“E ele, despertando, repreendeu o vento, e disse ao mar: Cala-te,
aquieta-te. E o vento se aquietou, e houve grande bonança. E disse-lhes: Por
que sois tão tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram um grande temor, e diziam
uns aos outros: Mas quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mc 4,
39-41)
A reflexão que trago hoje para o blog
Indagações-Zapytania, do padre e teólogo espanhol José Antônio Pagola, é muito atual
e concreta. Tem como
pano de fundo o texto bíblico Mc 4, 35-41 (Jesus acalma uma tempestade).
Foi
publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos (IHU).
Vale
a pena ler.
WCejnóg
IHU – ADITAL
Por que tanto medo?
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o
Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 4, 35-41 que corresponde ao 12°
Domingo do Tempo Comum, ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José
Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
A barca em que vai Jesus e os Seus discípulos vê-se
presa por uma daquelas tormentas imprevistas e furiosas que se levantam no lago
da Galileia ao entardecer de alguns dias de calor. Marcos descreve o
episódio para despertar a fé das comunidades cristãs, que vivem
momentos difíceis.
O relato não é uma história tranquilizadora para
consolar a nós cristãos de hoje com a promessa de uma proteção divina que
permita à Igreja passear tranquila através da história. É a chamada decisiva de
Jesus para fazer com Ele a travessia em tempos difíceis: «Por que sois tão
covardes?”. Ainda não tendes fé?».
Marcos prepara a cena desde o início. Diz-nos que
era «ao cair da tarde». Rapidamente caíram as trevas da noite sobre o lago. É
Jesus quem toma a iniciativa daquela estranha travessia: «Vamos para a
outra margem». A expressão não é nada inocente. Convida-os a passar juntos,
na mesma barca, para outro mundo, mais além do conhecido: a região pagã da
Decápolis.
De repente levanta-se uma forte tormenta, e as
ondas batem contra a frágil embarcação, inundando-a. A cena é patética: na
parte dianteira, os discípulos lutando impotentes contra a tempestade; na popa,
num lugar mais elevado, Jesus dormindo tranquilamente sobre uma cabeceira.
Aterrorizados, os discípulos despertam Jesus. Não
captam a confiança de Jesus no Pai. A única coisa que veem Nele é uma incrível
falta de interesse por eles. Estão cheios de medo e nervosismo: «Mestre,
não te importa que pereçamos?».
Jesus não se justifica. Coloca-se de pé e pronuncia
uma espécie de exorcismo: o vento cessa de rugir e faz-se uma grande calma.
Jesus aproveita essa paz e silêncio grandes para fazer-lhes duas perguntas que
hoje chegam até nós: «Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?».
O que está acontecendo com nós cristãos? Por que são tantos os nossos medos para afrontar este tempo
crucial e tão pouca a nossa confiança em Jesus? Não é o medo de afundar que nos
está bloqueando? Não é a busca cega de segurança que nos impede de fazer uma
leitura mais lúcida, responsável e confiada destes tempos?
Por que resistimos a ver que Deus está conduzindo a
Igreja até um futuro mais fiel a Jesus e ao Seu Evangelho? Por que procuramos segurança no conhecido e estabelecido no
passado, e não escutamos a chamada de Jesus a «passar para a outra margem» para
semear humildemente a Sua Boa Nova num mundo indiferente a Deus, mas tão
necessitado de esperança?
Fonte: IHU - Comentário do Evangelho
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