“Ainda tenho muito que vos dizer,
mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de verdade, ele vos guiará em toda a verdade...” (Jo 15, 12-13a)
Abaixo, uma reflexão muito bonita, que tem como pano de fundo o texto bíblico Jo 16, 12-15 (A missão do Consolador). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola. Foi publicada na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU
– ADITAL
14
junho 2019
Mistério
de bondade
A
leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo
João 16,12-15
que corresponde à Festa da
Santíssima Trindade ciclo C, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
Ao longo dos séculos, os teólogos têm-se esforçado
por aprofundar o mistério de Deus mergulhando conceitualmente na Sua
natureza e expondo suas conclusões com diferentes linguagens. Mas, com
frequência, nossas palavras escondem Seu mistério em vez de revelá-lo. Jesus
não fala muito de Deus. Oferece-nos simplesmente Sua experiência.
A Deus, Jesus chama-Lhe «Pai» e experimenta-O como
um mistério de bondade. Vive-O como uma Presença boa
que abençoa a vida e atrai Seus filhos e filhas para lutar contra o que
prejudica os seres humanos. Para Ele, o mistério último da realidade que os
crentes chamamos de «Deus» é uma presença próxima e amigável que abre caminho
no mundo para construir, conosco e junto a nós, uma vida mais humana.
Jesus nunca separa esse Pai do seu projeto de
transformar o mundo. Não pode pensar nele como alguém encerrado no Seu
mistério insondável, de costas para o sofrimento dos seus filhos e filhas. Por
isso, pede aos seus seguidores para se abrir ao mistério desse Deus, acreditar
na Boa Nova do Seu projeto, juntar-nos a Ele para trabalhar por um mundo mais
justo e feliz para todos, e procurar sempre que a Sua justiça, a Sua verdade e
a Sua paz reinem cada vez mais no mundo.
Por outro lado, Jesus experimenta-se a Si mesmo
como «Filho» desse Deus, nascido para impulsionar na Terra o projeto
humanizador do Pai e para o levar à sua plenitude definitiva acima até mesmo da
morte. Por isso, procura a todo o momento o que quer o Pai. A Sua fidelidade a
Ele leva-o a buscar sempre o bem dos Seus filhos e filhas. Sua paixão por
Deus traduz-se em compaixão por todos os que sofrem.
Por isso, toda a existência de Jesus, o Filho de
Deus, consiste em curar a vida e aliviar o sofrimento, defender as vítimas
e reclamar para elas justiça, semear gestos de bondade, e oferecer a todos a
misericórdia e o perdão gratuito de Deus: a salvação que vem do Pai.
Finalmente, Jesus age sempre impulsionado pelo
«Espírito» de Deus. É o amor do Pai que o envia para anunciar aos pobres a Boa
Nova do seu projeto salvador. É o alento de Deus o que move a curar a vida. É a
Sua força salvadora que se manifesta em toda Sua trajetória profética.
Este Espírito não se extinguirá no mundo quando
Jesus estiver ausente. Ele mesmo promete assim aos Seus discípulos. A
força do Espírito os fará testemunhas de Jesus, Filho de Deus e colaboradores
do plano salvador do Pai. Assim, os cristãos vivem praticamente o mistério da
Trindade.
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