« Do mesmo modo, portanto, qualquer um de vós, se não renunciar a tudo o que tem, não pode ser meu discípulo!”.» (Lc 14,33)
Abaixo, uma reflexão muito concreta e atual que tem como pano de fundo o
texto bíblico Lc 14, 25-33 (Jesus instrui os discípulos). É de
autoria do teólogo espanhol José Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale a pena ler!
WCejnóg
IHU – Comentário do Evangelho
02 Setembro 2016
Realismo
responsável
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho segundo Lucas 14,25-33 que corresponde ào 23° Domingo do Tempo Comum,
ciclo C do Ano Litúrgico.
O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta
o texto.
Eis o texto
Os exemplos utilizados por Jesus são muito
diferentes, mas os seus ensinamentos são os mesmos: quem empreende um projeto
importante de forma temerária, sem avaliar antes os meios e forças para
alcançar o que pretende, corre o risco de acabar fracassando.
Nenhum lavrador começa a construir uma torre para
proteger suas vinhas, sem antes ter tido tempo para calcular se a poderá
concluir com êxito, para que a obra não fique inacabada, provocando o escárnio
dos vizinhos. Nenhum rei decide entrar em combate com um adversário poderoso,
sem antes analisar se aquela batalha pode terminar em vitória ou será um
suicídio.
À primeira vista, pode parecer que Jesus convida
para um comportamento prudente e precavido, muito afastado da audácia com que
fala habitualmente aos seus. Nada mais afastado da realidade. A missão que quer
encomendar aos seus é tão importante que ninguém deve comprometer-se nela de
forma inconsciente, temerária ou presunçosa.
Sua advertência ganha grande atualidade nestes
momentos críticos e decisivos para o futuro da nossa fé. Jesus chama,
em primeiro lugar, a uma reflexão madura: os dois protagonistas das parábolas
«sentam-se» para refletir. Seria uma grave irresponsabilidade viver hoje como
discípulos de Jesus, que não sabem o que querem, nem onde pretendem chegar, nem
com que meios devem trabalhar.
Quando iremos sentar para juntar forças, refletir
juntos e procurar entre todos o caminho que temos de seguir? Não necessitaremos
dedicar mais tempo, mais escuta do evangelho e mais meditação para descobrir
chamadas, despertar carismas e cultivar um estilo renovado de quem segue Jesus?
Jesus chama também ao realismo. Estamos vivendo uma mudança sociocultural sem precedentes. Será
possível contagiar a fé neste mundo novo que está nascendo, sem o conhecer bem
e sem o compreender por dentro? Será possível facilitar o acesso ao Evangelho
ignorando o pensamento, os sentimentos e a linguagem dos homens e mulheres do
nosso tempo? Não será um erro responder aos desafios de hoje com estratégias de antigamente?
Seria uma temeridade nestes momentos atuar de forma
inconsciente e cega. Nos expomos ao fracasso, à frustração e até ao
ridículo. Segundo a parábola, a «torre inacabada» só serve para provocar o
escárnio das pessoas para com o construtor. Não devemos esquecer a linguagem
realista e humilde de Jesus que convida os seus discípulos a ser «fermento» no
meio do povo ou
punhado de «sal» que dá sabor novo à vida das pessoas.
punhado de «sal» que dá sabor novo à vida das pessoas.
Fonte:
IHU-Comentário ao Evangelho
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