”Enquanto estavam caminhando, alguém na estrada disse a Jesus: 'Eu te
seguirei para onde quer que fores.' Jesus lhe respondeu: 'As raposas têm tocas
e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.'
Jesus disse a outro: 'Segue-me.' Este respondeu: 'Deixa-me primeiro ir enterrar
meu pai.' Jesus respondeu: 'Deixa que os mortos enterrem os seus mortos; mas
tu, vai anunciar o Reino de Deus.' “ (Lc 9, 57-60)
A reflexão que trago hoje para o blog Indagações-Zapytania, do padre e teólogo
espanhol José Antônio Pagola, é bem concreta e interessante. Tem
como pano de fundo o texto bíblico Lc 9, 51-62 (Quem
olha para trás não serve).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.
WCejnog
IHU – Adital
28 Junho 2019
Como seguir Jesus
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho
segundo Lc 9,51-62 que corresponde ao 13° Domingo do Tempo Comum, ciclo C
do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus empreende com determinação sua marcha para
Jerusalém. Sabe o perigo que corre na capital, mas nada o impede. Sua vida tem apenas
um objetivo: anunciar e promover o projeto do reino de Deus. A marcha começa
mal: os samaritanos rejeitam-No. Ele está habituado: o mesmo lhe aconteceu
na sua terra de Nazaré.
Jesus sabe que não é fácil que lhe acompanhem na
sua vida de profeta itinerante. Não pode oferecer aos seus seguidores a
segurança e o prestígio que podem prometer os letrados da lei aos seus
discípulos. Jesus não engana ninguém. Aqueles que querem segui-lo terão que
aprender a viver como ele.
Enquanto eles estão a caminho, aproxima-se um
desconhecido. Ele parece entusiasmado: «Te sigo para onde quer que vás». Antes
de tudo, Jesus lhe faz ver que não espere dele segurança, vantagens ou
bem-estar. Ele mesmo «não tem onde reclinar a cabeça». Não tem casa, come o que
lhe oferecem, dorme onde pode.
Não nos enganemos. O grande obstáculo que impede
que muitos cristãos de hoje sigam verdadeiramente a Jesus é o bem-estar em que
vivemos instalados. Temos medo de levar a sério porque sabemos que exigiria
viver de forma mais generosa e solidária. Somos escravos do nosso pequeno
bem-estar. Talvez as crises econômicas nos possam tornar mais humanos e mais
cristãos.
Outro pede a Jesus para deixá-lo ir enterrar o pai
antes de segui-lo. Jesus lhe responde com um jogo de palavras provocativas e enigmáticas:
«Deixa que os mortos enterrem os seus mortos, vai e anuncia o reino de Deus».
Essas palavras intrigantes questionam o nosso estilo convencional de vida.
Temos de ampliar o horizonte em que nos movemos. A
família não é tudo. Há algo mais importante. Se decidirmos seguir Jesus, temos
de pensar também na família humana: ninguém deveria viver sem uma casa, sem
pátria, sem documentos, sem direitos. Todos nós podemos fazer algo mais por um
mundo justo e fraterno.
Outro está disposto a segui-lo, mas antes ele quer
dizer adeus à sua família. Jesus surpreende-o com estas palavras: «Aquele que
lança mão ao arado e olha para trás não é apto para o reino de Deus». Colaborar
no projeto de Jesus exige dedicação total, olhar para frente sem distrair-nos,
caminhar em direção ao futuro sem nos fecharmos no passado.
Papa Francisco avisou-nos de algo que está
acontecendo hoje na Igreja: «Temos medo que Deus nos leve por caminhos novos,
tirando-nos dos nossos horizontes, frequentemente limitados, fechados e
egoístas, para nos abrir aos seus».