Gosto das publicações de Leonardo Boff. O artigo “Caráter suicidiário do atual governo Bolsonaro”, que ele
publicou no mês passado – dia 30 de maio de 2019, é muito relevante e oportuno
atualmente, especialmente na sociedade brasileira.
Compartilhando-o neste espaço, pretendo contribuir
um pouco a sua divulgação.
Não deixe
de ler!
WCejnóg
leonardoBOFF.com
30/05/2019
Caráter suicidário do atual governo?
As práticas políticas do atual governo estão
destruindo as possibilidades de uma governança que traga alguma melhoria para o
povo e aos mais destituídos. Não possui projeto de nação nenhum e mostra
comportamentos indignos do cargo que ocupa.
Quando todas as portas se fecham e um governo não
vê mais nenhuma saída para sua sobrevida, a alternativa é o suicídio. Este pode
ser físico ou político. Com Vargas, foi físico: deu um tiro no coração. Com
Jânio Quadro, foi político sob o pretexto de insuportável coação de forças
ocultas. Com Collor, foi também político, renunciando antes da conclusão do
impeachment. Com Bolsonaro pode ocorrer algo semelhante, por reconhecer o
Brasil como ingovernável e por causa da fortíssima pressão das corporações. Não
o evitarão as manifestações do dia 26/5 nem o estranho pacto entre os três
poderes, no qual o ministro Toffoli jamais deveria estar.
Bolsonaro escolheu o pior caminho: o confronto com
o Congresso, com o Centrão, com o STF, com a imprensa e com parte do exército.
Tal estratégia debilita toda sua política. A saída seria abandonar a cena e
cuidar de salvar a si mesmo e os seus familiares do alcance da justiça.
Efetivamente, o governo Bolsonaro desmantelou as
quatro pilastras básicas que sustentam uma sociedade para que minimamente
funcione.
A primeira, já herdada de seu antecessor, acusado
em vários processos, Michel Temer: a destruição e precarização completa das
leis trabalhistas. Uma nação vive do trabalho das grandes maiorias operárias
que garantem a vida e a continuidade de uma nação. Concedeu tantos privilégios
aos patrões que os operários foram conduzidos a uma situação similar aos
inícios do capitalismo selvagem da Inglaterra, sem direitos garantidos e o
desmantelamento da estrutura sindical.
A segunda foi o desmonte da salvaguarda dos
direitos fundamentais, penalizado especialmente minorias como LGBT, indígenas e
quilombolas. As instituições que as implementavam foram em muito esvaziadas.
A terceira é o ataque direto à educação, às
escolas, às universidades, à ciência e a suas instituições técnico-científicas.
Tentou-se implantar uma “escola sem partido” para dar lugar à ideologia do
partido do governo de viés conservador, ultradireitista, intolerante e
fundamentalista. Sob a questionável alegação de contingenciamento mas, na
verdade, uma espécie de punição às críticas por parte da inteligência nacional
e acadêmica, fizeram-se cortes substanciais à toda a rede de ensino superior e
aos centros de pesquisa científica e tecnológica. Junto a isso se distorceu
totalmente a preocupação pelo meio ambiente, para privilegiar o agronegócio,
descuidando da preservação da Amazônia e negando o aquecimento global por
razões meramente ideológicas e até de supina ignorância.
A quarta foi a desidratação do SUS, um dos maiores
programas mundiais de saúde pública, com o propósito de privatizar grande parte
do sistema de saúde. Os cortes atingiram as farmácias populares e os
medicamentos gratuitos para várias doenças como diabetes, HIV e outras.
À frente dos ministérios foram colocadas pessoas
sem a menor qualificação para o cargo, algumas bizarras, como a dos direitos
humanos e da mulher ou incompetentes como o da educação, do meio ambiente e o
das relações exteriores.
A sensação que se tem, é o propósito de conduzir o
país aos moldes pré-modernos, congelar o parque industrial, um dos mais
avançados dos países em desenvolvimento, privatizar o mais possível tudo e
tudo, a ponto de o ministro da Fazenda, despudoradamente dizer a investidores
em Dallas que até o palácio do Planalto poderia ser privatizado e o BB
fusionado com Bank of América. Por fim, submeteu-se à recolonização do país,
condenado a ser mero exportador de commodities; compôs-se como sócio agregado
ao projeto de hegemonia mundial pretendido pelos EEUU. O presidente visitou
aquele país e lá cumpriu um rito de explícita vassalagem.
A consequência é a condenação do país à
irrelevância. A seguir a política de cortes, poderemos ter uma grande parte da
população reduzida à condição de párias. Sabemos que o Brasil é decisivo para o
futuro ecológico-social da vida e do planeta.
Um povo ignorante por lhe negarem um ensino de
qualidade e doente por não cuidarem de sua saúde, jamais conhecerá um
desenvolvimento sustentado e dar uma contribuição importante à humanidade.
Bolsonaro faria bem ao país e ao mundo se
renunciasse à presidência, para a qual confessou não ter vocação. Ideal seria
se tivesse a generosidade mínima e um pouco de amor ao povo, para fazê-lo por
si mesmo, antes de ser obrigado a isso pelo total solapamento do solo que o
sustenta.
Leonardo Boff é eco-teólogo, filósofo e escritor e
escreveu:
”Saudade de Deus- A força dos pequenos” a sair em 2019.
Fonte:
leonardoBOFF.com
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