Abaixo, uma pequena reflexão, muito concreta e atual, que tem como pano
de fundo o texto bíblico Lc 16, 19-31 (Parábola
do rico e Lázaro). É de autoria do padre e teólogo espanhol José Antonio
Pagola.
O texto foi publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
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IHU
23
de setembro de 2016.
Não
ignorar o que sofre
A leitura que a Igreja
propõe neste domingo é o Evangelho segundo Lucas 16,19-31 que corresponde ao 26° Domingo do
Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol
José Antonio Pagola comenta o
texto.
Eis o texto
O contraste entre os
dois protagonistas da parábola é trágico. O rico veste-se de púrpura e de
linho. Toda a sua vida é luxo e ostentação. Só pensa em «banquetear
esplendidamente cada dia». Este rico não tem nome pois não tem identidade. Não
é ninguém. A sua vida vazia de compaixão é um fracasso. Não se pode viver só
para banquetear.
Deitado no portal da
sua mansão jaz um mendigo faminto, coberto de chagas. Ninguém o ajuda. Só uns
cães se aproximam a lamber as suas feridas. Não possui nada, mas tem um nome portador de esperança.
Chama-se «Lázaro»
ou «Eliezer»,
que significa«O meu Deus é
ajuda».
A sua sorte muda
radicalmente no momento da morte. O rico é enterrado, seguramente com toda a
solenidade, mas é levado ao «Hades», o «reino
dos mortos». Também morre Lázaro. Nada se diz de rito funerário
algum, mas «os anjos levam-no junto a Abraão». Com imagens populares do seu
tempo, Jesus recorda que Deus tem a última palavra sobre
ricos e pobres.
O rico não é julgado
como explorador. Não se diz que é um ímpio afastado da Aliança. Simplesmente,
desfrutou da sua riqueza ignorando o pobre. Tinha-o ali mesmo, mas não o viu.
Estava no portal da sua mansão, mas não se aproximou dele. Excluiu-o da sua
vida. O seu pecado é a indiferença.
Segundo os
observadores, está a crescer na nossa sociedade a
apatia ou a falta de sensibilidade ante o sofrimento alheio. Evitamos de
mil formas o contato direto com as pessoas que sofrem. Pouco a pouco, vamo-nos
fazendo cada vez mais incapazes para perceber a sua aflição.
A presença de uma
criança mendiga no nosso caminho incomoda-nos. O encontro com um amigo, doente
terminal, perturba-nos. Não sabemos o que fazer nem o que dizer. É melhor tomar
distância. Voltar quanto antes às nossas ocupações. Não nos deixarmos afetar.
Se o sofrimento se
produz longe é mais fácil. Temos aprendido a reduzir a fome, a miséria ou a
doença a dados, números e estatísticas que nos informam da realidade sem sequer
tocar o nosso coração. Também sabemos contemplar sofrimentos horríveis na
televisão, mas, através do monitor, o sofrimento sempre é mais irreal e menos
terrível. Quando o sofrimento afeta alguém mais próximo de nós, esforçamo-nos de
mil formas para anestesiar o nosso coração.
Quem segue Jesus
vai-se fazendo mais sensível ao sofrimento de quem encontra no seu caminho. Aproxima-se do
necessitado e, se está nas suas mãos, trata de aliviar a sua situação.
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