Hoje trago para este espaço uma reflexão bem concreta
e relevante, que tem como pano de fundo o texto bíblico Mt 4, 1-11 (a tentação de Jesus no
deserto). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – ADITAL
28 Fevereiro 2020
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus 4,1-11 que corresponde ao Primeiro
Domingo de Quaresma, ciclo A do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto.
A primeira tentação acontece no “deserto”
Depois de um longo jejum, entregue ao encontro com
Deus, Jesus sente fome. É então quando o tentador lhe sugere agir pensando em
si mesmo e esquecendo o projeto do Pai: “Se és o Filho de Deus, diz que
essas pedras se convertam em pão”. Jesus, desfalecido, mas cheio do
Espírito de Deus, reage: “Não só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que
vem de Deus”. Não viverá a procurar o seu próprio interesse. Não será um
Messias egoísta. Multiplicará o pão quando vir os pobres passarem fome. Ele se
alimentará da Palavra viva de Deus.
Sempre que a Igreja procura o seu próprio
interesse, esquecendo o projeto do Reino de Deus, desvia-se de Jesus. Sempre que os cristãos colocamos o nosso bem-estar antes das
necessidades dos últimos, afastamo-nos de Jesus.
A segunda tentação acontece no “templo”
O tentador propõe a Jesus que faça sua entrada
triunfal na cidade santa, descendo do alto como Messias glorioso. A proteção de
Deus está assegurada. Os seus anjos “cuidarão” dele. Jesus reage rapidamente:
“Não tentará o Senhor, teu Deus”. Não será um Messias triunfador. Não
colocará Deus ao serviço da sua glória. Não fará “sinais do céu”. Apenas sinais
para curar doentes.
Sempre que a Igreja coloca Deus ao serviço de sua
própria glória e “desce do alto” para mostrar sua própria
dignidade, desvia-se de Jesus. Quando os seguidores de Jesus procuram
“parecer bem” em vez de “fazer o bem”, nos afastamos dele.
A terceira tentação acontece numa “montanha
altíssima”
Dela se divisam todos os reinos do mundo. Todos
estão controlados pelo diabo, que faz a Jesus uma oferta assombrosa: lhe dará
todo o poder do mundo. Apenas uma condição: “Se te prostras e me adoras”.
Jesus reage violentamente: “Vai embora, Satanás”.
“Só ao Senhor, teu Deus, adorarás”. Deus não o chama para dominar o mundo como
o imperador de Roma, mas para servir os que vivem oprimidos pelo seu império. Não
será um Messias dominador, mas um servidor. O reino de Deus não se impõe com
poder, oferece-se com amor.
A Igreja tem hoje que afugentar todas as tentações
de poder, glória ou dominação, gritando
com Jesus: “Vai-te, Satanás”. O poder mundano é uma oferta diabólica.
Quando nós, cristãos, o procuramos, afastamo-nos de Jesus.