Hoje, uma
boa reflexão, muito concreta e atual. Pode ajudar muito a quem realmente
gostaria de entender o texto bíblico Mc 3, 20-35 (Jesus é acusado pelos
escribas de ‘estar fora de si’, de ’estar possesso de Belzebeu’, e por isso consegue
expulsar os demônios e curar as pessoas...). É de autoria do padre e teólogo espanhol José
Antonio Pagola.
O texto foi publicado na no site
do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Não deixe de ler!
WCejnóg
IHU - ADITAL
08 junho 2018.
O que é mais são?
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 3, 20-35 que
corresponde ao 10° Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo
espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A cultura moderna exalta o valor da saúde física e
mental, e dedica todo um conjunto de esforços para prevenir e combater as
doenças. Mas, ao mesmo tempo, estamos construindo, entre todos, uma
sociedade onde não é fácil viver de forma sã.
Nunca esteve a vida tão ameaçada pelo desequilíbrio
ecológico, a contaminação, o estresse ou a depressão. Por outra parte, temos
fomentado um estilo de vida onde a falta de sentido, a carência de valores,
certo tipo de consumismo, a banalização do sexo, a falta de comunicação e
tantas outras frustrações impedem as pessoas de crescer de forma sã.
Já Sigmund
Freud, na sua obra O mal-estar na civilização, considerou
a possibilidade de que uma sociedade esteja doente no seu conjunto e possa
padecer de neuroses coletivas das quais talvez poucos indivíduos
estejam conscientes. Pode inclusive acontecer que dentro de uma sociedade
doente se considerem precisamente doentes aqueles que estão mais sãos.
Algo disso acontece com Jesus, cujos familiares
pensam que «não está no seu juízo», enquanto os letrados vindos de Jerusalém
consideram que ele «tem dentro Belzebu».
Em qualquer caso, temos de afirmar que uma
sociedade é sã na medida em que favorece o desenvolvimento são das pessoas.
Quando, pelo contrário, as conduz ao seu esvaziamento interior, à fragmentação,
à dissolução como seres humanos, deve-se dizer que essa sociedade é, pelo menos
em parte, patogênica.
Por isso devemos ser suficientemente lúcidos para
nos perguntarmos se não estamos caindo em neuroses coletivas e condutas pouco
sãs sem estarmos conscientes disso.
O que é mais são, deixar-nos arrastar por uma vida
de conforto, comodidade e excesso que provoca letargia no espírito e diminui a
criatividade das pessoas ou viver de modo sóbrio e moderado, sem cair na «patologia
da abundância»?
O que é mais são, continuar a funcionar como
«objetos» que giram pela vida sem sentido, reduzindo-a a um «sistema de
desejos e satisfações», ou construir a existência dia a dia, dando-lhe um
sentido último a partir da fé? Não esqueçamos que Carl G. Jung ousou
considerar a neurose como «o sofrimento da alma que não encontrou o seu
sentido».
O que é mais são, encher a vida de coisas, produtos
da moda, vestidos, bebidas, revistas e televisão ou cuidar das necessidades
mais profundas e cativantes do ser humano na relação do casal, no lar e na
convivência social?
O que é mais são, reprimir a dimensão religiosa
esvaziando de transcendência a nossa vida ou viver a partir de uma atitude de
confiança nesse Deus «amigo da vida» que só quer e busca a
plenitude do ser humano?
Fonte: IHU - Comentário do Evangelho
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