“E oito dias depois estavam outra
vez os seus discípulos dentro, e com eles Tomé. Chegou Jesus, estando as portas
fechadas, e apresentou-se no meio, e disse: Paz seja convosco. Depois disse a Tomé: Põe aqui o teu dedo, e
vê as minhas mãos; e chega a tua mão, e põe-na no meu lado; e não sejas
incrédulo, mas crente. Tomé respondeu, e disse-lhe: Senhor meu, e Deus meu!” (Jo 20, 26-28)
A reflexão
que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol
José Antônio Pagola, é bem concreta e interessante. Tem como pano de fundo o texto
bíblico Jo 20, 19-31 (A paz esteja com vocês!)
Foi
publicada no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler.
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IHU
– ADITAL
26
Abril 2019
Da
dúvida à fé
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
de Jesus Cristo segundo João 20,19-31 que corresponde ao Segundo Domingo de
Ressurreição ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
O homem moderno aprendeu a duvidar. É típico do
espírito do nosso tempo questionar tudo para progredir no conhecimento
científico. Neste clima, a fé fica frequentemente desacreditada. O ser humano
vai caminhando pela vida cheio de incertezas e dúvidas.
Por isso, nos sintonizamos sem dificuldade com a
reação de Tomé, quando os outros discípulos lhe comunicam que, estando ele
ausente, tiveram uma experiência surpreendente: «Vimos o Senhor». Tomé poderia
ser um homem dos nossos dias. A sua resposta é clara: «Se eu não O vejo... não
acredito».
A sua atitude é compreensível. Tomé não diz que os
seus companheiros estão mentindo ou que estão enganados. Apenas afirma que os
seus testemunhos não são suficientes para aderir à sua fé. Ele necessita viver
a sua própria experiência. E Jesus não o censura em nenhum momento.
Tomé pode expressar as suas dúvidas dentro do grupo
de discípulos. Aparentemente eles não ficaram chocados. Não o expulsaram do
grupo. Também eles não acreditaram nas mulheres quando lhes anunciaram que
viram Jesus ressuscitado. O episódio de Tomé sugere o longo caminho que o
pequeno grupo de discípulos teve de percorrer até a fé em Cristo ressuscitado.
As comunidades cristãs deveriam ser nos nossos dias
um espaço de diálogo no qual poderíamos honestamente partilhar as dúvidas, as
interrogações e as buscas dos crentes de hoje. Nem todos vivemos no nosso
interior a mesma experiência. Para crescer na fé, necessitamos do estímulo e do
diálogo com os outros que compartilham da mesma preocupação.
Mas nada pode substituir a experiência de um
contato pessoal com Cristo nas profundezas de sua consciência. Segundo o relato
Evangélico, Jesus apresenta-se novamente após oito dias. Mostra-lhes as suas
feridas.
Não são «provas» da ressurreição, mas «sinais» de
seu amor e da entrega até a morte. Por isso, convida-o a aprofundar as suas
dúvidas com confiança: «Não sejas incrédulo, mas um crente». Tomé renuncia a
verificar o que seja. Já não sente necessidade de provas. Só sabe que Jesus o
ama e o convida a confiar: «Senhor meu e Deus meu».
Um dia, nós os cristãos descobriremos que muitas
das nossas dúvidas, vividas de forma sã, sem perder o contato com Jesus e a
comunidade, nos podem resgatar de uma fé superficial que se contenta em repetir
fórmulas e estimular-nos a crescer em amor e confiança em Jesus, esse Mistério
de Deus que constitui o núcleo da nossa fé.
Fonte: IHU – Comentário doEvangelho