O artigo O persistente bullyng sobre o PT,
Lula e Dilma Rousseff, de Leonardo
Boff, oferece uma preciosa ajuda para quem honestamente procura a entender
o atual momento político no Brasil.
Concordo plenamente com todas as colocações do
autor e por considerar este texto muito oportuno e útil para uma reflexão urgente,
necessária e objetiva que a sociedade brasileira precisa fazer,
trago-o também para o blog Indagações-Zapytania.
Aproveito para parabelizar o Leonardo Boff por
este excelente artigo.
Vale a pena ler e refletir.
WCejnóg
O persistente bullyng sobre
o PT, Lula e Dilma Rousseff
16/09/2016
Por Leonardo Boff
É
notório o bullyng politico e social (acossamento) sofrido persistentemente pelo
PT, pelo Lula e pela ex-presidenta Dilma Rousseff. Uma coisa é reconhecer
que houve corrupção e erros politicos por parte de setores do PT e outra coisa
é tributar quase exclusivamente tais fatos e mais a crise atual, ao
PT a Lula e à ex-presidenta.
Para
entender este penoso fenômeno socorre-nos um dos maiores pensadores da
atualidade que dedicou grande parte de sua obra a decifrar o que seja a
agressividade humana e seus disfarses: René Girard (+2015), francês, professor
de Letras e antropólogo, que viveu nos EUA. Seu principal livro se intitula
exatamente “O bode expiatório” (Le bouc émisaire, Paris 1982).
Constata
Girad que todos os grupos e mesmo as sociedades conhecidas vêm atravessadas por
tensões e conflitos. O processo civilizatorio, a educação, as leis e as
religiões propõem um ponto de equilíbrio que permita a convivência minimamente
pacífica ou impedir que os conflitos não sejam destrutivos.
Mas
pode chegar a um momento em que os conflitos recrudecem e as forças do
Negativo vão se acumulando, rompendo o referido equilíbrio. Começam
os processos de ruptura nas relações sociais e até nas famílias e entre amigos,
rejeições de uns e de outros, distorções na percepção da realidade, difamações,
descontrução da imagem do outro, dando lugar até ao ódio aberto. Os
instrumentos mais usados é a mídia, seja pelos jornais, pela televisão e hoje
pelas redes sociais da internet. É o bullying em funcionamento.
Lentamente
emerge o sentimento de que assim como se encontra a sociedade não
pode continuar. Ela tem que encontrar um novo equilíbrio. Uma das formas, a
mais equivocada e persistente, é a criação de um bode expiatório. Os grupos
mais dominantes definem um bode expiatório e praticam terrível
bullyng sobre ele, para descarregar todas as forças do Negativo. Esse bode
expiatório varia consoante as circunstâncias históricas: podem ser os
comunistas, os sem-terra, os pobres que ascenderam socialmente, os terroristas,
os muçulmanos, as esquerdas que querem mudanças estruturais e outros.
No
nosso caso, o bode expiatório escolhido foi e continua sendo, o PT e
pessoalmente a ex-presidente Dilma Rousseff, incluindo o ex-presidente Lula.
Ele cumpre uma dupla função: uma de aplacar e outra de ocultar. Toda
a raiva e o ódio acumulado são lançados sobre o bode expiatório. Ele carrega
todas as maldades e é feito responsável por todos os desmandos ocorridos e pela
crise econômico-financeira. Esquecidos ficam, consciente ou inconscientemente, todos
os acertos, em especial, a maior transformação social pacífica feita em nosso
país, que implicou na diminuição de nossa maior vergonha, a desigualdade social
e, positivamente, a integração de cerca de 40 milhões, sempre considerados peso
morto da história. Para o efeito da construção do bode expiatório tudo isso não
conta, caso contrario não se cumpriria a função do bode expiatório de aplacar a
fúria coletiva. Desta forma, todos se sentem livres desta praga, se possível, a
ser extermianda. É a função de aplacar a carga negativa jogada
sobre a vítima.
Mas
há uma outra função, de ocultar. Ao colocar toda culpa e todos os males sobre
PT, Lula e a ex-presidenta, feitos bodes expiatórios, esses grupos dominantes
ocultam sua própria perversidade e sua culpa. Apresentam-se, farisaicamente,
como paladinos da moralidade e tomados de indignação contra a corrupção. No
entanto, a bem da verdade, exatamente dentre esses grupos dominantes se
encontram os maiores corruptos, corruptores e sonegadores de impostos, no estilo
da FIESP, esteio do impeachment, aquela que mais sonega impostos, na ordem de
bilhões, como o tem denunciado o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda
Nacional, sem ainda referir os cerca de 600 bilhões de reais de brasileiros,
mantidos no exterior em paraísos fiscais e em offshores.
A
Bíblia conhece também as figura do bode expiatório, sobre o qual a comunidade
colocava todas as ofensas a Javé e o levava para o deserto para lá morrer. O
mesmo faziam os gregos, chamando o bode expiatório, uma pessoa ou animal,
de phármacon que como um remédio farmacêutico purificava a
sociedade de seus desacertos. O cristianismo ve na figura do cordeiro imolado,
aquele que vicariamente tira os pecados do mundo, como se reza por
três vezes na missa. O efeito é sempre o mesmo: aplacar a sociedade para que,
refeita, possa equilibrar seus conflitos até que estes se agravem novamente e
acabem por criar algum outro bode expiatório.
Pois
assim funciona canhestramente a nossa história sacrificialista. Gerard vê uma
saída sensata: na coordenação dos interesses ao redor do bem comum, na total
transparência e da inclusão de todos, sem sacrificar ninguém. Mas reconhece que
este não é o caminho seguido pela maioria das sociedades conhecidas. O mais
fácil é criar bodes expiatórios como se pratica atualmente no
Brasil. Para a infelicidade geral.
Leonardo
Boff é teólogo e filósofo, articulista do JB on line.
Fonte: blog leonardoBOFF.com
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