para Cuba, Coréia do Norte ou para Venezuela os que
pensam diferente.
Curiosamente ninguém os manda para China, onde de
fato vigora o comunismo-maiosmo porque sabem que lá o comunismo funciona pois
produziu a maior economia do mundo e que pode enfrentar militarmente a maior
potência nuclear, os USA.
Esse primeiro tipo de “burro trágico” seria fruto
da ignorância, da falta de informação e da maldade contra quem pensa diferente.
Existe um segundo tipo de “burros trágicos”:
aqueles que seriam consequência de uma estratégia política de criação de
“burros trágicos”, voluntariamente mantidos analfabetos, para melhor
manipulá-los e terem sua base eleitoral cativa. Fazem-nos crédulos e seguidores
de um “mito” inventado e inflado sem qualquer conteúdo digno de “um mito”.
Essa classe, dos endinheirados, criadora de “burros
trágicos”, nem toda, graças a Deus, tem pavor de alguém que saiu de condição da
“burrice trágica” e chegou à cidadania, desenvolver espírito critico e reclamar
seus direitos.
O atual governo somente ganhou a maioria de votos
porque grande parte dos eleitores foram mentidos na condição de “burrice
trágica”. Foi negada a eles a verdadeira intenção escondida: de implantar um
ultra-liberalismo à la antiga, de diminuir o salário mínimo, de cortar direitos
sociais, para muitos, da bolsa-família, de modificar a legislação trabalhista
para favorecer as empresas, de liquidar a farmácia popular, de diminuir os
vários acessos dos pobres ao ensino superior e, acima de tudo, da profunda
modificação do regime das aposentadorias. Se tivessem revelado esta intenção
jamais teriam ganho a eleição. Por isso, ela resulta espúria, mesmo feita no
rito democrático. Escandalosamente, assim como se fez com o Crucificado, tomaram
as vestes nacionais e sortearam-nas entre si.
Não há como não reconhecer que alguns ministros
seriam de uma “burrice trágica” e supina como a Ministra da Família, da Mulher
e dos Direitos Humanos, o Ministro da Educação que sequer domina nossa língua,
pois é um imigrado colombiano, o ministro do Meio Ambiente que não conhecia a
figura e a relevância de Chico Mendes e o Ministro das Relações Exteriores, no
qual a “burrice trágica” alcançaria sua quintessência.
Por que chegamos a este ponto tão baixo em nossa
história? Celso Furtado morreu carregando esta interrogação: ”por que o
Brasil, sendo um país tão rico, seja tão atrasado e tenha tantos pobres?”
Ele mesmo respondeu em seu livro que vale revisitar: ”Brasil: a construção
interrompida”(Paz e Terra 1992):
”Falta-nos a experiência de provas cruciais,
como as que conheceram outros povos cuja sobrevivência chegou a estar ameaçada.
E nos falta também um verdadeiro conhecimento de nossas possibilidades e,
principalmente, de nossas debilidades. Mas não ignoramos que o tempo histórico
se acelera, e que a contagem desse tempo se faz contra nós. Trata-se de saber
se temos um futuro como nação que conta na construção do devenir humano. Ou se
prevalecerão as forças que se empenham em interromper o nosso processo histórico
de formação de um Estado-nação” (p. 35). As forças
atuais, sob o governo do atual capitão-presidente, em continuidade de todo um
passado, se empenham em interromper esse processo na forma de uma “burrice
trágica” no sentido de Nietzsche.
Ou talvez, pensando positivamente, está se armando,
sob o atual governo, a “nossa crise crucial” que nos permitirá o salto
para um outro tipo de Brasil, com outros valores e com menos processos de
proposital “emburrecimento” de grande parte de nosso povo. Então poderemos construir
uma nação que nos orgulha e que contribui para a fase nova da humanidade,
aquela da Casa Comum, na qual toda a natureza viva e inerte e especialmente os
seres humanos estão incluídos, amantes da vida e cuidadores de tudo o que
herdamos do processo da evolução, ou no dialeto cristão, do propósito amoroso e
poderoso de nosso Criador e Pai.
Leonardo Boff, teólogo, filósofo e escreveu Brasil:
concluir a refundação ou prolongar a dependência, Vozes 2018.
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