“Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com
ela, disse-lhe: ‘Não chores!’ ”.
(Lc 11,13)
A reflexão que trago hoje
para o blog Indagações-Zapytania é de autoria do teólogo espanhol José Antônio
Pagola. Ela é muito a atual para os cristãos de hoje. Tem
como pano de fundo o texto bíblico Lucas
7,11-17 (Jesus ressuscita o filho da viúva de Naim).
Foi publicado no site do Instituto Humanitas
Unisinos (IHU).
Não deixe de ler.
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IHU-Notícias
Sexta, 03 de junho de
2016
O
sofrimento deve ser levado a sério
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 7,11-17 que
corresponde ao 10° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Jesus chega a Naim quando na pequena aldeia se está vivendo um
acontecimento muito triste. Jesus vem a caminho, acompanhado dos seus
discípulos e de uma grande multidão. Da aldeia sai um cortejo fúnebre a caminho
do cemitério. Uma mãe viúva, acompanhada pelos seus vizinhos, leva a enterrar o
seu único filho.
Em poucas palavras,
Lucas descreve-nos a trágica situação da mulher. É uma viúva, sem esposo que a cuide e a proteja naquela sociedade
controlada por homens. Ficava-lhe apenas um filho, mas também este acaba
de morrer. A mulher não diz nada. Só chora a sua dor. Que será dela?
O encontro foi
inesperado. Jesus vinha para anunciar também em Naín a Boa Nova de Deus. Qual
será sua reação? Segundo o relato, «o Senhor olhou-a, comoveu-se e disse-lhe:
Não chores». É difícil descrever melhor o Profeta da compaixão de Deus.
Não conhece a mulher,
mas olha-a detidamente. Capta sua
dor e solidão, e comove-se profundamente. O abatimento daquela mulher
chega ao seu interior. Sua reação é imediata: «Não chores». Jesus não pode ver
ninguém chorar. Necessita intervir.
Não pensa duas vezes. Aproxima-se do féretro, detém o enterro
e diz ao morto: «Jovem, a ti te digo, levanta-te». Quando o jovem se
reincorpora e começa a falar, Jesus «entrega-o à sua mãe» para que deixe de
chorar. De novo estão juntos. A mãe
já não estará só.
Tudo parece simples. O relato não insiste no aspecto prodigioso do
que acaba de fazer Jesus. Convida seus leitores a que vejam nele a
revelação de Deus como Mistério de compaixão e Força de vida, capaz de salvar
inclusive da morte. É a compaixão de Deus que faz de Jesus tão sensível ao
sofrimento das pessoas.
Na Igreja temos de recuperar quanto antes a compaixão como o estilo de
vida próprio dos seguidores de Jesus. Temos que resgatá-la de
uma concepção sentimental e moralizante que a desprestigiou. A compaixão que
exige justiça é o grande mandato de Jesus: «Sede compassivos como o vosso Pai é
compassivo».
Esta compaixão é hoje
mais necessária do que nunca. Desde
os centros de poder, tudo é tido em conta antes do sofrimento das vítimas.
Trabalha-se como se não houvesse dores nem perdedores. Das comunidades de Jesus
tem de se escutar um grito de indignação absoluta: o sofrimento dos inocentes
deve ser levado a sério; não pode ser aceito socialmente como algo normal, pois
é inaceitável para Deus. Ele não quer ver ninguém chorando.
Fonte: IHU - Notícias
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