O comentário que trago
hoje para o blog Indagações, de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antônio Pagola, é muito oportuno e bem atual. Tem como pano de fundo o texto bíblico Lc 15, 1- 32 (parábola do filho pródigo).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler e refletir.
WCejnog
REVISTA IHU ON-LINE
09 Setembro 2016
Uma
parábola para os nossos dias
A leitura
que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Lucas 15,1-32
que corresponde ao 24° Domingo do Tempo Comum, ciclo C do Ano Litúrgico. O
teólogo espanho José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o
texto
Em nenhuma
outra parábola quis Jesus fazer-nos penetrar tão profundamente no mistério de
Deus e no mistério da condição humana. Nenhuma outra é tão atual para nós como
esta do “Pai bom”.
O filho mais
novo diz ao seu pai: “Pai me dá a parte da herança que me cabe”. Ao reclamar,
está a pedir de alguma forma a morte do seu pai. Quer ser
livre, romper obrigações. Não será feliz até que o seu pai desapareça. O pai
acede ao seu desejo sem dizer palavra: o filho tem que escolher livremente o
seu caminho.
Não é esta a
situação atual? Muitos querem hoje ver-se livres de Deus, ser
felizes sem a presença de um Pai eterno no seu horizonte. Deus deve desaparecer
da sociedade e das consciências. E, o mesmo que na parábola, o Pai guarda
silêncio. Deus não condiciona ninguém.
O filho
parte para “um pais longínquo”. Necessita viver noutro país, longe do seu pai e
da sua família. O pai vê-o partir, mas não o abandona; o seu
coração de pai acompanha-o; em cada manhã o estará esperando. A sociedade
moderna afasta-se mais e mais de Deus, da Sua autoridade, da sua memória... Não
estará Deus acompanhando-nos enquanto o vamos perdendo de vista?
Prontamente
se instala o filho numa “vida desenfreada”. O termo original não sugere apenas
uma desordem moral, mas também uma existência insana, demente, caótica. Ao fim
de pouco tempo, a sua aventura começa a converter-se em drama. Vem
uma “grande fome” e só consegue sobreviver tratando de porcos como escravo de
um desconhecido. As suas palavras revelam a sua tragédia: “Eu aqui morrendo de
fome”.
O vazio
interior e a fome de amor podem ser os primeiros sinais do
nosso afastamento de Deus. Não é fácil o caminho da liberdade. Que nos falta? O
que poderia encher o nosso coração? Temos quase tudo, por que sentimos tanta
fome?
O jovem
“entrou dentro de si mesmo” e, afundado no seu próprio vazio, recordou o rosto
do seu pai associado à abundância de pão: em casa do meu pai “tem pão” e aqui
“eu morro de fome”. No seu interior desperta-se o desejo de uma
liberdade nova junto do seu pai. Reconhece o seu erro e toma uma
decisão: “Vou me levantar, e voltarei ao pai”.
Iremos
pôr-nos a caminho em direção a Deus nosso Pai? Muitos o fariam se
conhecessem esse Deus que, segundo a parábola de Jesus, “Saiu
correndo, o abraçou, e o cobriu de beijos”. Esses abraços e beijos falam do seu
amor, melhor que todos os livros de teologia. Junto a Ele poderíamos encontrar
uma liberdade mais digna e ditosa.
Fonte:
IHU Revista On-line
Nenhum comentário:
Postar um comentário