Hoje
trago para este espaço mais um artigo de Leonardo Boff. “O respeito é tudo”
foi publicado recentemente pelo autor no seu blog. Quero compartilhá-lo também
aqui, nesta página, e com isso ajudar um pouco na sua divulgação.
´Vale
a pena ler e refletir!
WCejnóg
leonardoBOFF.com
13/06/2019
O
respeito é tudo
Uma das chagas mais sofridas no mundo e também
entre nós é seguramente a falta de respeito.
O respeito exige, em primeiro lugar, reconhecer o
outro como outro, diferente de nós. Respeitá-lo significa dizer que ele tem
direito de existir e de ser aceito assim como é. Essa atitude não convive com a
intolerância que expressa a rejeição do outro e de seu modo de ser.
Assim um homoafetivo ou alguém de outra condição
sexual como os da LGBT não devem ser discriminados, mas respeitados,
primeiramente, por serem pessoas humanas, portadoras de algo sagrado e
intocável: uma dignidade intrínseca a todo ser com inteligência, sentimento e
amorosidade; em seguida, garantir-lhe o direito de ser como é e de viver sua
condição sexual, racial ou religiosa.
Com acerto, disseram os bispos do mundo inteiro
reunidos em Roma, no Concílio Vaticano II (1962-1965) em um dos mais belos
documentos “Alegria e Esperança” (Gaudium et Spes): ”Cada um respeite o
próximo como “outro eu”, sem excetuar nenhum”(n.27).
Em segundo lugar, o reconhecimento do outro,
implica ver nele um valor em si mesmo, pois ao existir comparece como único e
irrepetível no universo e expressa algo do Ser, daquela Fonte Originária de
energia e de virtualidades ilimitadas de onde todos procedem (a Energia de
Fundo do Universo, a melhor metáfora do que Deus significa). Cada um carrega um
pouco do mistério do mundo, do qual é parte. Por isso entre eu e o outro se
estabelece um limite que não pode ser transgredido: a sacralidade de cada ser
humano, no fundo, de cada ser, pois tudo o que existe e vive, merece existir e
viver.
O budismo que não se apresenta como uma fé mas como
uma sabedoria, ensina respeitar a cada ser, especialmente aquele que sofre (a
compaixão). A sabedoria cotidiana expressa no Feng Shui integra e
respeita todos os elementos, os ventos, as águas, os solos, os vários espaços.
Semelhantemente o hinduísmo prega o respeito como a não-violência ativa (ahimsa)
que encontrou em Gandhi seu arquétipo referencial.
O cristianismo conhece a figura de São Francisco de
Assis que respeitava cada ser, desde a minhoca do caminho, a abelha perdida no
inverno em busca de alimento, a plantinha silvestre que o Papa Francisco em sua
encíclica “sobre o cuidado da Casa Comum ”citando São Francisco, manda
respeitar porque, a seu modo, também louvam a Deus (n.12).
Os bispos, no documento acima referido, alargam o
espaço do respeito afirmando: ”O respeito deve se estender àqueles que em
assuntos sociais, políticos e mesmo religiosos, pensam e agem de maneira
diferente da nossa” (n.28). Como tal apelo é atual para a nossa situação
brasileira, atravessada de intolerância religiosa (invasão de terreiros do
candomblé), intolerância política com apelativos desrespeitosos a pessoas e a
atores sociais ou de outra leitura da realidade histórica.
Temos assistido a cenas de grande falta de respeito
por parte de alunos contra professoras e professores, usando de violência física
além da simbólica com nomes que sequer podemos escrever. Muitos se perguntam:
que mães tiveram aqueles alunos? A pergunta correta é outra: que pais tiveram
eles? Cabe ao pai a missão, por vezes onerosa, de ensinar o respeito, impor
limites e repassar valores pessoais e sociais sem os quais uma sociedade deixa
de ser civilizada.
Atualmente, com o eclipse da figura do pai, surgem
setores de uma sem pai e por isso sem o sentido dos limites e do respeito. A
consequência é o recurso fácil à violência até letal para resolver desavenças
pessoais, como, não raro, se tem visto.
Armar à população como pretende o atual Presidente
além de ser irresponsável, só favorece a falta perigosa de respeito e o aumento
da ruptura de todos os limites.
Por fim, uma das maiores expressões de falta de
respeito é para com a Mãe Terra, com seus ecossitemas super-explorados, com o
espantoso desflorestamento da Amazônia e com a excessiva utilização de
agrotóxicos que envenenam solos, aguas e ares. Essa falta de respeito ecológico
nos poderá surpreender com graves consequências para a vida, a biodiversidade e
o nosso futuro como civilização e como espécie.
Leonardo Boff é eco-teólogo, filósofo e escritor e
escreveu
Como cuidar da Casa Comum, Vozes 2018.
Fonte: leonaroBOFF.com
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