Ano
Novo 2020
O
texto que hoje trago para o blog Indagações-Zapytania é de autoria do Frei
Almir Guimarães, OFM. Foi publicado no blog das Comunidades.
Considero
todas as colocações do autor de grande valor para qualquer pessoa que anseia
pelo mundo mais justo e humano para todos. Também – penso eu – essas reflexões servem
como um singelo convite para uma boa reflexão.
Vale a
pena ler!
WCejnog
30/12/2019
Frei Almir Guimarães*
Quanto a Maria, guardava todos esses fatos
e meditava sobre eles em seu coração (Lucas 2, 19)
e meditava sobre eles em seu coração (Lucas 2, 19)
♦ Tudo começa de novo. Ano da graça de 2020.
Até aqui chegamos com a graça do Senhor. Solenidade da Mãe de Deus. Ano novo. Dia mundial da Paz. Maria está a nos dizer que, como ela, precisamos levar tudo ao fundo do coração, refletir e meditar naquilo que podemos fazer para que o tempo da
nossa vida seja luminoso e radiante.
♦ Tudo passa velozmente. O dia, é claro, continua tendo vinte e quatro horas e o ano doze meses. Temos,
no entanto, a sensação de que tudo voa, que a terra
gira mais depressa, que esquecemos de corrigir nossos relógios, que não
acompanham tão louca velocidade. Tempo cronológico e tempo interior. Ficamos
mais velhos fisicamente. Será que conseguimos conservar ou renovar um vigor e
um viço interiores? O que nos faz viver? Temos projetos que possam fazer-nos
pessoas animadas e desejosas de desbravar caminhos novos? Estamos nos
santificando no tempo que voa sem pedir licença?
♦ O tempo não existe, existe a vida. Existe um antes e um depois. Nesse antes e
depois ocorre tudo e tudo transcorre. No correr do fluir do tempo as sementes
brotam, as plantas crescem, as flores aparecem. Nesse correr do tempo a criança
deixa o ventre da mãe, precisa de leite, começa a andar, frequenta os estudos,
fica jovem, torna-se adulta, casa, tem filhos, vende peixe no mercado, tem
saúde ou é visitada pela doença, vai envelhecendo e termina seus dias. E passou
pela vida ou simplesmente passou a vida.
♦ O fundamental é sempre a vida. Nesse espaço do existir vamos nos tornando mais ou menos gente. Aproveitamos o
tempo para dar um tom de dignidade ao nosso existir. Se a vida não transbordar
não é vida. Parece importante que sejamos pessoas de dom. Não conservaremos
para nós os tesouros de nosso interior que nos foram regalados. Precisamos
viver densa e dadivosamente. Há alguma coisa a nos alertar que a vida é troca
de dons.
♦ Viver bem é viver em profundidade. Não se deixar levar de roldão. Ser autor da própria história. “Passamos pelas coisas sem as
habitar, falamos com os outros sem os ouvir, juntamos informações que nunca
chegamos a aprofundar. Tudo transita num galope ruidoso, veemente e efêmero. Na
verdade, a velocidade com que vivemos impede-nos de viver. Uma alternativa será
resgatar a nossa relação com o tempo. Por tentativas, por pequenos passos. Ora,
isso não acontece sem um abrandamento interior. Precisamente porque a pressão
de decidir é enorme, necessitamos de uma lentidão que nos proteja das
precipitações mecânicas, dos gestos cegamente compulsivos, das palavras
repetidas e banais. Precisamente porque nos temos de desdobrar e multiplicar,
reaprender o inteiro, o intacto, o concentrado, o atento, o uno” (Tolentino,
Libertar o tempo, Paulinas, p.20-21).
♦ Trata-se de ver além daquilo que a vista nos permite enxergar. Ver a presença da beleza
naquilo que nos cerca, contemplar essa criança que dorme junto ao peito do pai,
a beleza das flores, admiração diante da água que desce na cascata, encantar-se
com o colorido das asas da borboleta, com a graça da menina moça, o charme do
rapazinho que sente ser homem, da senhora bem idosa, caminhando de bengala nas
alamedas do parque. Vida feliz de quem tem prazer em ver a vida borbulhar. Nada
de precipitações mecânicas. Parar, pensar, refletir, rezar para que os gestos e
palavras que colocamos tenham densidade humana e cristã.
♦ Propósitos para o ano novo? Viver, deixar que a vida penetre em nós, conviver com calma, sentar-se, escutar, ver as rugas no rosto dos
amigos, deixar de girar em torno de si mesmo, limpar o coração de tranqueiras, parar, pensar e organizar o tempo para querer bem e
colocar gestos gratuitos. Os momentos culminantes de uma existência foram
aqueles em que somos generosos e desinteressados.
♦ “Em nossa civilização do possuir quase nada é gratuito. Tudo é intercambiado, emprestado,
devido ou exigido. Ninguém acredita que é melhor dar do que receber. Só sabemos
prestar serviços remunerados e “cobrar juros” por tudo o que fazemos ao longo
da vida (…). Só na entrega desinteressada pode-se saborear o verdadeiro amor, a
alegria, a solidariedade, a confiança mútua. Gregório Nazianzeno diz que Deus
fez o homem cantor de sua irradiação e, certamente nunca o homem é tão grande
quando sabe irradiar amor gratuito e desinteressado” (Pagola, Lucas, p. 245).
♦ Comemoramos hoje a solenidade da
Santa Mãe de Deus, ela que nos trouxe
nossa esperança, ela que é Mãe de Deus feito homem. Ela é aquela que viveu sem tempos mortos porque não conheceu a divisão do pecado. Mulher que levava
tudo ao fundo do coração. Mulher do sim irrestrito.
Fonte de vida. Mãe de Deus e nossa mãe.
Que bela
a benção do Livro dos Números:
O Senhor
te abençoe e te guarde!
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti.
O Senhor volte o seu rosto para ti e te dê a paz!
O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e se compadeça de ti.
O Senhor volte o seu rosto para ti e te dê a paz!
Tema da
Paz
Se para
ti, o outro é antes de tudo um irmão,
se a cólera for para ti uma fraqueza e não uma prova de força,
se preferes ter prejuízo do que lesar alguém,
se negas a dizer que depois de ti só virão catástrofes,
se te colocas ao lado do pobre e do oprimido sem a pretensão de ser herói,
se crês que o amor e a única forma de dissuasão,
se crês que a paz seja possível… então a paz poderá vir.
(Pierre Guibert)
se a cólera for para ti uma fraqueza e não uma prova de força,
se preferes ter prejuízo do que lesar alguém,
se negas a dizer que depois de ti só virão catástrofes,
se te colocas ao lado do pobre e do oprimido sem a pretensão de ser herói,
se crês que o amor e a única forma de dissuasão,
se crês que a paz seja possível… então a paz poderá vir.
(Pierre Guibert)
FREI
ALMIR GUIMARÃES, OFM, ingressou
na Ordem Franciscana em 1958. Estudou catequese e pastoral no Institut
Catholique de Paris, a partir de 1966, período em que fez licenciatura em
Teologia. Em 1974, voltou a Paris para se doutorar em Teologia. Tem diversas
obras sobre espiritualidade, sobretudo na área da Pastoral familiar. É o editor
da Revista “Grande Sinal”.
Fonte:
franciscanos.org.br
Fonte: Blog das Comunidades